- Preparada para a semana de provas? - me pergunta Eileen na hora do intervalo.
- Semana de provas? Ah, é. Acho que sim, sei lá - respondo, meio distraída com a minha comida.
Eu não falo com o Charlie desde ontem à noite, depois do jantar. Quando nos despedimos e eu cheguei em casa, minha mãe veio atrás de mim me perguntando sobre cada detalhe de como havia sido, fui para o quarto depois de conseguir me livrar dela e deitei na cama.
Mais ou menos uma hora depois, fui acometida por uma vontade súbita de falar com o Charlie, então levantei e desci para ligar para ele, mas a luz infelizmente acabou e eu não pude.
Então, sentindo o coração estranhamente apertado, voltei para a cama.
- Quer ir na minha casa depois do Colégio pra começar a estudar?
- Hum... É, pode ser.
Mas, quando o sinal toca liberando todos os alunos e eu saio do Colégio com a Eileen, encontro o John encostado no seu carro.
- O que você está fazendo aqui? - pergunto assim que me aproximo dele.
- Vim ver você. O que acha de darmos uma volta?
- Hum... Eu combinei de ir estudar com a Eileen.
- Ah, mas pense que nós dois não teremos muitas oportunidades em dar uma volta juntas, certo? E eu aposto que a Eileen não vai se importar - ele lança um olhar para ela, que quase derrete ao meu lado.
Eu reviro os olhos e digo:
- Tudo bem. Eileen, amanhã estudamos, ok?
- Certo - ela diz, da um tchauzinho meio abobalhado para o John e sai desfilando com suas duas tranças.
- Vamos?
Entramos no carro super chique dele cujo nome eu desconheço totalmente, e logo estamos na rua principal em direção a lugar nenhum.
- Seu namorado não vem te buscar no Colégio?
- Às vezes... E ele não é meu namorado, John...
- É, já sei, já sei, ele é o senhor seu marido. É que é muito estranho pra mim dizer isso.
- Entendo... Posso colocar música?
- Fique à vontade.
Eu não sei que tipo de música ele gosta, mas quando ligo seu toca fitas, começa a tocar Take on me do A-ha; minha mãe estava ouvindo essa música semana passada enquanto arrumava a casa e eu, inevitavelmente me lembrei do Charlie.
"Aceite-me, aceite-me,
Partirei em um ou dois dias.
Oh, as coisas que você diz,
É a vida ou apenas para espantar minhas preocupações?
Você é tudo que eu tenho que lembrar,
Você está se afastando
Estarei vindo para você de qualquer maneira..."
- Você pode virar a próxima à direita, por favor? - peço.
- Que foi?
- Nada não - digo, colocando o braço para fora e sentindo as gotas da chuva que começam a cair. - sua avó melhorou alguma coisa?
- Não - ele responde secamente e eu sinto que ele não quer falar sobre.
- Como é a vida lá nos Estados Unidos? Você tem alguma namorada?
- A vida lá é legal... Quer dizer, as pessoas são mais nervosas e às vezes meio mal educadas, mas com o tempo você se acostuma.
- Então já sei se onde você adquiriu sua nova característica - ele ri. - mas você não respondeu sobre a namorada.
- Ah, não, eu não tenho nenhuma namorada. No momento estou totalmente focado nos estudos para conseguir entrar numa boa faculdade.
- Onde você pretende fazer?
- Harvard.
- Como eu não consegui advinhar? Vira a esquerda aqui - aponto para a entrada da rua do Charlie.
Logo estamos parados em frente à casa dele.
- Me espera aqui.
Saio do carro e vou até a porta da casa dele, onde toco a campainha algumas vezes e ninguém me atende.
- Ei! - ouço a voz do John me chamar e viro. Ele aponta para um carro laranja que se aproxima da casa. É o pai do Charlie.
- Está procurando pelo Charlie? - ele pergunta, saindo do carro. Balanço a cabeça e vou até ele. - ele, a Meredith, a Kim e a Susan sumiram. Quer dizer, eles não sumiram, devem ter ido embora, mas eu não sei para onde foram.
Engulo em seco, minha garganta totalmente travada.
- O-o que você quer dizer com "devem ter ido embora"? O que aconteceu?
- Eu e a Meredith estamos... estamos passando por problemas, entende? E acho que, para se vingar, não sei, ela decidiu ir embora.
- MAS PARA ONDE ELE FOI? - berro desnecessariamente, pois sei que ele também não faz ideia. Minhas mãos e pernas começam a tremer e eu preciso sentar. Na verdade, eu preciso fazer alguma coisa. Preciso.. Preciso ir atrás do Charlie.
Dou as costas para o homem parado à minha frente e saio andando pela rua como se eu soubesse exatamente para onde estou indo.
Ando alguns metros até sentir duas mãos em volta dos meus braços frágeis. Fecho meus olhos e desejo, desejo com mais força do que jamais desejei qualquer coisa em toda a minha vida, que seja o Charlie. Obviamente, não é. É o John. Ele parece preocupado. Meus olhos se enchem de lágrimas e eu digo bem baixinho.
- Quero sair daqui - Eu não sei se é por causa de tudo o que estou sentindo, ou se tem só haver com meu câncer, mas parece que todo o sangue do meu corpo se esvai, sinto uma explosão de dor no meu abdômen e nas pernas e eu caio.
Diferentemente do Charlie, o John não me segura e eu bato o rosto no chão com força. Dessa vez, eu não apago, por isso acompanho todo o esforço que ele faz para me carregar e me colocar no carro.
- Tess? Você está bem? - ele tem a pachorra de perguntar. Meus olhos estão semicerrados e eu não tenho forças para abri-los.
- Me leva... pra ca... casa.
- Casa? Ah, certo, casa... Vou te levar pra casa, é - ele fala, Claramente atrapalhado e despreparado para tudo aquilo.
Fecho os olhos para ver se consigo adormecer e não sentir mais essa dor que me corrói por dentro. A dor do corpo e, a pior de todas, a da alma...
Ooh God, e agora? O que será de nós? Bom, isso só saberemos no próximo capitulo. 💙💙💙💙⭐
VOCÊ ESTÁ LENDO
[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e Tess
Teen FictionEsse é o relato de uma garota com câncer que sabe que irá morrer, e de um garoto sem muitas expectivas na vida, cuja felicidade é encontrada nos olhos coloridos de uma menina ruiva. A contagem regressiva de Tess e Charlie é uma história sobre como...