68 dias. A discussão.

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É domingo e o Charlie já está na minha casa há dois dias.

Antes de ontem, na primeira noite que ele passou aqui, minha mãe trocou os lençóis do quarto de hóspedes para ele, que não demorou a dormir logo após o jantar (meu pai não pareceu se incomodar com a estadia do Charlie na nossa casa).

Eu, pelo contrário, deitei na cama com meu costumeiro medo de fechar os olhos e, quando o sono foi se aproximando, meus pensamentos vagamente fixos no Charlie, fui acometida pelo mesmo enjoo sempre; abro os olhos e sento na cama para respirar melhor, minha cabeça girando como se eu tivesse dentro de algum daqueles brinquedos malucos de parque de diversão.

"Calma, Tess, isso vai passar" repito meu mantra de todas as noites, mesmo sabendo que isso só passará quando eu morrer.

Minha mãe, como de praxe, parecia estar de butuca do lado de fora do quarto, esperando apenas por algum sinal para que ela pudesse entrar no meu quarto.

- Mãe, hoje não precisa, sério. Eu tô bem - minto, querendo tirar o olhar preocupado do rosto dela. - só vou pegar água.

- Não filha, deixa que eu pego pra você.

- Mãe, relaxa, sério - forço um sorriso e levanto, meio trôpega. - vai dormir, eu estou bem.

- Tem certeza?

- Certeza absoluta.

Ela me dá um beijo suave na testa e sai do quarto.

Torno a sentar na cama, respiro fundo e levanto mais uma vez.

Me arrasto para fora do quarto e sigo pelo corredor, me apoiando na parede.

Passo pelo quarto em que o Charlie dorme e vejo a porta entreaberta.

Seguro o corrimão e começo a descer lentamente, a tontura parece diminuir.

Estou totalmente orgulhosa de mim ao chegar no fim da escada; caminho lentamente para a cozinha, onde pego um copo e encho de água gelada.

Enquanto bebo lentamente a água, respirando fundo de vez em quando, sinto uma dor lancinante na base da minha coluna que vai em direção às minhas pernas; isso me faz largar o copo de viro e, três segundos após ouvi-lo se despedaçar no chão, caio e grito de dor ao sentir os cacos de vidro se cravando em minhas mãos.

A tontura, que havia passado brevemente, voltou e eu fecho os olhos para não ficar ainda mais enjoada. Não adianta muita coisa. Apesar de não sentir minhas pernas, faço um esforço para me ajeitar no chão - os cacos me ferindo ainda mais - e um jato de tudo o que eu comi no dia sai pela minha boca.

- Tess!... Aí meu Deus, Tess - ouço a voz dele ficar mais próxima de mim. Sem nenhum nojo de toda a sujeira que eu acabo de fazer, ele me pega em seus braços e me carrega.

Tudo ainda gira e eu sinto mais vontade de vomitar; minhas mãos doem, minha cabeça dói e, eu poderia dizer que minhas pernas doem, mas eu não as sinto.

- Banheiro - consigo dizer, meio engasgada.

Ele sobe a escada com bastante velocidade e me leva ao banheiro.

- Ainda está enjoada? - pergunta. Com muito esforço, balanço a cabeça.

Charlie me coloca no chão ao lado do vaso sanitário.

[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e TessOnde histórias criam vida. Descubra agora