[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e Tess

This Just Ain't Living

Todo dia, antes de dormir, eu sinto como se não fosse ver a luz do Sol outra vez. Sinto que, assim que eu fechar meus olhos, tudo estará acabado; me sinto cansada, enjoada, dolorida e quase morta. O Dr. disse que isso é aparentemente normal pois, já que não estou fazendo quimio, o câncer, obviamente, está evoluindo dentro de mim.

Perguntei-lhe porque de dia não sinto essas coisas, e ele respondeu:

- De dia seu corpo geralmente está agitado; você toma seus remédios e vai fazer alguma coisa. Mas, à noite, quando tudo está parado e você só pensa no que está acontecendo dentro de você, as coisas tendem a parecer piores. E o fato de você não tomar seus remédio contribui para isso - quando ele nos indicou os remédios que eu deveria tomar para diminuir as minhas dores, ele disse que eu não deveria toma-los antes de dormir. - se você conseguir passar por isso, viverá seus últimos dias muito bem.

- E depois, obviamente, eu vou morrer.

- É... Mas todos iremos morrer um dia - diz o Dr. com certa paciência.

- Eu sei, eu sei... Faz muito tempo que eu não sonho com essas coisas bobas, mas... seria realmente bom morrer como a maioria das pessoas.

- De ataque cardíaco? - pergunta ele, meio sorridente.

- Não. De velhice, sabe... Me diz, como é saber que a única coisa que te impede de morrer velho é a probabilidade de tomar um tiro ou... sei lá, ter um infarto. Qual é a sensação de saber que a sua morte é totalmente imprevisível e, por não saber quando ela vai chegar, você não tem medo de fazer as coisas que gosta de fazer?... Sabe, esses remédios que estou tomando me darão uns dias a mais de vida, mas eu gostaria mesmo é de não saber como vou morrer. É... angustiante saber que um dia irei dormir e não vou acordar nunca mais. É pior ainda ter consciência que a minha mãe vai entrar no meu quarto, me chamar pra ir pro Colégio e ver que eu não estou mais respirando... - baixo a cabeça e respiro muito fundo. - Desculpe.

- Eu entendo a sua dor, Tess... Já vi muitos pacientes na sua situação. Imagino como deve estar sendo difícil pra uma garota de dezessete anos ter só mais alguns meses de vida... Eu realmente gostaria de poder te ajudar, mas não há nada que eu possa fazer. Viva seus últimos dias como se você estivesse numa série de TV; aproveite cada segundo e, antes de dormir, se despeça das pessoas que você realmente ama.

Balanço a cabeça e levanto da cadeira à frente dele.

- Eu vou fazer isso, obrigada.