Prólogo

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Lembro-me muitíssimo bem do dia em que vi Agnes pela primeira vez. Eu estava na carona do caminhão do meu avô, com toda a nossa mudança na caçamba. Eu tinha ficado muito surpresa por toda nossa vida ter sido resumida em um único caminhão e algumas malas no carro de trás, que meu pai dirigia levando o resto da família.

— Tá nervosa? — meu avô, Marco, perguntou quando viu que a última parte da viagem havia ficado silenciosa.

— Com o quê? — perguntei de volta, olhando o movimento dos carros pela janela.

— Sei lá. Cidade nova, amigos novos.

— Não tenho medo de nada vô. — resmunguei. Mas na verdade eu estava apavorada.

Para a maioria dos adultos, talvez, haviam outros medos e inseguranças acerca de uma mudança. Mas para uma criança de oito anos tudo se resumia em: será que eu vou conseguir fazer amigos? Será que vão gostar de mim?

— É claro que não. Você é uma menina forte. — disse ele, mas eu sabia que até ele sabia que não era tão verdade.

Assim que dobramos a esquina, a casa gigantesca entrou no meu campo de visão. Era amarela com dois andares, uma porta cor de rosa e muitas flores enfeitando as sacadas. Pra onde quer que você olhasse, havia verde, era um terreno imensamente gigantesco.

— Nossa, vô! Olha aquela casa ali.

— Ah, sim, essa é a casa dos Fernandes. Aquela garotinha ali, é a filha mais nova do casal de militares. — o avô indicou, apontando para a menina de cabelos negros correndo em círculos de um cachorro grande.

Meu coração palpitou quando o caminhão parou exatamente ao lado daquela casa deslumbrante. Olhei para a frente, nossa nova casa era tão pálida quanto uma pessoa doente, e a grama ainda não havia sido colocada, então o que tínhamos era um pedaço grande de terra marrom e seca. Também era uma casa de dois andares, mas com menos vida.

— E essa é a casa dos Almeida. No caso, a nossa. — disse ele, tirando o cinto de segurança depois de estacionar o caminhão.

Enquanto meu avô dava a volta para abrir a minha porta, eu fiquei observando a casa amarela viva. Para minha surpresa, a garota que antes estava correndo com o cachorro, agora estava parada de maneira estática olhando o caminhão, olhando diretamente pra mim.

— Vamos, eu acho que você tem uma admiradora lá no outro gramado. — meu avô disse, estendo os braços pra me pegar e descer do caminhão.

— Você acha que ela quer falar comigo? — perguntei a ele, um pouco insegura.

— Não sei. Vai ter que descobrir.

Meu avô era uma das pessoas mais sábias que eu conhecia, e não foi diferente dessa vez, pois assim que coloquei os pés no chão, aquela menina de cabelos negros e franja lisa, saiu gritando:

— Temos uma vizinha nova, Ali! Temos uma vizinha nova e é uma garota, Ali! Vem pra cá!!!! — gritou ela na janela, e depois saiu correndo na minha direção.

Correu tanto que demorou pra falar oi, precisou de alguns segundos pra se recompor da adrenalina.

— Oi — disse ela, ainda esbaforida — eu sou a Agnes. Agnes Fernandes.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora