Sequestro

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Se eu soubesse que minha vida iria virar essa novela mexicana, eu dava um jeito de nem nascer!

Estávamos no carro ainda e de repente ele parou. As portas da frente se abriram e ouvi barulho de passos vindo em direção às  portas de trás.
E então, depois de um silêncio cruciante, senti um puxão muito bruto.

Pelo saco preto, passavam alguns feixes de luz, porém nada muito nítido. Foi aí que senti a mão de Callie se enroscar na minha. Ela estava gelada e trêmula, eu entendia.

Sentadas no chão e amarradas de um jeito muito tosco, tiraram nosso capuz. Olhei de cima a baixo o local para ver se me familiarizava com algo, sem sucesso.

Callie me cutucou, pois não estava prestando atenção na pessoa que se aproximava. Então, eu ouvi a sua voz bem perto do ouvido.

— Por que você está aqui? — ele sussurrou e senti minha espinha estremesser.

— Chefe, ela estava junto com a garota! Não tivemos como... — o homem  começou, mas foi interrompido pelo olhar raivoso do "Chefe".

— Quem é você? — perguntei, já que não conseguia ver ele direito por estar próximo demais da minha nuca.

— Eu sou um garoto com o coração partido, e que só quer justiça... E você? Quem você é? — ele ficou de frente para mim.

Era alto com os cabelos pretos e olhos cor de mel.
Retomei o fôlego e tentei falar.

— Sou... A menina que você acabou de sequestrar!

— Interessante, gostei dessa menina! —ele sorriu sínico e então olhou para Callie, que estava petrificada.

Então ele se abaixou e acariciou seu rosto com o polegar. Depois a fez levantar e deu beijo em sua testa.

— Não encosta em mim! — ouvi ela sussurrar.

— Por que, meu amor? Não gosta mais dos meus carinhos? — ele disse, parecendo conhecê-la.

— Não sou seu amor! Eu amo o Bernardo, não você! — ela gritou.

A expressão do homem mudou completamente, de satisfeito para magoado. Ele saiu e bateu a porta forte.

— O que foi isso Callie? Você conhece esse cara? — perguntei, confusa.

— É o Caio... — ela se sentou — meu ex namorado.

— É o que? Ex namorado? Sério? Fomos sequestrada por causa de um término não resolvido?

— É que com o Caio tudo foi sempre sem graça. O pai dele não apoiava nossa relação, porque eu não sou dona de um império administrativo como ele. Aí eu terminei e logo depois conheci o Bê — ela sorriu — e desde o primeiro "oi" foi diferente... mas agora tá tudo arruinado, o Caio vai matar a gente — ela começou a chorar.

— Calma, vai ficar tudo bem. Eu dou um jeito! — eu torcia por isso.

Depois de algumas tentativas eu consegui alcançar a minha chave do bolso, mas meu plano foi por água baixo já que um dos brutamontes me viu.

— Ótimo! Agora, além de ser sequestrada, vou ter que fazer outra chave. Um absurdo isso.

— Kate — Callie me chamou.

— O que?

— Cala boca.

Alguns minutos se passaram, eu diria ANOS, mas foram apenas 45 minutos.
O barulho do relógio estava me irritando, e eu falei a palavra "ódio" tantas vezes, que perdeu o sentido. Então, Caio entrou e se sentou na cadeira perto da porta.

— O que vai fazer com a gente? — Callie disse, com a voz trêmula.

Ele suspirou e olhou para o celular em suas mãos. Discou alguns números e colocou no viva voz.

— Alô? — reconheci de imediato aquela voz rouca e firme. Era do Alissom.

— Você tem exatamente trinta minutos para trazer o Bernardo até mim. Nem mais, nem menos, apenas trinta se não quiser dizer adeus para a sua namoradinha petulante.

Ele desligou.

— Como você sabe do Alissom? — perguntei confusa.

— Andei seguindo todos os passos da Callie e o namoradinho. Você é irmã desse tal de Bernardo, não é mesmo? Achar o Alissom, foi moleza. Apenas alguns telefonemas e já sei toda a sua vida — ele falou e saiu.

— Isso é tudo culpa minha! Agora ele vai pegar o Bernardo e eu vou ser culpada de tudo isso — ela começou a falar em desespero.

— Agora você tem culpa de ter um ex namorado psicopata? — rebati me mexendo um pouco e vi que a corda afrouxou.

Callie começou a choramingar mas eu estava concentrada em desatar o nó das cordas.

— Podem ir embora, quero fazer isso sozinho! — Caio disse, expulsando seus comparsas e carregando uma pistola.

Os homens se entreolharam e saíram de imediato. Logo depois ouvi barulho de rodas de carro freando abruptamente.

— Parece que as visitas chegaram — ele apontou a arma para Callie.

Callie em seu desespero, não reparou que eu havia conseguido me desprender das cordas, e nem que eu estava tentando fazer o mesmo com ela.

Porém, de repente, meu irmão e Alissom entraram e meu corpo congelou.

— Kate! Você tá bem? — Alissom gritou, assim que nossos olhos se encontram.

No instinto, ele tentou ir até mim, mas foi parado pela arma que Caio agora, apontava para ele.

— O que você quer? — Bernardo falou.

— Eu quero a Callie! Mas quero ela por inteiro, e não posso ter ela por inteiro se você estiver no meu caminho... Então infelizmente terei que matar você — ele disse, se aproximando e ficando cara a cara com meu irmão.

Estávamos atrás dele, então eu tive a brilhante ideia de chutá-lo para causar desequilíbrio, mas acabei fazendo com que a arma caísse no chão.
Bernardo olhou para a arma no chão, o que assegurava que ele não corria mais perigo e acertou um soco bem no queixo dele.

Enquanto eles brigavam Alissom e eu levamos Callie para o carro depressa e quando eu fui voltar com ele para ajudar meu irmão, ele segurou meu rosto e grudou sua boca na minha.
Me beijou com toda a voracidade e pressa que tinha em seu peito.

— Nunca mais saia de perto de mim desse jeito — ele disse, e senti meu rosto pegar fogo. Queria beijar ele novamente porém escutamos algo vindo lá de dentro, como se tivessem quebrado algum vidro — Fica aqui! —ele correu.

Não consegui me conter, corri atrás dele. Apenas a tempo de escutar o barulho que fez meu ouvido zunir.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora