Elevador

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Quando chegamos em casa, Vitória disparou na frente com Duda no colo, pois estava com vontade vomitar. Ela nem percebeu, que ao invés do elevador social, ela pegou o de serviço.

Eu e Alissom ficamos ali pegando as coisas no carro. Os chocolates, as flores, os cartazes...

— Kate, minha menina! Meus parabéns pelo novo namorado! — Rodolfo disse, ao nos encontrar na portaria.

— Muito obrigada — eu agradeci e ele me abraçou.

— Ah, cuidado porque os elevadores estão com mau funcionamento — ele alertou, assim que chegamos perto.

— Ah, tudo bem. — olhei para Alissom

Vamos de escada então?

— Ah não, escada não! — ele reclamou.

— Se a gente morrer no elevador, você vai apanhar!

Entramos no elevador. Eu com medo de morrer e ele calmo como sempre.

— Você não vai apertar o botão? — ele perguntou.

— Aperta você! Tu que quis vir de elevador — eu falei cruzando os braços.

— É impressionante a sua capacidade de mudar de humor do nada. Tava toda fofa, meiga, cheia dos "frufru" e agora já tá querendo me bater. — Alissom usou sua melancolia.

— Como você é dramático!

— E você é maluca!

— Nossa, que baita xingamento! Aprendeu esse onde? Na escolinha para beb... — o elevador trancou e as luzes começaram a piscar.

Olhei para ele, assustada e ele me abraçou. Durante os primeiros três minutos, eu pensei que o elevador iria despencar e iríamos morrer ( sim, eu sou dramática também, porém temos vários casos de morte em um período curto de tempo aqui), porém depois eu me tranquilizei.

E então nós sentamos no chão e esperamos. Esperamos. Esperamos e nada.

— Que demora! — reclamei.

— Kate, só fazem vinte minutos, se acalma!

Me sentei emburrada e ele me alcançou uma caixa de bombons de caramelo e chocolate.
São os meus favoritos, e ele sabe, e também sabe que eu não paro de falar depois que como um deles.

E óbvio, que depois de comer uns quatro, eu contei várias coisas e deixei escapar sobre a gravidez da Vitória.

— Grávida? Como assim? — ele disse, confuso.

— Vai me dizer que você não sabe de onde vem os bebês?

— HA-HA engraçadinha! Tô falando tipo, o pai já sabe?


— Sabe, mas não vai assumir. Típico, não é? Tipo, ah vou fazer um filho aqui, mas não vou assumir — enfiei um bombom na boca.

— Mas que canalha! — Alissom pegou um bombom também.

Quando fui pegar mais um bombom, olhei para o meu anel e fiquei alguns segundos admirando ele. Como ele era lindo...

— Por que tá olhando pra sua mão?

— Porque tem um anel muito lindo no meu dedo.

— Ah, sim. Lindo mesmo, é o cara que te deu — ele sorriu, de forma convencida como era seu costume.

Estava prestes a responder, quando o elevador voltou a funcionar.

— Eu acho que o elevador já respondeu por mim — levantei e vi ele fazer uma careta.

Saímos do elevador e quando entramos em casa, Vitória estava ao telefone com meu cartão de crédito na mão.

— Sim, com molho extra! Não, não, eu odeio azeitona... Mas pode colocar o resto. — foi o que consegui ouvir.

— O que você tá fazendo? — puxei meu cartão da mão dela.

— Eu tô comprando coxinha, me dá isso aqui! — ela sussurrou.

— O que? Essa hora?— gritei.

— Quer que o meu filho nasça com cara de coxinha?! — ela vociferou.

Não consegui responder essa pergunta, pois era tão absurda que me fez ficar calada.
De todo jeito, ela ainda iria precisar descobrir a senha do cartão, e eu não iria dar, óbvio.

— Você já vai dormir? — Alissom  perguntou.

— Eu tô cansada, foi um dia longo — bocejei.

— Tudo bem, eu arrumo tudo por aqui — ele beijou minha testa.

Duda estava na cama e eu deitei um pouco para observá-la.
Estava tão linda naquele pijama de ursos, com aquele cheirinho bom de bebê e com aqueles cabelos lisos e clarinhos. Meu bebezinho, como viver sem?

Acabei adormecendo, mas fui acordada por um barulho que entrou dentro do meu sonho. Era meu celular.

— Alô? — minha voz saiu rouca. Olhei no relógio eram nove horas da manhã.

— Kate, me ajuda! — idenfiquei a voz, era Calie.

— Calie? O que foi? — levantei da cama.

— Tem alguém me seguindo! — ela falou, nervosa. Ela estava chorando e sua voz saiu baixa, como se estivesse escondida.

— Onde você tá?

— Eu tô na praça, perto da sua casa.

— Fica calma, eu já tô indo aí! — desliguei.

Coloquei travesseiros em volta da cama, para Duda não cair e desci depressa. Alissom estava dormindo no sofá, então escrevi um bilhete e coloquei na porta da geladeira.

Desci onze andares, pois o elevador ainda não estava funcionando. E quando consegui sair, estava sem fôlego pra conversar com Calie.
Parei um pouco para respirar e caminhei mais devagar quando já estava perto.

—Kate! Ah, que alívio ver você! — ela me abraçou, assim que me viu.

Começamos a conversar e ela disse que tinha pensado que estava ficando maluca, porém suas hipóteses se confirmaram quando o carro começou a seguí-la para onde ela fosse.

— Eu tentei ligar pro Bê, mas ele não atendeu!

— Ah, isso não é novidade! Ele deve estar dormindo, com certeza.

— Kate, eu senti tanto medo! Que bom que você apareceu para me salvar — ela me abraçou novamente.

— Tá tudo bem agora. Só tenta não pirar, tá? — falei, olhando em seus olhos.

Ela assentiu e nós atravessamos a rua. Porém, quando já estávamos quase do outro lado, senti um puxão muito forte e algo me segurou pela cintura.
Não, isso não estava acontecendo!


O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora