117 dias . 15 de Setembro de 1986

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Mike está sentado ao meu lado, as pernas cruzadas em cima do porta luvas e o braço esquerdo apoiado na janela. Eu dirijo com os olhos fixos na estrada, meus dedos em volta do volante acompanham o ritmo da nossa mais nova música favorita dos Smiths, Ask.

- Aumenta mais - ele pede sem virar a cabeça.

Olho pelo espelho retrovisor e vejo a Kimmy, minha irmã mais nova, cobrir os ouvidos com as mãos.

Ao invés de aumentar, diminuo o volume da música e pergunto, sorrindo para ela:

- Ansiosa para o primeiro dia? - torno a me concentrar na rua movimentada.

- Bastante. A Grace e a Mandy já devem estar me esperando há séculos. Eu não quero chegar no primeiro dia de aula sozinha, sabe.

- Mas você não vai chegar sozinha - digo.

- Vai chegar com os caras mais descolados e bonitos da cidade - fala Mike com sua voz arrastada. Kimmy ri com vontade, seus olhos castanhos quase completamente fechados.

- Vocês dois? Bonitos? - ela torna a rir. - por falar nisso, bonitão, sábado vai ter o baile de boas vindas, e como eu sei que o papai não vai me deixar vim sem meu motorista particular, já estou avisando...

- Sábado? Hum... Acho que sábado não vou poder. Vou estar muito ocupado - digo. Mike ri ao meu lado. Ele sabe que é mentira, porque fazemos quase tudo juntos.

- É mentira, Kimmyzinha. Ele não tem nada pra fazer.

Lanço um olhar sério para ele, que ainda está rindo. Kimmy cruza os braços no banco de trás, ao mesmo tempo que eu entro no estacionamento do Colégio e digo:

- Tudo bem. Eu trago você ao baile, ok?

- Eba!! - ela comemora, apanha a mochila e sai de encontro à suas duas amigas. Mike faz o mesmo logo em seguida e eu torno a ligar meu Ford Anglia, que resmunga, tosse e morre.

- Droga... - murmuro. Um carro para bem ao lado do meu e me inclino para a frente.

Duas mulheres... ou melhor, uma mulher ruiva de aproximadamente quarenta anos conversa com uma garota muito magra de cabelos ruivos ralos e curtos, como se ela tivesse raspado toda a cabeça há poucos meses e agora seus cabelos começassem a crescer.

Desvio os olhos das duas e torno a tentar ligar o carro. Ele morre outra vez. Droga. Tiro as chaves da ignição, pego minha jaqueta preta e saio, ao mesmo tempo que escuto a porta do carro ao lado ser aberta.

- Eu já entendi, mãe - diz a garota, sua voz parece levemente aborrecida. - se eu me sentir mal e estiver prestes a morrer, você será a primeira pessoa pra quem eu vou ligar, não se preocupe.

Eu não sei porque, mas permaneço parado ao lado do meu carro.

- Ótimo - a mulher responde de dentro do carro.

A garota fecha a porta e ajeita a mochila nos ombros. Antes de dar o primeiro passo, ela me olha e levanta as sobrancelhas também ralas e ruivas.

- Oi - digo, olhando fixamente para os olhos dela. Eles são estranhamente verdes e azuis, cada um.

Ela força um sorriso e começa a andar em direção ao Colégio.

Eu ando na mesma direção para onde ela vai.

A garota está há alguns passos à minha frente e, quando percebe que estamos indo na mesma direção, ela para de repente.

- Você está me seguindo? - pergunta sem olhar para trás; ela está usando calça jeans folgada e uma blusa listrada com uma jaqueta jeans por cima.

Dou risada.

- Por que estaria? - respondo com outra pergunta.

- Não sei - ela diz. - Você está?

- Não, eu não estou te seguindo.

- Ótimo.

- Ótimo - concordo.

Ela torna a andar e eu retomo minha caminhada até a entrada do Colégio, a procura do zelador.

Lá dentro, a garota vira à esquerda e caminha pelo corredor meio movimentado até o armário de número 7. Eu vou para a direita e caminho por alguns segundos até chegar à porta com uma placa escrita: Zelador chefe.

Bato nela uma vez e ouço uma voz dizer:

- Entra.

- Bom dia - digo ao abrir a porta. - meu carro parou de funcionar aqui no estacionamento. Se importa em dar uma olhadinha?

- E eu achando que não teria mais que te ver, ein Scheiber.

- E eu achei que você já tivesse aprendido meu nome, Bill. É Schweiber.

- Não é minha culpa que você tenha um nome estranho.

- Não é minha culpa ter nascido judeu.

Bill da sua famosa risada grave e levanta.

- Vamos acabar logo com isso - ele diz.

- Calma, ainda não vamos matar ninguém. É só pra reviver meu carro.

Saímos da sala dele e a garota ruiva ainda está parada em frente ao seu armário, só que agora ela tem um dos braços estendidos e a cabeça encostada na porta do armário.

- Está tudo bem, Tess? - pergunta Bill. - ela respira fundo e levanta a cabeça, sorrindo.

- Tudo bem sim, Kill Bill - responde.

Ele ri e eu a encaro. Ela fixa seus olhos em mim por alguns segundos, fecha o armário e saí mancando em direção à escada.

- O que ela tem? - pergunto, a acompanhando com o olhar.

Bill balança a cabeça e abre a porta de saída do Colégio.

- Nada que seja da sua conta, judeu curioso.

- Eu nunca a vi aqui no Colégio.

- Ela entrou esse ano.

- Ah - respondo, entregando a chave para ele, que entra e liga o carro sem nenhum problema. - Eu juro que ele não estava pegando agora a pouco - digo.

Bill da risada e joga as chaves para mim.

- Olha, Schweiber, eu estou começando a achar que você está sentindo falta do Colégio.

- De jeito nenhum - dou a volta no carro e entro. - Até mais, Bill.

Olaaaaá pessoinhas que habitam o planeta Terra... FINALMENTEEEEE!!!... Espero que tenham gostado do primeiro capítulo dessa história. No próximo, vocês conhecerão melhor a Tess. Comentem o que vocês acharam, por favor, e obrigadU ✨✨✨💙
Link da música Ask para quem quiser ouvir:

https://youtu.be/zoo9Vu1a9bU


Obrigado a todos que curtiram e votaram 💙✨

[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e TessOnde histórias criam vida. Descubra agora