70 dias

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Passaram-se dois dias desde o acontecido e eu ainda não recebi nenhuma notícia sobre a Kim. Das duas vezes que eu fui à casa do Charlie, ninguém me atendeu e eu simplesmente desisti de tentar procura-lo.

Eu não imagino pelo quê ele deve estar passando e gostaria de poder ajudá-lo.

Estou deitada na cama segurando a foto que tiramos no dia do Halloween e olho fixamente para o sorriso encabulado do Charlie. Apesar da saudade e da preocupação, vê-lo me faz sorrir.

São umas duas da tarde e estou quase entrando em estado vegetativo quando a minha mãe da batidinhas na porta e entra.

- Estou indo ao mercado, quer ir?

Apesar da preguiça descomunal, levanto e calço os pés. Qualquer coisa é melhor que permanecer deitada com os pensamentos fixos em algo que não conseguirei resposta.

- O Charlie deu alguma notícia? - pergunta minha mãe enquanto coloca o cinto de segurança.

- Não - respondo secamente.

- Está tudo bem, querida, não se preocupe. Você mesma disse que o ferimento foi próximo ao braço.

- É , Eu sei. Mas estou mais preocupada pelo Charlie. Tem noção do tanto de coisa que ele teve de passar nesse último mês?

- Imagino como deve estar sendo difícil pra ele.

Balanço a cabeça, mesmo tendo certeza que ela não imagina.

Chegamos ao supermercado e eu pego um carrinho. Vou empurrando ele bem atrás da minha mãe, que entra na primeira sessão e lê os itens da sua lista.

- Filha, pega dois litros de leite para mim, por favor.

Deixo o carrinho com ela e vou pelo mercado à procura do leite.

Sabe aquelas caixas de leite com um por do Sol distante e uma vaca? Pois é. Foi uma dessas caixas que - ao esticar a mão para pega-la - fez tudo surgir na minha mente como um passe de mágica. Agora eu me lembro das coisas que vivi com o Charlie antes do acidente e agora sei exatamente onde poderei encontrá-lo.

Corri de volta para a minha mãe.

- Mãe - paro à frente dela, ofegante. - Você precisa... Precisa me levar num lugar.

- O que foi? Você não está se sentindo bem? - ela joga no chão um pacote de açúcar e se aproxima de mim.

- Não é isso. Eu sei onde o Charlie está. A senhora precisa me levar até ele.

- Como assim, você sabe?

- Eu não sei. Só sei que sei... Por favor, mãe.

Ela para um tempo para analisar a situação, considerando se é melhor continuar suas compras normalmente ou se deve parar tudo e ir atrás de um garoto qualquer.

Ela respira fundo e apanha o açúcar do chão.

- Vamos.

[...]

Minha mãe dirigi em silêncio; eu também não faço questão de falar e, talvez por conta disso, o percurso até lá se torna quase interminável.

[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e TessOnde histórias criam vida. Descubra agora