O irmão da minha melhor amiga

Bilhete

Alissom Bittencourt

Eu não deveria ter dormido tão tarde, muito menos chorado a noite inteira. Se não fosse isso, eu teria acordado antes de ela ir, teria me despedido. Tavez eu tivesse dito... tivesse dito que amava.

Mas, infelizmente, não consegui dizer, pois ela se foi, sem se despedir. Só deixou um bilhete em cima da mesa, e ele me deixou muito aliviado, principalmente porque ela prometeu que voltaria para mim.

Eu não sou de fazer promessas, mas agora estou fazendo. Eu voltar, pra você e para a Duda.

               Com amor, Kate.

Significava algo, não?

Lá estava eu, sozinho no apartamento, ouvindo o choro desesperado de Duda. Quem estava desesperado mesmo, era eu, mas Kate havia pensado em tudo. Mandou Agnes para me salvar, graças a Deus.

— Não, meu amor, não precisa chorar. Eu sei, eu sei, a sua mãe não está aqui, mas a titia está. — Agnes dizia para Duda, enquanto a guela da menina se abria mais.

— Agnes, ela tá ficando mais irritada. — falei.

— Eu tô vendo! Como que a Kate faz isso? — Agnes me entregou o pacotinho de berros.

— Duda, olha só, você não pode chorar. A mamãe vai voltar, ela prometeu pra mim. — tentei, mas seu choro só aumentava.

— O que a gente faz? — Agnes perguntou.

— A mamadeira, pega ela pra mim.

Isso a acalmou um pouco, e também quando a coloquei deitada no travesseiro de Kate. Óbvio, com o cheiro da mamãe, quem não se acalmaria. Eu também gostaria de deitar e sentir o cheiro dela o dia inteiro, mas eu tinha que trabalhar.

Kate Almeida

— E esse aqui é o seu quarto, essas são suas colegas. Pérola, Janaína, Lorena e Vívian. — a menina apontou para as outras.

— Vitória, eu já não te falei pra não chegar perto do nosso quarto? Quer que eu arranque esse teu aplique de novo? — Vívian disse.

— A diretora mandou eu...

— A diretora não manda em mim, nem no meu quarto. Agora sai daqui! — Vívian jogou um travesseiro nela.

— Não tem medo da diretora? — perguntei.

— Óbvio que eu tenho! Mas ela não precisa saber.

— Entendi.

— Diz aí, qual seu nome?

— Katlyne, mas pode me chamar de Kate.

— Mas que nome fino, hein! — Pérola disse.

— É, só o nome mesmo. Eu conheço uma maluca quando vejo uma. Você é das minhas! — Vívian disse.

— Bom, já que todaa já sabem o meu nome, eu vou pedir uma coisa.

— Manda aí. —  Lorena finalmente abriu a boca.

—  Eu preciso da ajuda de vocês pra sair desse lugar. Tem pessoas importantes esperando por mim, não posso falhar com elas, então eu peço, por favor, me ajudem a sair daqui. —  falei.

— É, vai ser divertido. Todas de acordo? —  Vívian perguntou, todas concordaram.

—  Qual é o plano? —  perguntei.

—  Seguinte: você vai precisar ficar, pelo menos, uma semana, pra todo mundo se familiarizar com você. E com "familarizar" eu quis dizer, que todo mundo tem que saber que você é encrenca, entendeu? —  Vívian começou.

— Entendi. O que mais? —  falei.

— Depois, os próprios alunos vão começar a reclamar de você para a diretora, ou seja, ela não vai ter outra opção a não ser te expulsar. Fácil, como tirar doce de criança. —  Pérola continuou.

— Agora, a Kate vai prometer que trará doces escondidos pro nosso quarto, pra sabermos que ela é do nosso grupo. —  Vívian disse.

—  Mas eu pensei que eles eram proibidos.

— E são, mas a nossa cozinheira tem vários deles guardados no armário dela. —  Lorena se levantou da cama.

— Me mostrem onde fica o paraíso, meninas. —  falei.

Até que essa escola não é tão ruim assim.