Eu, Mike e a garota que o Charlie havia beijado há alguns dias estávamos parados na fila para entregar o ingresso quando a Sindy começa a acenar debilmente para o Charlie, que se aproxima de nós.
- Oi Charlie - diz a garota que usa polainas cor de rosa, meia-calça preta rasgada, saia azul cheia de babados e uma blusa de botões com ombreiras.
Eu, que não consigo disfarçar, encaro o Charlie. Ele não parece gostar de vê-la ali. E ela não parece perceber, já que sorri feito uma demente para ele.
- Hum... Oi, Susan - ele balbucia, mais estranho que o normal, e olha para mim ao mesmo tempo que a fila começa a andar. - vamos andando.
Ficamos num silêncio absurdamente desconfortável e eu observo que nossa vez de aproxima.
- Trouxe sua identidade? - ele pergunta para mim.
- Trouxe sim, Charliezinho - fala Sindy ao nosso lado.
- Ein, Tess? - ele a ignora e eu abafo uma risadinha.
- Esqueci em casa. Acho que você vai ter que passar o show todo com a Sindyzinha - murmuro a última palavra ao ouvido dele, que revira os olhos e junta as duas mãos, como se rezasse.
- Por favor, me mate, mas não faça isso comigo.
- Ué... Achei que vocês tivessem se beijado, e tudo o mais - digo. Menos de dez pessoas estão na nossa frente agora e os seguranças, carrancudos, checam suas identidades, a maioria com certeza falsa.
- Sim, nos beijamos, mas não foi nada demais.
- Ah, vai dizer que você não gostou... - jogo o verde.
- Bom... - ele começa e para no meio da frase.
Algo revira dentro de mim e eu procuro ignorar olhando para o céu e observando as estrelas cintilantes sob nossas cabeças.
- Quer saber? Isso não tem a mínima importância - digo, tornando a olha-lo. - afinal, você é totalmente livre para fazer o que quiser.
Ele comprime os lábios.
- Isso depende de você.
- O que depende de mim?
- O fato deu ser totalmente livre para fazer o que quiser.
Como se tivesse fugido de dentro da minha cabeça e se escondido no lugar mais obscuro e inalcançável da minha mente, as palavras somem e tudo o que fazemos é nos encarar.
Ele me olha de um jeito que faz com que sinta muita, muita, muita vontade de sorrir feito uma idiota. Faz muito tempo que eu não... Na verdade, nunca senti isso. É tão maravilhoso poder sentir algo novo antes de morrer, que acho que vou registrar a partir de agora todas as coisas novas e incrivelmente incríveis que eu sentir ou viver daqui para frente.
- É a nossa vez - ele finalmente quebra o silêncio entre nós.
Viro para a frente e dois guardas gordos e topetudos nos encaram.
- Vocês vão ficar aí parados a noite toda, ou vão entregar a droga das identidades?
- Ah, claro - fala Charlie, meio atrapalhado, tirando a identidade do bolso.
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[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e Tess
Fiksi RemajaEsse é o relato de uma garota com câncer que sabe que irá morrer, e de um garoto sem muitas expectivas na vida, cuja felicidade é encontrada nos olhos coloridos de uma menina ruiva. A contagem regressiva de Tess e Charlie é uma história sobre como...