Caixa azul

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Obviamente, eu acreditava na versão de conto de fadas de que tudo bem ter esperado ele ir até o aeroporto pra me declarar. Eu tive todo tempo do mundo, todas as oportunidades e não fiz nada. Vivian discordava da minha versão.

— Ele fez besteira, quem deveria ter ido atrás, era ele! — ela disse, enfiando um monte de salgadinho na boca.

Ela não estava errada, mas se ele não voltasse, eu ficaria reclamando no ouvido dela durante meses, e ela reclamaria da mesma forma. Então me contentei com a minha versão do romantismo.

Alissom me acordou com beijos na manhã seguinte, me dando um susto. Ao invés de romance, acabou por ganhar um corte na testa.

— O que acha? — ele mostrou o site que continha muitas imagens de varinhas.

— O que você tá fazendo nesse site? — perguntei.

— Bom, já que eu fui tentar ser romântico e ganhei um corte na testa, o mínimo que o universo pode fazer por mim, é me transformar no Harry Potter. — ele disse, quase me fazendo cuspir o café com a risada.

Dei tapinhas em seu ombro.

— Você é trouxa dos pés a cabeça. — levei a xícara na boca.

Já havia se passado uma semana, e as coisas estavam tranquilas. Mas eu deveria ter adivinhado que alguma coisa iria acontecer. Aconteceu na noite de sexta, com Alissom me ignorando o dia inteiro. Mal olhava pra mim, e eu nem havia feito nada.

Quando a noite chegou, eu já havia passado a semana toda na cabeça, e ainda não tinha encontrado o motivo para aquela mudança repentina.

— A Agnes vai fazer um jantar especial hoje. — Alissom, disse assim que chegou em casa.

— Ela não me disse nada sobre isso. —franzi a testa.

— Ah, sabe como ela é... esquecida. — ele deu um beijo em minha testa.

— É, realmente. — concordei, ele colocou a carteira e o celular no bolso da calça — Onde você vai? Acabou de chegar!

— Eu vou ter que dar uma saidinha, volta a tempo da festa, ok? — ele pegou as chaves do carro e saiu.

— Tá. — falei, mas ele já havia batido a porta.

— Eu disse que ele é um otário. — Vivian disse, enfiando um pedaço de chocolate na boca.

— Seria legal se você me desse uma força. — bufei, ele estava muito estranho.

— Tá, ele é gostoso. — ela deu de ombros.

— É, eu sei. Já viu sem camisa? Eu já. — abanei o rosto, Vivian sorriu.

— Se você está feliz, eu estou feliz. — ela disse por fim.

...

E

stávamos deitadas de qualquer jeito no sofá, olhando Supernatural. Vivian era viciada naquela série, sabia todas as falas de todos os episódios. Aposto que sabia até mesmo o CPF deles.

— Olha esse homem gostoso! Meu Deus, eu vou ser a Sra. Winchester... —ela disse, comendo pipoca como se fosse morder o abdômen dele.

— Alguém já te falou que eles nem sabem que você existe? — brinquei.

— Olha aqui, dá pra você não destruir os meus planos para o futuro? Eu vou ser pedida em namoro pelo Dean em uma praia enquanto ele toca violão, sim! — ela gritou.

— Tá bom, calma! — Ergui as mãos.

A campainha tocou, e eu já sabia que não era ninguém conhecido, pois geralmente, já anunciavam sua entrada com a porta aberta.
Havia uma caixa azul no chão, com um grande laço e um cartão.

Olhei para os dois lados, não havia ninguém o corredor, nem no elevador. Bom, de todas as opções, a pior seria uma bomba, e se fosse, já teria explodido.

Abri a caixa com cuidado, com medo de que fosse sair um palhaço lá de dentro, mas, felizmente, um vestido vermelho com uma fenda na perna direita, foi a única coisa que encontrei. Estudei o vestido por alguns segundos, não entendendo porquê alguém teria me dado aquilo, e finalmente li o cartão.

"A festa começa às 20h, esteja pronta nesse vestido."

Com amor, seu Alissom.

Bom, pra ele ter me dado um vestido desses, Agnes receberia alguém importante. Um dos amigos militares do pai, talvez? Alissom nunca ligou para minhas roupas, se ele pediu isso, eu não seria louca de não usar aquela belezura.

O irmão da minha melhor amigaOnde histórias criam vida. Descubra agora