Havia sangue e uma arma fora atirada em meus pés. Eu só conseguia enxergar Alissom ali no chão.
Sem perceber, com a arma já em minhas mãos, eu fui ao encontro de Alissom e segurei sua cabeça.
Bernardo deu seu último soco, até Caio cair no chão.— Era pra acertar em mim, mas Alissom entrou e... — Bernardo disse, segurando a pedra que fora atirada, cheia de sangue.
O zunido foi de um tiro para o alto, o lustre quebrado no chão.
— Kate você tá me ouvindo? — sua voz estava ficando distante.
Levantei pisando duro e fui até Caio, com a arma destravada.
— Levanta! — apontei a arma.
— Kate, larga essa arma! — ouvi Bernardo gritar.
— Você não vai atirar em mim! Você não é mulher pra isso — Caio disse, se arrastando.
— Eu mandei você levantar! — gritei — Se sabe tão bem da minha vida, deve saber que meu pai me ensinou a atirar muito bem, e que eu tenho uma pontaria excelente, então sugiro que levante antes que eu meta uma bala no meio da sua cara!
Ele pareceu assustado e levantou-se rápido.
— O que vai fazer? Me matar? Você vai ser presa, nunca mais vai ver aquele mané sangrando ali! — ele disse, limpando o sangue da boca.
— Não quero ver você nunca mais, tá me entendendo? VAZA DAQUI!!!— falei, abaixando a arma.
Ele passou por mim sem dizer nada, porém quando chegou na porta eu disparei.
O tiro acertou um pouco acima de sua coxa e ele caiu.— Alô? Precisamos de uma ambulância. Urgente! — ouvi Bernardo falar.
Caí de joelhos e larguei a arma. Meus olhos não suportaram o acúmulo de água repentino e transbordaram.
Callie me juntou do chão e me levou para o carro junto com Alissom.Sua cabeça estava repleta de sangue e eu não conseguia fazer o sangramento parar. A pedra tinha acertado o lado direito da cabeça e tinha uma fenda muito grande, aberta.
Segurei sua mão forte e tentei controlar minhas emoções para não piorar a situação, porém nunca tinha visto tanto sangue assim de perto.
— Vai ficar tudo bem... eu sei que vai — sussurrei em seu ouvido.Já no hospital, ele foi levado imediatamente para a sala de emergência e trauma.
— Moça, você precisa preencher a ficha do paciente — uma enfermeira dizia, enquanto eu tentava chegar mais perto de Alissom.
Bernardo me puxou diante da multidão de médicos.
— Kate, você precisa ficar aqui! — ele gritou — Eu sei que ele é o amor da sua vida, mas você tem que deixar os médicos cuidarem dele. Preenche a ficha, por favor — ele pediu.
Me joguei na poltrona e comecei a escrever na maldita ficha, enquanto Callie e Bernardo se abraçavam.
Alguns minutos depois, fui até um orelhão e liguei para Agnes.
— Agnes? Sou eu, Kate — falei assim que ela atendeu.
— Kate!!! Você tá bem? O Alissom saiu daqui e disse que você tinha sido sequestrada e não temos nenhuma notícia até então. Onde você tá? O que houve? — ela disparou.
— É melhor... vocês virem para o hospital... — falei, e um silêncio dominou a linha.
Agnes chegou, nervosa e chorando; junto com ela, minha mãe.
Minha mãe me abraçou muito forte, acho que poderia ter quebrado minha costela pois tinha muita força.— Kate, minha menina! Você está bem? Você se machucou? — ela me abraçou novamente — Nunca mais vou deixar você sozinha!
— Mãe, tá me machucando! — falei, espremida.
— Ah, me desculpe! — ela finalmente me soltou.
Contei a elas o ocorrido, Agnes estava aos prantos, era de se esperar. Ela perdera várias pessoas em um período curto de tempo,e o único que lhe sobrou estava em um hospital com a cabeça rasgada.
— Alguém responde por Alissom Bittencourt? — um homem de jaleco branco, chamou.
— Somos nós! — eu e Agnes falamos em uníssono.
— Ele está bem, acreditamos que nenhuma função dele fora danificada, mas assim que ele acordar nós vamos providenciar alguns exames — ele falou, de uma vez só.
— Podemos vê-lo? — Agnes perguntou.
— Apenas uma de vocês pode entrar, ele ainda está anestesiado e com uma grande cicatriz na cabeça.
— Vai Kate, ele vai querer te ver... Agnes disse.
Assenti e segui o médico até uma sala pequena com cheiro de álcool gel.
— Seja rápida, o horário de visitas acaba em 15 minutos — ele avisou, e eu assenti.
Sentei ao lado e segurei sua mão. Não era toda aquela coisa cheia de fios e aparelhos como nos filmes, aquilo pareceu só mais um caso normal para eles. Na verdade pareceu apenas um "arranhão no joelho" para os médicos, porém para mim, pareceu um filme de terror.
Tinha uma faixa branca envolta na cabeça dele e ele parecia pálido.
— Que susto você me deu — apertei sua mão fria— já é comum você me assustar dessa maneira, porque você gosta de fazer um drama, não é? E o pior é que eu fiz um escândalo só por causa de um corte na cabeça, que besteira! Acorda, pra eu te dar um soco por me assustar desse jeito...
Então senti uma aperto sutil em minha mão e esperei seus olhos se abrirem. Mas a expressão que eu esperava, não era de confusão...
— Onde eu tô? Eu morri? Quem é você? — ele disse, causando um grande buraco em meu peito.
— Você não se lembra de mim? — perguntei, com lágrimas nos olhos.
Ele pareceu mais confuso ainda, mas me olhou nos olhos como costumava olhar sempre.
— Olha, me desculpa. Eu acho difícil eu ter esquecido alguém como você, só se eu tivesse problemas — ele disse, me fazendo rir.
O médico veio ao meu encontro avisar que o tempo havia terminado e entao eu o avisei da perda de memória e ele me assegurou que deveria ser algo passageiro devido ao impacto causado pela pedra.
Só estaria descansada quando ele retornasse a memória, e estivesse a salvo em casa.Saí do quarto e fui bombardeada pelas perguntas da Agnes, e com calma, respondi todas elas, mas ela não se deu por satisfeita, queria processar Deus e o mundo pela perda da memória de Alissom. Eu não a culpava, eu dei um tiro em alguém, sem nem ao menos pensar que isso traria consequências.
Eu poderia ser presa se ele prestasse queixa, eu poderia perder a guarda de Duda, eu poderia perder tudo. Ele poderia enviar seus capangas para matar minha família, sei lá, e agora eu ainda tinha que lidar com a perda da memória do meu namorado. Que desastre!
Mas como eu já disse, minha vida virou uma novela mexicana. Só espero que termine com todo mundo ficando rico e feliz...
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O irmão da minha melhor amiga
RomanceDizem que o amor e o ódio andam lado a lado. Kate discorda disso totalmente. Alissom também. Kate nunca entendeu por que Alissom parecia odiá-la. Desde criança, ele era sempre distante, grosseiro e fazia questão de evitar qualquer lugar onde ela est...