Acabo de chegar em casa e deito no sofá. Me sinto muito cansada e, para completar, minhas pernas doem bastante.
...
Há dois dias, quando eu ainda estava no hospital, me perguntando e tentando lembrar quem era o tal de Charlie que a minha mãe havia falado (Ah, eu já lembro dos meus pais, apesar de não saber muito mais coisas sobre eles; sei que eles são meus pais e isso, por enquanto, basta) quando ele entra no quarto e sorri para mim.
- Como assim você não lembra de mim? - ele questiona, se aproximando. Havia uma faixa ao redor da sua cabeça e ele usava a mesma camisola de hospital que eu.
- Eu... Sinto muito, mas não consigo me lembrar de nada. Meus pais acabaram de sair e eu nem me lembro do nome deles.
- E... Isso é pra sempre?
Dou de ombros, desejando que não seja. Percebo que os olhos deles brilham.
- O médico disse que isso só vai durar alguns dias, ou semanas. Não sei.
- Ah... - Ele senta na poltrona ao lado da minha cama. Uma parte do lado esquerdo de sua cabeça está raspada e eu deduzo que ele deve ter tomado alguns pontos, como eu. - Mas você não lembra de nadinha? - balanço a cabeça negativamente. - nem de quando nos beijamos na sua casa? - Arregalo os olhos e sinto minhas bochechas queimarem. Ele ri e faz uma careta logo em seguida. - ai!... É brincadeira. Não ficamos... Ainda.
- Se eu fosse você não teria esperanças com isso.
- Certo... Você se lembra do meu irmão? - ele indaga.
- Não.
- Ele morreu - Charlie diz e apoia os braços nas pernas. - morreu nesse maldito acidente!
- Não foi culpa sua - digo tentando acalma-lo, mesmo que, no momento, ele seja um completo estranho para mim.
- Eu sei - ele diz com a voz abafada. - Mas eu vou sentir a falta dele. Quer dizer, desde que eu me conheço por gente, tenho o George como irmão.
...
- Vai tomar banho, filha - minha mãe me chama e eu abro os olhos.
- Minhas pernas estão doendo muito - informo.
Ela da a volta no sofá e estende os braços.
- Vem, eu te ajudo a subir.
Damos as mãos mas, quando ela me puxa para que eu possa levantar, não consigo sair do lugar. Simplesmente não sinto as minhas pernas.
- Não consigo - suspiro, desistindo.
- Calma, isso é normal, querida.
- Não é normal, mas para o Neuroblastoma é bastante comum.
Ela balança a cabeça.
- Fica aí deitada e eu te trago um lanche junto com seus remédios.
- Tá - ela me ajeita no sofá e liga a TV, mas torno a fechar os olhos. - Mãe, o Charlie já está em casa?
- Você já consegue se lembrar dele, querida? - ela pergunta de lá da cozinha.
- Não.
- Ah, que pena. Ele ainda está no hospital.
- Por que?
- Eu não sei, mas ele não vai poder sair até o fim da semana, foi o que o pai dele me disse.
- Ah - não sei muito bem o que dizer ou pensar, então prefiro encerrar o assunto. - cadê o papai?
- Ele nos deixou aqui e foi para o trabalho - ouço a voz da minha mãe se tornar mais próxima. Abro os olhos e ela está parada ao meu lado segurando um prato com sanduíches, um copo de suco e os remédios.
- Melhor você comer primeiro - minha mãe me ajeita no sofá e coloca duas almofadas nas minhas costas.
Tomo um gole do suco e dou uma pequena mordida no sanduíche de presunto.
- Eu estudo? - pergunto ao engolir.
Ela demora alguns segundos antes de me responder com um aceno de cabeça.
- Seu Colégio de chama McGregor.
- Ah... E eu tenho amigos?
- Você tem a mim e ao seu pai, querida - ela responde com doçura. Forço uma risada.
- Uau, se vocês dois são meus únicos amigos, então significa que a minha vida deve ser uma grande merda.
- Não diga isso - ela fala, sorrindo. - você tem o Charlie também, não se esqueça dele.
- Ha! Eu realmente me esqueci dele, mãe, não sei se você lembra.
- Mas um dia você se lembrará... Posso mudar de canal? - dou de ombros e ela pega o controle na mesma hora que escuto: "The Smiths estão numa incrível turnê pelo Reino Unido e farão seu próximo show aqui, em Manchester, no fim de outubro. Garanta já o seu ingresso...
- The Smiths... - digo para mim mesma.
- Você conhece essa banda? - minha mãe pergunta.
- Não, não conheço - mas há algo dentro de mim levemente intrigado com isso. Não sei dizer o que é.
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[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e Tess
Teen FictionEsse é o relato de uma garota com câncer que sabe que irá morrer, e de um garoto sem muitas expectivas na vida, cuja felicidade é encontrada nos olhos coloridos de uma menina ruiva. A contagem regressiva de Tess e Charlie é uma história sobre como...