Passeio

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— Pode tirando o cavalinho da chuva, porque eu que vou pegar esse buquê. — Cristine disse.

— Me desculpa, mas quem te convidou mesmo? — falei, e recebi uma careta.

— Estão prontas? — Agnes perguntou.

Se eu puder dar um soco na cara de Cristine, vou ficar muito feliz.

— Joga logo esse buquê! — berrei

Por um minuto, o mundo todo ficou em câmera lenta. Eu vi o buquê sendo arremessado, com pétalas caindo devagar, e também o meu cotovelo acertando "acidentalmente" as costelas da Cristine, e o majestoso buquê caindo direto nas mãos de Mel.

Mel ficou uns três segundos encarando aquele buquê, e depois começou a rir, como se tivesse conquistado a América.

— Viu, Kate? A sua irmã mais nova vai casar antes de você. — Agnes disse, se aproximando de mim.

— Ah, tudo bem. — dei de ombros — Pelo menos eu machuquei a Cristine.

— E por que isso é bom? — ela arqueou a sobrancelha.

— Porque ela estava dando em cima do seu irmão. Eu tô cuidando dele pra você, não iria querer uma cunhada como ela! — falei, Agnes riu.

— Até parece!

Agnes se afastou, porque Alissom estava vindo na minha direção. Ele estava sério, parecia cansado.

— Como foi a conversa com a sua mãe? — ele perguntou.

— Foi... — pensei um pouco, não valia a pena dizer que minha mãe achava ele um incompetente — normal.

— O que ela disse?

— Ela falou sobre o casamento, e que ela queria que o papai entrasse junto com a Agnes. — disfarcei.

— Ah, sim. Ela falou isso pra mim também.

— Você parece cansado, quer ir embora? — perguntei, Cristine estava vindo em nossa direção.

— Sim, eu estou morto! — ele saiu pra pegar Duda.

Cristine passou por mim e agarrei o braço dela.

— Sai de perto do meu homem. Se eu ver você conversando mais uma vez com ele, você vai acordar sem cabelo, me entendeu? — falei entredentes.

Ela pareceu ficar com medo, pois depois disse se manteve afastada, pelos menos, uns vinte metros.

— Tá com fome? — ele perguntou.

— Sim, muita!

— Conheço um lugar que sempre tá aberto. — ele segurou minha mão.

— Então vamos.

Entramos no carro, ele colocou o cinto na cadeirinha de Duda e sentou do meu lado. Antes de dar a partida ele olhou alguns segundos para o meu rosto, não hesitei em olhá-lo também, mas isso me causava borboletas no estômago, por isso eu não conseguia sustentar o olhar por muito tempo.

— Onde nós vamos? — perguntei.

— Comer sorvete.

— Sorvete? A essa hora?

— Sim, você vai amar esse lugar.

Levou só dez minutos pra nós chegarmos.

O lugar parecia aqueles bares dos anos 80. Tinha mesas na parede com bancos estofados vermelhos, era muito bonito o lugar.

— Eu amei mesmo esse lugar.

— Eu disse.

Comemos sorvete e conversamos, mas era difícil eu criar um assunto, pois a voz da minha mãe insistia pra eu não criar laços tão fortes com eles. Era automático, minha mãe me avisava de algo e esse algo acontecia.

— Tá tudo bem? — ele perguntou.

— O que acontece se você começar a namorar? Por exemplo, se encontrar uma garota se apaixonar e ela mandar você sair da minha casa. Daí você vai levar a Duda junto e eu nunca mais vou ver ela. É isso?

— Primeiramente, não vou começar a namorar. Bom, pelo menos não do jeito que você está pensando. Depois, eu não sei cuidar dela sozinho, e você é muito mais mãe da Duda do que eu sou pai.

— Então não vai me largar sozinha?

— Não pretendo.

Meu coração se aquietou um pouco, não tanto quanto eu gostaria, mas já era um bom começo.

Fomos para casa, e eu acabei dormindo no sofá, pois estava muito cansada para subir até o quarto e arrumar a minha cama que estava cheia de roupas .
Alissom dormiu no tapete com a cadeirinha de Duda do seu lado.

Assim que abri os olhos, minha mente me forçou a olhar para ele. E me peguei pensando: como seria bom acordar todos os dias e ver esse rosto lindo pela manhã.

Meus olhos percorreram o resto da sala, e encontraram os olhos de Duda, ela estava acordada.
Levantei para pegar ela, mas tropecei na saia do vestido e acabei caindo por cima de Alissom. Ele levou um susto e eu mais ainda.

— Eu te machuquei? — perguntei.

— Não, eu tô ótimo. Mais do que ótimo. — ele sorriu, eu entendi.

— Você é impossível.

Saí de cima dele e peguei Duda no colo para fazer sua mamadeira.

— Eu bem que podia ser acordado assim todos os dias. — ele gritou da sala.

— Bem que você queria.

— Queria mesmo.

— É mas tem um problema nisso tudo. — sentei no sofá.

— E qual seria?

— Eu não quero cair em cima de você, porque você é magro e não tem gordura pra amortecer minha queda.

— Ah, entendo. Algum dia eu engordo.

— Me deixaria feliz.

— Então, eu tava pensando... — ele sentou ao meu lado — Que tal a gente sair um pouco de casa? Ir na praça do condomínio aqui perto.

— Acho uma ótima ideia. Olha, até que você tem ideias boas às vezes.

— Eu sei.

Esperei Duda tomar sua mamadeira e vesti ela com um vestido vermelho com bolinhas brancas. Alissom nos esperou na porta do elevador, e então fomos. O condomínio do meu prédio tinha uma pracinha enorme com várias árvores pra fazer sombra.

Me encostei em uma das árvores, e comecei a ler um livro chamado "Um ano inesquecível", ele era maravilhoso. Confesso que no começo eu só li por causa da Paula Pimenta, mas logo aprendi a me adaptar com as outra escritoras que compuseram o livro.

Fiquei observando Alissom brincar com Duda, ele realmente era um ótimo pai, mesmo que não soubesse trocar fraldas e coisa e tal, mas ele tinha suas qualidades escondidas. Não sei se algum dia ele iria afastar Duda de mim, mesmo que sem querer, mas se ele continuasse sendo esse pai incrível, ela estaria muito mais feliz.
E eu também.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora