55 dias. Os dois caras.

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Apesar de ter explicado que nós dois não fizemos nada demais, eu estou de castigo há quase uma semana.

Hoje é sábado e eu estou morrendo de tédio no chão do meu quarto, ouvindo os primeiros convidados dos meus pais chegarem.

Engraçado, eles que têm toda uma vida pela frente estão lá embaixo, se divertindo; e eu, cujos dias contados voam de pressa, estou aqui em cima, há cinco dias sem ver o Charlie.

Ouço um "toc-toc" na porta e logo em seguida ela abre: é a minha mãe, ela trás o meu jantar.

- Isso é cárcere privado, sabia.

- Você pode comer lá embaixo, se quiser. Só imaginei que não fosse querer ficar no meio de tantas pessoas.

- Hum - ela entra e eu coloco meu prato no chão à minha frente.

- Filha, agora que estamos mais calmos - (eles realmente ficaram uma fera quando me viram dormindo, abraçada ao Charlie, só de calcinha) - pode me contar o que aconteceu, de verdade?

Eu não havia contado à eles que eu e o Charlie havíamos nos casado. E nem pretendo, sinceramente. Meus pais me amam, mas são meio malucos quando se trata da minha proteção.

- Nada. Eu gosto do Charlie, ele gosta de mim, e ainda assim, quando eu tirei o vestido e fiquei só de calcinha, ele me respeitou. Você deveria ama-lo por isso.

- Não é assim que as coisas funcionam.

- Ah, não? E como funcionam?

- É muito complicado, filha.

Balanço a cabeça e não consigo controlar o impulso de dizer:

- Você sabe que se eu tiver outra oportunidade com o Charlie, e ele estiver afim, nós transaremos né? - Isso é uma grande mentira. Eu não estou com pressa de fazer isso, e nem sei se realmente quero. Quanto a isso, a opinião do Charlie pouco importa. Digo isso apenas para enfrenta-la; mostrar que esse castigo, além de ser babaca, não serve para nada. - qual o problema de você e do papai, ein? Ao invés que querer que eu viva a minha vida ao máximo, vocês me colocam de castigo por uma coisa que eu nem cheguei a fazer?! Me poupe.

Ela me olha e diz:

- Se você tivesse um filho...

- Mas eu não vou ter, porque vou morrer em, no máximo, três meses. Quando você vai cair na real?

- Filha...

- Eu não quero mais falar - digo, crontrolando a irritação. Sem nenhuma palavra, ela sai.

Como meu jantar em silêncio e arrasto o prato para o lado ao terminar.

"Psiu" eu ouço, bem distante. "Psiu" outra vez. "Ei" alguém chama, lá de baixo, a voz num sussurro meio alto.

Levanto e vou até a janela, o Charlie está lá embaixo, encostado em seu Ford, olhando para cima.

- Vamos sair?

- Take me out to night - canto o início da música "There's a light that never goes out" dos Smiths. Passei a semana toda, mergulhada nas letras fascinantes e na melodia da banda. Eles são o máximo.

[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e TessOnde histórias criam vida. Descubra agora