60 dias. O grande, maravilhoso, incrível e inesperado pedido.

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Cinco dias se passaram desde que o Charlie foi embora. Agora ele está morando num quarto de hotel que, se  precisasse se tornar uma espelunca, teria melhorar bastante. O quarto tem um tom de bege estranho, uma cama, uma cômoda velha e um banheiro. Eu só fui visita-lo uma vez desde que ele se mudou e agora estou me arrumando para espera-lo.

"Eu sei que não é necessário, mas hoje eu quero que você se arrume um pouco mais que o habitual" ele disse ao ir me buscar no Colégio. " vou te buscar às seis, tudo bem pra você?"

E desde então eu não conseguia parar de pensar no que ele está tramando.

Coloco o mesmo vestido branco que usei na noite do baile e, ao ouvi-lo buzinar lá embaixo, desço correndo.

- Para onde está indo, querida?

- Vou sair com o Charlie - digo antes de bater a porta atrás de mim.

- Você não podia estar mais perfeita - ele diz assim que entro no carro. - preparada para a melhor noite de nossas vidas?

Sinto um friozinho gostoso na barriga.

- Como assim?

Ele gargalha teatralmemte e liga o carro, sem me responder.

A viagem de carro demora mais que o normal, mas isso não significa que esteja sendo ruim. Muito pelo contrário. Eu e o Charlie estamos fazendo uma brincadeira de perguntas e respostas e agora é a minha vez de lhe perguntar algo.

- Huuum... Deixa eu ver... Se você pudesse conhecer qualquer lugar no mundo, para qual iria?

- Olha, se você me perguntasse isso há umas semanas, eu sem dúvida diria Londres, mas, depois de tudo o que aconteceu, acho que eu amaria conhecer Nova York. Com você, é claro.

- Sinto muito, senhor, mas só um desses desejos pode se tornar realidade - digo com meu humor meio mórbido e, como era de se esperar, ele não ri. Eu preferia que tivesse rido e dito algo engraçado sobre a minha morte. Mas o fato dele ter de calado abruptamente por alguns segundos, me fez perceber o quanto ele gosta de mim; eu estou paradoxamente contente e machucada por isso.

- Você já gostou de alguém antes? - ele pergunta após algum tempo calado.

- Não - respondo, meus olhos cegamente fixos nas luzes à minha frente. Tudo passa muito rápido, mas eu quero ver os detalhes. - Você é o primeiro... E com certeza será o último - eu completo, não querendo deixar as coisas mais tensas do que já estão.

- Isso é bom, eu acho - ele diz. - Sabe, o lugar para onde estamos indo hoje é relativamente perigoso, mas também é muito especial, porque os Smiths fizeram uma música em homenagem. Tem ideia de onde seja?

- Não faço a mínima ideia.

- Rusholme - ele conta.

- Rusholme... Já ouvi falar.

- Abra o porta luvas, por favor - faço o que ele pede e encontro um papel lá dentro. - pode ler em volta alta?

"So ... scratch my name on your arm with a fountain pen (This means you really love me).

"Então... escreva meu nome no seu braço. Com uma caneta (Isto significa que você me ama de verdade)".

Leio e estou tão perdida quanto estava há alguns segundos atrás, antes de ler.

- É um trecho da música - ele informa. - já estamos chegando.

- Certo... Mas o que eu tenho que fazer agora, exatamente?

- Nada - Charlie responde e olha para mim, sorrindo.

Dentro do peito, meu coração bate com toda a força do mundo.

Finalmente o Charlie estaciona o carro numa Rua iluminada por alguns postes velhos.

- Chegamos?

- Vamos.

Ele abre a porta e sai. Eu o acompanho e, ao sair, leio a plaquinha da rua que diz: " Estrada Birchfields".

Há alguns metro de nós, eu vejo um muro gradeado impedindo que as pessoas entrem no que parece ser um parque bastante bonito.

Charlie segura a minha mão e caminhamos na direção do parque e começamos a dar a volta nele. Tudo está deserto e meio escuro, mas eu não sinto medo, pois estou com ele.

- Eu realmente não sei como fazer isso - Charlie começa. Apesar do frio, noto que sua mão está suando bastante. - mas vamos lá - ele pigarreia, tira um papel dobrado do bolso e lê, ainda estamos andando, dando a volta no perímetro do parque:

  - "A um ser Estranho. Estranho ser que passas! Não sabes com que ansiedade ponho meus olhos em ti; bem podes ser aquele que eu andava buscando... - meus olhos estão fixos nele, que apesar olha para o papel e segura firme a minha mão. - algures eu certamente já vivi contigo, tudo é lembrado um pelo outro, fluidos, afeiçoados, castos, amadurecidos; creceste junto comigo, foste menina comigo, comi contigo e dormi contigo... Tu das a mim o prazer de teus olhos, rosto, carne... Em troca, eu não estou para falar contigo, mas para pensar em ti quando me sinto sozinho ou quando à noite desperto sozinho. Estou à espera, não duvido de que estou para encontrar-te outra vez, com isso estou por vez que não te perco" - ele termina e olha para mim. - Walt Whitman, o poeta mais apaixonado do mundo.

- Eu não sabia que você gostava de poemas - digo, sem ter nada melhor para falar.

- Eu não sabia que gostava de um monte de coisas, até te conhecer.

Sei que estamos retornando ao ponto de partida, pois já consigo ver o carro do Charlie à distância.

- Eu pensei nisso por dias, sabe, e eu cheguei até a pensar em deixar para lá, mas eu não podia. Simplesmente não podia!

- Onde você quer chegar?

Em resposta, ele aponta para a frente e eu vejo um homem de terno parado bem no portão do parque. No chão, a seu lado, vejo alguma coisa que não consigo identificar.

- Não entendi.

Ouço ele respirar muito fundo e parar, há poucos metros de alcançarmos o tal homem.

- Você quer casar comigo, Tess?

Essa pergunta definitivamente me pega de surpresa. Tudo no meu corpo parece parar de funcionar, incluindo minhas cordas vocais.

Agora ele segura as minhas duas mãos e me olha tão fixamente que, só agora, eu percebo de verdade, do fundo do meu coração, a intensidade com que eu o amo.

- E-eu... - gaguejo e ele sorri

Ele tira uma caneta do bolso e me entrega. Eu sei exatamente o que fazer.

Mas, ao invés de escrever seu nome em meu braço, eu levanto a mão pedindo para ele esperar, atravesso a rua em direção ao carro (as pernas tremendo feito vara verde) e me olho pelo espelho retrovisor.

PESSOAAAS espero que estejam gostando da da história. Escrevo com muito carinho sempre 💙 obrigada por tudo.

[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e TessOnde histórias criam vida. Descubra agora