104 dias. O pedido.

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Eu não consigo disfarçar o quão surpresa estou; por isso, encaro o Charlie há quase um minuto. Ele também não diz nada, o que torna tudo ainda pior.

- É... - tento dizer, mas paro.

- Eu não quis dizer o que você acha que eu quis dizer.

- Hum... Quê?!

- Quer dizer, sei lá. Eu... você sabe. A gente... amigos e tudo mais e... Entende?

Eu não sei se ela está fingindo, ou se realmente seus neurônios pifaram.

- Charlie? Você pode, por favor, falar que nem gente?

Ele suspira e solta uma risada esquisita.

- Relaxa, estou brincando.

- Tem certeza?

- É claro que eu tenho certeza!

- Ótimo.

- Ótimo!

- Da pra você parar de falar assim?

- Assim como?!

- Desse jeito.

- Ha! Você é engraçada!

Ele me dá as costas e sai em direção à porta.

- Aonde você está indo?

- Arrumar as minhas coisas para viagem, vem.

Saímos da casa dos pais dele e entramos na garagem, onde ele mora. É um lugar bem legal, tirando o fato que está desorganizado e cheira a maconha velha. A cama dele está num canto, coberta de roupas sujas e limpas, um toca fitas supermaneiro está à direita, enquanto uma cômoda e uma mini geladeira estão postadas à esquerda.

Na parede há vários posters de bandas de Rock, incluindo The Smiths, que são a maioria.

- Que bacana - digo. Ele balança a cabeça, como se estivesse muito orgulhoso do trabalho feito ali.

- Eu sei - entramos na garagem e ele fecha a porta. Vou para a cama, arrasto algumas roupas para o lado e sento. - mas estou planejando sair de casa.

- Por que?

- Sei lá, eu não me dou muito bem com meus pais - ele diz e tira uma mala empoeirada debaixo da cama. - não brigamos o tempo todo, entende? Mas... às vezes sinto como se eles não me quisessem aqui.

- Ah. Que droga. Mas pra onde você vai?

- Com o dinheiro que meu irmão me dá - ele levanta e vai até a cômoda. Abre a primeira gaveta e separa algumas roupas. - eu poderia pagar um apartamento pequeno e, com o que sobrar, consigo me sustentar.

- Tem certeza que consegue?

Ele dá de ombros e joga de qualquer jeito as roupas dentro da mala.

- Espero que sim.

- Ah... - penso em fazer uma pergunta à ele, mas não quero que essa minha pergunta faça brotar ideias em sua cabeça. Melhor deixar pra lá. - seus dois pais são judeus?

[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e TessOnde histórias criam vida. Descubra agora