Ela está encostada na parede do outro lado da quadra. Empurro a Kimberley para o lado e caminho na direção dela; Tess segura um copo de ponche vermelho, que combina perfeitamente com seus cabelos.
Ela está séria e quando eu me aproximo, toma um longo gole da sua bebida.
- Achei que você não fosse vir.
- E eu achei que você não estava me seguindo, mas...
Dou risada.
- Olha, eu não sei se você sabe, mas eu só vim por causa da minha irmã - digo e ela dá o último gole em seu ponche.
- Ah, você tem uma irmã... - ela diz, como se tivesse acabado de descobrir que eu tenho um tigre de estimação. - Essa música é tão incrivelmente chata.
- Seria bom se eles tocassem The Smiths - comento.
- Quem? - ela pergunta com certa tranquilidade. Arregalo os olhos e ela arqueia as sobrancelhas.
- Você... Você não conhece The Smiths? - ela balança a cabeça. Com algum impulso, seguro seu braço fino e ela da um passo para trás, meio assustada.
- O que você quer?
- Calma. Eu não vou te sequestrar. Vamos até o Dj - aviso e ela parece ficar mais tranquila.
Passamos pelas poucas pessoas na pista de dança e subimos os dois degraus do palanque repleto de bexigas de ar, onde o Dj está.
- Ei cara! - grito por cima da música para que ele possa me ouvir e olhar para mim. - toca aí This Charming man.
- The Smiths? - pergunta o cara, trocando as fitas. Lanço um olhar para Tess como quem diz: TÁ VENDO? TODO MUNDO CONHECE THE SMITHS.
A música começa a tocar e ela balança a cabeça.
- Eles são legalzinhos - fala e eu arregalo os olhos com exagero e abro a boca.
- COMO OUSA? - a puxo para a pista de dança e começo a dançar. Ela fica parada, me encarando com os olhos sorridentes. Estendo as mãos para ela, que hesita um pouquinho antes de segura-las. Giro a Tess uma vez e quando ela torna a ficar de frente para mim, está rindo. Rindo de verdade. - e aí? Está gostando da música?
- Sim - ela responde, balançando o corpo numa espécie de dança particular.
A música termina alguns minutos depois e o Dj torna a colocar as músicas chatas de discoteca dos anos 60.
Paramos de dançar e agora ela já não sorri mais.
- Eu... Acho que preciso de um pouco de ar - fala. Na mesma hora eu entendo que ela não está se sentindo bem. Torno a segura-la pelo braço e a levo em direção à porta. Saímos da quadra, descemos as duas escadas e logo estamos do lado de fora do Colégio, no pátio.
- O que aconteceu? - pergunto e a gente senta no banco de madeira.
- Eu não me senti bem, só isso.
- Não é só isso - digo.
- É só isso sim - ela responde, respirando muito fundo e encarando o chão. - Não vamos falar sobre isso - ela encerra o assunto e eu aceito.
- Certo. Do que você quer falar, então?
Ela dá de ombros e cruza as pernas.
- Você é um daqueles caras revoltados que usam preto o tempo todo e roubam mercados?
- Quê? Não! Quer dizer, talvez eu use preto na maioria das vezes, mas eu não sou revoltado e muito menos ladrão.
- Ah, então me desculpe.
- Pelo quê?
- Por ter pensando que você era assim - ela fala, finalmente levantando os olhos para mim.
- Hum... Então significa que você pensou em mim? - pergunto e ela ri. Cara, o sorriso dessa garota poderia parar a Alemanha na Segunda Guerra Mundial.
- Cala a boca.
- Charlie? - ouço uma voz conhecida me chamar. Viro a cabeça e vejo a Mary.
Mary é a minha ex-namorada; nos separamos há alguns meses porque ela me pegou ficando com outra garota e isso causou uma briga muito séria entre nós. Eu já nem gostava mais dela, mas sei o quanto o que eu fiz foi errado.
- Oi Mary.
- O que está fazendo aqui? - ela pergunta como se o baile -lhe pertencesse.
- Vim trazer a minha Kim.
- Ah... Quem é a sua amiga? - olho para Tess, que nos observa muito séria.
- Não somos amigos - ela fala.
- Essa é a Tess - digo.
- Oi Tess - cumprimenta Mary. - gosto do seu cabelo.
Tess força um sorriso e faz um sinal de positivo com o polegar.
- Quer voltar lá pra dentro? - pergunto à ela, que balança a cabeça.
Levanto primeiro e como ela demora um pouco para se levantar, Mary se adianta até mim e me abraça.
- Quero conversar com você - diz, seus braços Ainda bem apertados em volta da minha cintura.
- O que?
- Vamos voltar?
Antes que pudesse pensar em alguma coisa para dizer, ouço um gemido e viro a cabeça rapidamente para ver Tess inclinando o corpo para a frente e caindo de cara no chão.
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[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e Tess
Novela JuvenilEsse é o relato de uma garota com câncer que sabe que irá morrer, e de um garoto sem muitas expectivas na vida, cuja felicidade é encontrada nos olhos coloridos de uma menina ruiva. A contagem regressiva de Tess e Charlie é uma história sobre como...