Eu achava que colégios internos nem existiam, e se existiam, eram bem longes daqui. Nota-se que eu estava bem enganada, pois havia um na cidade ao lado.
Minha mãe me deu um formulário enquanto eu estava dentro do carro. Ela disse que eram as regras pra eu não ser expulsa da escola, ou seja, eu faria de tudo pra descumprir todas elas com muita classe. Quando comecei a le-las, fiquei em choque. Aquele lugar, com certeza, era o sonho de qualquer pai, principalmente o da minha mãe.
O contato físico entre meninos e meninas não era permitido, e as meninas não podiam usar maquiagem, jóias ou esmaltes. O acesso à internet era restrito, comida vegetariana e eu não poderia ficar fora do campus depois das 18h. Não é servido refrigerante? Ai, meu Deus, em que lugar eu vim parar?
- Quanto você tá pagando pra me prender nesse lugar? - perguntei.
- Dois mil e quatrocentos reais. Por mês. - minha mãe falou, ela estava dirigindo.
-
Não sabia que prisões eram tão caras, pensei que eram de graça.
- Nada na vida é de graça, Kate.
- Só o meu ódio por você nesse momento. - isso não era pra ter saído em voz alta.
- Pode me odiar o quanto quiser, Kate. Um dia você vai me agradecer por isso.
- Eu acho muito engraçado o jeito que os adultos tratam as situações. Eles não conseguem ver um jovem com um opinião diferente, que já querem enfiar goela abaixo um discurso padrão de adulto. - bufei.
- Kate, você tem dezesseis anos, mas eu ainda sou sua mãe, e se você não calar a sua boca, vai sofrer as consequências.
Viu o que eu disse? Discurso padrão de adulto que não sabe perder: ameaça.
Q
uando o carro parou, eu pensei realmente em sair gritando e dizendo que ela havia me sequestrado. Os portões daquele lugar eram maiores do que a minha antiga casa, imagina o tanto de segurança que aquela droga tinha. Ótimo, já posso tirar a fuga da lista de coisas pra eu sair daqui.
- Viu como tudo aqui é perfeito, Kate? Estamos no paraíso.
- Então por que você não fica no meu lugar? - cruzei os braços.
- Porque eu já sou muito bem disciplinada. Vamos, pegue as suas coisas, sem reclamações que eu estou sem paciência.
Andamos pelos corredores até chegarmos na sala da diretora, que nos recebeu com um enorme sorriso. Dava pra sentir a falsidade de longe.
- Quando eu vi o sobrenome, da minha mais antiga amiga, na lista de inscrições, nem acreditei! Muito prazer, Kate, me chamo Cristine. - ela estendeu a mão.
Que coincidência, eu tenho uma prima tão insuportável quanto você.
- Prazer. - falei, apertando sua mão.
- Bom, como é de costume aqui na nossa escola, nós proporcionando um "tour" por todas as nossas dependências. Eu mesma o faria, se não tivesse que colocar o papo em dia com a sua mãe. Então a Vitória, nossa melhor aluna, vai fazer isso por mim. - ela disse e a menina se posicionou ao lado dela.
- Ah, isso é uma menina. Pensei que fosse parte da decoração nórdica da sua sala. - falei.
Não sei dizer qual das três ficou mais espantada com o que eu falei, mas era importante deixar claro que não esperassem muito de mim. Não viria para ficar.
A menina loira continuava parada me olhando, como se esperasse um pedido de desculpas. Sua pele era perfeita, nenhum traço fora do comum, nenhum fio de cabelo fora do lugar. Ela parecia um abajur. Sua coluna era tão reta, que eu estava a ponto de perguntar se havia um fio imaginário a puxando para cima.
- Ah, herdou o senso de humor da sua mãe, com certeza. - a mulher disse sem graça.
- Sim, Kate é muito brincalhona. Não levem a sério o que ela diz. - minha mãe tentou apaziguar.
- Vamos, Kate. Temos que fazer o nosso tour. - a voz esganiçada da menina chegou aos meus ouvidos. Típica voz de uma patricinha narcizista.
Tudo bem, eu iria deixar o comentário pra outra hora, agora era a hora de sair de perto da minha mãe antes que ela me mate.
- E as luzes se apagam às 22h em ponto. Entendeu? - ela perguntou.
- Eu já li tudo isso no folheto que tem as regras. Não precisa recitar todas elas de novo como se eu fosse leiga, eu sei como uma prisão funciona. - falei, ríspida.
Um garoto esbarrou em mim antes que a loira pudesse formular uma resposta.
- Ah, me desculpa! Eu não quis fazer isso, você se machucou? - ele parecia nervoso.
- Relaxa, tá de boa.
- Você é nova aqui, não é? - ele perguntou.
- Sou, por quê?
- As pessoas daqui não costumam falar gírias. Quer dizer, a Vívian fala, mas os professores odeiam.
- Bom saber disso. Vou ampliar meu vocabulário de gírias.
- Se quiser ajuda, estou a disposição. - ele sorriu.
A loira, por outro lado, parecia um pimentão de tão vermelha. Já saquei tudo, ela é afim dele. Que mundo clichê que eu vim parar!
- Sou o Arthur, precisando é só chamar. - ele estendeu a mão.
- Kate, à disposição.
Ele saiu e a menina segurou o meu braço.
- Nem pense, Kate. Esse menino é o filho da diretora, todas as meninas querem ele. Não se iluda com aquele sorriso, ele é simpático com todas. - ela sussurrou de uma forma grosseira.
- Olha aqui garota, eu não sei o que vocês aprendem aqui, mas da onde eu vim, da escola pública, se uma garota te segura pelo braço desse jeito, o mínimo que você tem que fazer é dar um soco no meio da cara dela. E se você não me soltar, é exatamente isso que eu vou fazer. - falei, ela me soltou na hora.
- Você é maluca!
- Você não sabe o quanto!
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O irmão da minha melhor amiga
RomanceDizem que o amor e o ódio andam lado a lado. Kate discorda disso totalmente. Alissom também. Kate nunca entendeu por que Alissom parecia odiá-la. Desde criança, ele era sempre distante, grosseiro e fazia questão de evitar qualquer lugar onde ela est...