112 dias. Mary

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Ela está encostada na parede do outro lado da quadra. Empurro a Kimberley para o lado e caminho na direção dela; Tess segura um copo de ponche vermelho, que combina perfeitamente com seus cabelos.

Ela está séria e quando eu me aproximo, toma um longo gole da sua bebida.

- Achei que você não fosse vir.

- E eu achei que você não estava me seguindo, mas...

Dou risada.

- Olha, eu não sei se você sabe, mas eu só vim por causa da minha irmã - digo e ela dá o último gole em seu ponche.

- Ah, você tem uma irmã... - ela diz, como se tivesse acabado de descobrir que eu tenho um tigre de estimação. - Essa música é tão incrivelmente chata.

- Seria bom se eles tocassem The Smiths - comento.

- Quem? - ela pergunta com certa tranquilidade. Arregalo os olhos e ela arqueia as sobrancelhas.

- Você... Você não conhece The Smiths? - ela balança a cabeça. Com algum impulso, seguro seu braço fino e ela da um passo para trás, meio assustada.

- O que você quer?

- Calma. Eu não vou te sequestrar. Vamos até o Dj - aviso e ela parece ficar mais tranquila.

Passamos pelas poucas pessoas na pista de dança e subimos os dois degraus do palanque repleto de bexigas de ar, onde o Dj está.

- Ei cara! - grito por cima da música para que ele possa me ouvir e olhar para mim. - toca aí This Charming man.

- The Smiths? - pergunta o cara, trocando as fitas. Lanço um olhar para Tess como quem diz: TÁ VENDO? TODO MUNDO CONHECE THE SMITHS.

A música começa a tocar e ela balança a cabeça.

- Eles são legalzinhos - fala e eu arregalo os olhos com exagero e abro a boca.

- COMO OUSA? - a puxo para a pista de dança e começo a dançar. Ela fica parada, me encarando com os olhos sorridentes. Estendo as mãos para ela, que hesita um pouquinho antes de segura-las. Giro a Tess uma vez e quando ela torna a ficar de frente para mim, está rindo. Rindo de verdade. - e aí? Está gostando da música?

- Sim - ela responde, balançando o corpo numa espécie de dança particular.

A música termina alguns minutos depois e o Dj torna a colocar as músicas chatas de discoteca dos anos 60.

Paramos de dançar e agora ela já não sorri mais.

- Eu... Acho que preciso de um pouco de ar - fala. Na mesma hora eu entendo que ela não está se sentindo bem. Torno a segura-la pelo braço e a levo em direção à porta. Saímos da quadra, descemos as duas escadas e logo estamos do lado de fora do Colégio, no pátio.

- O que aconteceu? - pergunto e a gente senta no banco de madeira.

- Eu não me senti bem, só isso.

- Não é só isso - digo.

- É só isso sim - ela responde, respirando muito fundo e encarando o chão. - Não vamos falar sobre isso - ela encerra o assunto e eu aceito.

- Certo. Do que você quer falar, então?

Ela dá de ombros e cruza as pernas.

- Você é um daqueles caras revoltados que usam preto o tempo todo e roubam mercados?

- Quê? Não! Quer dizer, talvez eu use preto na maioria das vezes, mas eu não sou revoltado e muito menos ladrão.

- Ah, então me desculpe.

- Pelo quê?

- Por ter pensando que você era assim - ela fala, finalmente levantando os olhos para mim.

- Hum... Então significa que você pensou em mim? - pergunto e ela ri. Cara, o sorriso dessa garota poderia parar a Alemanha na Segunda Guerra Mundial.

- Cala a boca.

- Charlie? - ouço uma voz conhecida me chamar. Viro a cabeça e vejo a Mary.

Mary é a minha ex-namorada; nos separamos há alguns meses porque ela me pegou ficando com outra garota e isso causou uma briga muito séria entre nós. Eu já nem gostava mais dela, mas sei o quanto o que eu fiz foi errado.

- Oi Mary.

- O que está fazendo aqui? - ela pergunta como se o baile -lhe pertencesse.

- Vim trazer a minha Kim.

- Ah... Quem é a sua amiga? - olho para Tess, que nos observa muito séria.

- Não somos amigos - ela fala.

- Essa é a Tess - digo.

- Oi Tess - cumprimenta Mary. - gosto do seu cabelo.

Tess força um sorriso e faz um sinal de positivo com o polegar.

- Quer voltar lá pra dentro? - pergunto à ela, que balança a cabeça.

Levanto primeiro e como ela demora um pouco para se levantar, Mary se adianta até mim e me abraça.

- Quero conversar com você - diz, seus braços Ainda bem apertados em volta da minha cintura.

- O que?

- Vamos voltar?

Antes que pudesse pensar em alguma coisa para dizer, ouço um gemido e viro a cabeça rapidamente para ver Tess inclinando o corpo para a frente e caindo de cara no chão.

[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e TessOnde histórias criam vida. Descubra agora