30 dias. Minha mãe.

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Chegamos em casa e a Kim corre para o telefone, enquanto eu levo nossas coisas para o andar de cima. Meus pais passam por mim e eu já sei que uma briga daquelas vem por aí. Isso me deixa ainda mais bravo do que já estou.

Dentro do meu quarto, tudo é muito silencioso, mas do lado de fora, a minha mãe grita muito. Não consigo segurar. Escancaro a porta com força e atravesso o corredor em direção ao quarto dos meus pais. Antes que eu pudesse abrir a porta, escuto minha mãe berrar:

- VOCÊ DEU MEU ANEL PARA UMA QUALQUER! QUAL O NOME DELA, EIN?

Meu pai não deu anel à mulher nenhum, pois fui eu que o peguei nas coisas da minha mãe quando fui pedir a Tess em casamento.

Sinto a culpa percorrer meu corpo. Do outro lado da porta, ouço meu pai dizer:

- Certo, você descobriu que eu... que eu estava saindo com outra pessoas, mas... EU NÃO DEI À ELA O SEU ANEL!

A primeira coisa que penso em fazer após ouvir essa discussão, é ir na casa da Tess pegar o anel, por isso passo pelo quarto dos meus pais e vou em direção À escada, mas algo me faz parar abruptamente. Algo que eu não sei se consigo continuar aguentando calado. Com toda a raiva estrapolando pelas minhas veias, eu corro de volta e escancaro a porta do quarto dos meus pais, onde vejo meu pai... meu maldito pai segurando com as duas mãos o pescoço vermelho da minha mãe. - Chega! - eu grito, e não espero por uma reação dele, corro em sua direção e o empurro com ódio. Ele cai na cama ao mesmo tempo que a minha mãe cai no chão, respirando afobadamente.                       

- QUAL O SEU PROBLEMA, EIN? POR QUE VOCÊ TEM QUE FICAR FAZENDO ESSAS COISAS COM ELA? QUAL... O SEU... MALDITO PROBLEMA?                       

- Charlie... - minha mãe tenta dizer. - Charlie, me... me tira daqui. Me leva lá pra baixo.                       

Eu a ajudo a levantar e lanço um olhar para o meu pai, que permanece estatelado na cama. Talvez ele tenha percebido o quão babaca ele é. O quão patético ele se tornou, depois de todos esses anos. Quem ele pensa que ele é pra bater nela assim?                       

Eu a levo para o meu quarto e ela deita em posição fetal na minha cama. Vejo que está chorando bem baixinho, enquanto acaricia suavemente as marcas roxas em seu pescoço. O sofrimento dela é palpável. Eu não sei pelo que ela está passando, mas posso sentir, e isso não é bom. Tudo o que eu quero fazer é voltar lá naquele quarto e esfolar meu pai, mas me controlo.                       

- Quer alguma coisa? Um chá? Uma água?                       

- Querido - faz muito tempo que ela não me chama assim. - você... você pode me deixar um pouco sozinha, por favor?                       

- Tudo bem, mãe... Eu vou estar lá embaixo, ok? Qualquer coisa me chama.                       

Ela apenas balança a cabeça e eu saio.                       

Chego na sala e disco o número da casa da Tess.                       

- Alô? - ela atende.                       

- Oi querida, sou eu... Ligue pra avisar que não poderei ir hoje.                       

- Aconteceu alguma coisa? - ela pergunta, cheia de preocupação.                       

- Não, não aconteceu... quer dizer, aconteceu, mas... não quero falar sobre isso agora. Amanhã eu passo aí, tudo bem?                       

- Sem problemas... Se alguma coisa acontecer, você me diz, ok? Não esconda nada de mim.                       

- Isso serve pra você também, mocinha.                       

- CHARLIE! CHARLIE VEM AQUI EM CIMA, RÁPIDO! - é a Kim. Ela me grita desesperadamente e a única reação que eu tenho é jogar o telefone no chão, sem nem me despedir da Tess, e correr parar o andar de cima. Vejo a porta do meu quarto aberta e entro.                       

Meu coração literalmente para por dois segundos.                       

Minha mãe está sentada no chão em frente à porta do armário, um dos meus cintos preso à sua garganta e a outra ponta presa na maçaneta da porta. Ela está totalmente roxa e desacordada.                       

Não sei se está morta                       

[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e TessOnde histórias criam vida. Descubra agora