O irmão da minha melhor amiga

Amor?

Aquele papo todo de se amar e saber viver em sua própria companhia era uma grande mentira. Olhei para o espelho, me sentindo muito hipócrita por estar sofrendo por um cara idiota como aquele.

Sempre achei a princesa Merida a mais forte das princesas, pois, não se apaixonar por algum garoto idiota, era a coisa mais difícil do mundo. Não importava o quão idiota os meninos tivessem sido, o quão você tivesse sofrido e o quão você tivesse se dilacerado por coisas que não eram culpa sua, você sim, irá cair na lábia de algum que se diz "diferente dos outros".

O discurso de "Kate, eu não sou como os outros meninos" era verdade até certo ponto, porque depois... foi até pior. Mas era assim, né? Eles entravam, diziam que não iriam nos machucar, depois destroçavam o resto de dignidade que ainda tínhamos.

Estava pensativa sobre isso, e minha mente ainda teimava em defender ele. O jeito com que ele me tratava...

Entrei na sala de aula, estava fervendo de raiva, a professora de filosofia me olhou e parou a aula pra eu poder me acomodar.

— Como eu estava dizendo, o mundo sensível é aquele que podemos...

Eu realmente não estava querendo prestar a atenção, minha mente estava de luto pelo meu coração.

— Vai fazer comigo o trabalho? — Agnes perguntou.

— Que trabalho? — franzi a sobrancelha.

— Ela acabou de falar, Kate. Em que mundo você tá?

— Sobre o que é? — ignorei sua pergunta.

— Sobre os sentimentos, não ouviu? É pra gente fazer uma análise filosófica... alguma coisa desse gênero. Você pegou amor.

— Bom, vai ter que fazer o trabalho sozinha, já que é a única que foi amada até agora de nós duas. — bufei.

— É individual, pensei que podíamos passar um tempo juntas. Você está visivelmente acabada. — Agnes segurou minha mão.

— Seria bom. Mas já adianto que não estou com cabeça pra fazer o meu trabalho, se você quiser ajuda com o seu... qual você pegou, mesmo? — perguntei.

— Mágoa.

— Você não quer trocar, não? Eu super vou me dar bem com esse assunto. Não existe uma única pessoa na terra que eu não  tenha mágoa, tirando você.

— Ai, que horror! Libera esse coração, é por isso que tá com essa cara de acabada. Guardar mágoa das pessoas não faz bem.

— Eu chamo isso de escudo de proteção. Se eu esquecer que aquela pessoa me magoou, ela vai me magoar de novo. É uma ótima tática pra não ser trouxa.

Eu deveria ganhar uma coroa de cristais "A MAIOR TROUXA DO ROLÊ".

— Como você é teimosa, eu não vou nem entrar nessa discussão com você.

Olhei para ela com cara de tédio. Odiava o fato de estar de mau humor.

— Eu não quero ser dramática, Agnes. Sei que tem maiores problemas no mundo e que o meu é só um grão e areia... — mas não deixa de doer, quis completar.

— Tá, o mundo tá todo cheio de problemas sociais, sim. Só que, Kate, se algo te incomoda, e se faz sua alma arder, então não é drama. Óbvio, não é querer fazer comparação da sua dor com, sei lá, uma mãe que perdeu um filho. Mas é a sua dor. Só você sente, só você sabe a intensidade. Não coloque esse peso em cima e você. — ela segurou minha mão.

Odiava ter que esconder as coisas de Agnes, mas era uma situação completamente injusta. Era o irmão dela! Quer dizer, eu amava falar mal dos meus irmãos, mas Agnes... ela não faria isso.

Resolvi que, por hora, o silencio era a melhor opção.