109 dias. O fim logo no começo.

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Eu e a Mary entramos no carro e ela coloca o cinto.

- Vamos para a sua casa?

- É, vamos - ligo o carro e saio do estacionamento. É meio estranho estar de volta com a Mary. Quer dizer, achei que ela nunca me perdoaria pelo que eu fiz, mas parece que achei errado. E, pra ser sincero, eu nem sei bem porque voltei com ela. Eu...

- O que a Tess tem, ein? - Mary pergunta. Paro o carro no sinal vermelho e me viro para ela.

- Como assim?

- Sei lá, o cabelo dela é muito curto e e ela é magra demais e está sempre pálida.

- Sempre? - questiono. - Você já a viu quantas milhões de vezes?

- Só duas - ela dá de ombros, distraída. O sinal fica verde e eu volto a dirigir. - Mas... Será que ela tem alguma doença? Ela até passou mal no dia do baile.

- Ela não tem nenhuma doença - tento finalizar o assunto, sério.

- Que bom - ela fala e vira o rosto para a janela, observando as casas idênticas passarem rapidamente à sua esquerda.

- Espero que você não se encrenque por faltar aula assim.

- Uma vez na vida não faz mal nenhum.

Estaciono o carro em frente à minha casa e aperto o botão da garagem.

- Você ainda mora nessa garagem? Ela diz com voz de nojo ao ver minhas coisas lá dentro.

- É, parece que sim. Eu gosto daqui. Me dá mais privacidade. Meus pais respeitam o meu espaço, entende.

- Sei... E quantas você trouxe aqui depois de mim? - ela indaga com naturalidade; senta na minha cama e me olha.

Fecho a porta da garagem e ligo o toca fitas.

- Nenhuma - tiro a fita do The Smiths e coloco para tocar Happy Mondays.

- E aquela sua "amiga" - Mary faz aspas com as mãos. - que você estava ficando enquanto namorava comigo?

- Só ficamos uma vez, está bem? E eu não quero falar sobre isso - encerro o assunto. Já é ruim demais saber que errei, ter alguém esfregando o erro na minha cara não ajuda em nada.

- Ótimo - ela diz ao mesmo tempo que faz uma careta para a música. - Você ainda gosta desse tipo de música?

- Mary, só se passaram quatro meses desde que terminamos, não uma década. Eu ainda sou exatamente a mesma pessoa de antes.

- Ah, então quer dizer que eu ainda corro o risco de ser traída por você.

Respiro fundo e vou até a primeira gaveta da minha cômoda e tiro um cigarro do maço.

- Se você quer ficar comigo de verdade, vamos esquecer isso, ok? Por favor, Mary.

Ligo o cigarro e sento ao lado dela, que sorri.

- Tudo bem.

- Ótimo - dou uma longa tragada no cigarro e de repente me pego pensando no câncer. É, pode parecer estranho, mas ver e imaginar todo o sofrimento pelo qual a Tess está passando me faz imagina o quão terrível deve ser essa doença. Solto a fumaça presa em meus pulmões pelo nariz e pela boca.

Mary vem me beijar.

- Seu beijo é tão bom - ela diz sorrindo, quando nos afastamos rapidamente para respirar. Sorrio. - quase tinha me esquecido de como ele é. - e como se eu não tivesse nenhum controle dos meus pensamentos, a imagem do sorriso da Tess no baile de boas vindas surge em minha mente.

- É... - levanto mais depressa que o recomendado se você não querer aparentar estar fugindo do beijo de uma garota. - o que vai querer fazer hoje? - pergunto, tentando tirar o rosto da Tess da cabeça. Mas ela ainda está lá. Sorrindo e dançando como se não fizesse aquilo há muito tempo, mas soubesse exatamente como fazer.

- Sei lá... A gente podia ver um filme... - Ela arregala os olhos. - Mais tarde vai passar E.T! Vamos assistir?

Chega a ser doloroso ver o quanto ela está animada para ver esse filme. Sério. Alguém pode me dizer qual a graça nele?

Dentro da minha cabeça, Tess me observa séria e força um sorriso.

O que está acontecendo comigo? Eu não sou assim. Mas, por algum motivo,  não consigo parar de pensar nela.

- Alô?! Planeta terra chamando Charlie Schweiber!

- Ah, E.T, vamos ver sim - respondo voltando a prestar atenção nela, mesmo tento odiado esse filme e preferido mil vezes assistir algum de terror, tipo O Iluminado.

- Ótimo! - Mary exclama, jogando os braços em volta do meu pescoço.

Tess está parada à minha frente, as mãos no rosto pálido, chorando e me contando sobre a sua dor. Eu a abraço e sinto seu cheiro engraçado de hospital.

- O que está acontecendo com você hoje, ein? - questiona Mary, sorrindo. - Parece que está no mundo da lua.

- Na verdade eu estou pensando na Tess - digo de uma vez só, sem pensar.

Mary para e me encara, seu sorriso murchando gradativamente.

- O que?

- Eu... Sinto muito - É o que consigo dizer. - Mas acho que não vai dar pra gente voltar a ficar junto. Sinto muito mesmo.

- E por que não? - Mary questiona, as mãos na cintura.

- Eu... Eu não consigo parar de pensar na Tess, desculpa - digo e parece que um peso sai das minhas costas.

[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e TessOnde histórias criam vida. Descubra agora