Muito ruim

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Quando acordei no outro dia, tudo estava silencioso. Duda estava em sua cama improvisada, acordada com a mão na boca. Estava tudo tão estranho, pois geralmente essa hora, o Alissom está fazendo barulho com as panelas.

Saí do meu quarto, na ponta dos pés, e cheguei até a sala. Nenhum sinal dele, nem na cozinha.
Entrei no quarto da Agnes para perguntar sobre ele, e ela estava de pé observando-o na cama dela.

—  Ele tá bem? —  perguntei, pois ele estava coberto até o pescoço, e fazia calor.

— Provavelmente tá com febre. —  ela virou para mim —  O que vocês fizeram ontem à noite para ele estar doente?

Dançamos na chuva, aí ele me beijou.

— Pegamos um pouco de chuva. —  Agnes não precisava saber que eu havia beijado o irmão dela novamente, pois com certeza criaria mais expectativas do que eu. Ela sempre quis que ficássemos juntos.

—  Ah, entendi.

— Você vai acordar ele? — perguntei.

—  Ele vai acordar sozinho daqui uns cinco minutos.

Fui até o banheiro pegar o termômetro, quando voltei ele estava resmungando.

— É só um resfriado, Agnes! Para de dramatizar tudo. —  sua voz estava rouca.

—  Se você quiser morrer, tudo bem, mas a gente não tem dinheiro pra te enterrar, então vamos te jogar numa vala. —  Agnes disse.

Apareci na porta e Alissom me olhou. Suas bochechas ficaram vermelhas e tenho certeza de que as minhas também.

— Tá bom, eu tomo o remédio. —  ele disse, e se ajeitou na cama.

Agnes saiu.

— Você não vai tomar o remédio, vai?—  perguntei.

—  Não. Eu estou bem, não preciso de remédio.

—  Então por que fez ela sair do quarto? —  sentei na ponta da cama.

—  Pra falar com você, sobre ontem.

—  Claro. Eu adorei o jantar. —  falei, eu sabia que não era sobre isso — Agora coloca o termômetro pra eu provar que você tá errado.

—  Kate, eu te beijei. —  ele segurou minha mão quando fui colocar o termômetro em seu braço.

Um calor percorreu meu corpo quando sua mão tocou a minha. Ele me olhou nos olhos, como costumava a fazer quando queria falar sério.

— Tá, você me beijou. E daí? —  perguntei, e ele não soltou minha mão.

— E daí? Kate, você não sentiu nada? — sua voz parecia magoada.

—  Faz diferença pra você?

—  Eu não tenho mais quinze anos, Kate. Não beijei você por beijar, não sou mais assim.

— Kate, você só tem remédio pra dor de cabeça! Que tipo de pessoa não compra remédios? —  Agnes falou, entrando no quarto, ele soltou minha mão.

— Eu vou ver a Duda. — falei saindo, mas parei na porta e me virei  —  Alissom, toma o remédio.

— Tá.

Peguei Duda no colo e a coloquei no carrinho. Fiz sua mamadeira e escutei algumas risadas vindas do quarto. Medo.

—  O que vocês estão aprontando? — perguntei, entrando no quarto.

— Que fotos são essas, Kate? —  Alissom perguntou, ele estava mexendo em meu computador.


— Amiga, olha a gente aqui! Bem pequenininhas. —  Agnes apontou para a foto que estávamos no balé.

—  Nossa, olha a minha cara de neném.

— Só a cara mesmo, porque eu me lembro que nesse dia eu levei um soco seu. —  Alissom disse.

— Você puxou meu cabelo! Eu não gostava de você.

—  Então quer dizer que agora gosta? — ele levantou a sobrancelha.

—  Quer dizer que agora, se você me irritar, eu corto sua garganta.

—  Agnes, como você é amiga dessa pessoa?

—  Eu sou maravilhosa! —  mexi no cabelo.

Alissom mudou a foto no computador, e apareceu a foto dos pais deles no meu aniversário de quinze anos.

— Sinto saudade deles. —  Agnes falou.

— Eu também. —  Alissom a abraçou.

Era um momento de melancolia, eu não me sentia no direiro de estar ali, então eu saí. Às vezes quando eu estava sozinha em casa, pensava em como eu podia ser tão egoísta a ponto de não perceber que ao me mudar, perdi quase todo o contato que tinha com os meus pais. Enquanto eles de fariam tudo para trazê -los de volta, eu estava fazendo de tudo para afastar os meus pais de perto de mim.

Olhei para trás um instante, em tempo de ver o vulto de Agnes correndo para fora de casa. Alissom desceu logo atrás.

— O que aconteceu? —  corri junto com ele, com Duda no colo.

—  Droga! Ela desceu a escada! —  Ele gritou.

—  Se a gente pegar o elevador, chegamos primeiro que ela.

—  Tá.

Descemos até a portaria e ela não estava lá ainda. Esperamos uns dois minutos, não era pra demorar tanto.

— Ela não viria pra cá... Ela foi pegar o meu carro! —  ele correu para as escadas descendo até o estacionamento.

— Mas o que aconteceu? —  perguntei novamemte.

—  Algo ruim, Kate. —  ele me olhou —  Algo muito ruim.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora