Eu ainda me xingava no estacionamento do lado de fora do Colégio, quando vi o Bill descer os degraus às pressas, com a Tess em seus braços. Ainda chovia bastante, mas mesmo assim corri para fora do carro.
- O que aconteceu? - perguntei, a voz alta por causa do barulho da chuva tocando o asfalto.
- Ela desmaiou. Vamos levar ela pro hospital.
- Vamos. Você dirige.
Entramos no meu Ford, eu sentei atrás e repousei a cabeça da Tess em meu colo, enquanto o Bill ligava o carro e dava marcha à ré com bastante pressa.
Não consegui tirar os olhos dela. A observei por todo o caminho até o hospital. Os olhos de Tess estavam semicerrados e revirados e ela respirava pesadamente.
Bill dirigiu o mais rápido que pôde e, enquanto eu a colocava numa maca na entrada do hospital, ele foi ligar para os pais da Tess.
...
Agora estou sentado na poltrona ao lado dela e a observo. Seus cabelos ruivos muitíssimos curtos estão bagunçados e ela parece pálida.
Já passa das dez e eu me ofereci para passar a noite com a Tess, pois a Joanne e o Dean estão extremamente cansados.
Fecho os olhos, sentindo as pálpebras pesarem de sono e me recosto na poltrona.
Eu não sei quanto tempo passa, mas quando torno a abrir os olhos, Tess está me fitando.
- Oi - digo, ainda me sentindo meio babaca, mesmo que sem um motivo realmente grande para que uma pessoa possa se achar babaca. - está se sentindo melhor agora?
- Um pouco - ela olha ao redor e comprimi os lábios. - de volta à minha segunda casa.
- Relaxa, você não vai ficar aqui por muito tempo - tento tranquiliza-lá. Ela balança a cabeça como se já tivesse ouvido aquilo muitas e muitas vezes. - o que aconteceu, ein?
- Hã? - sua voz é baixa e levemente rouca. Reparo que há olheiras ao redor dos seus olhos e ela parece cansada, apesar de ter dormido por um dia inteirinho.
- Por que você passou mal? Você sentiu alguma coisa diferente?
- Não. Eu... isso já me aconteceu antes... tudo começou a ficar meio confuso, me senti muito tonta e aí desmaiei.
- Ah - balanço a cabeça e desvio o olhar dela por um segundo. - e... - penso em perguntar "você já lembra de mim?", mas não quero parecer grosseiro e também não quero que ela pense que não me importo com o que ela está sentindo no momento. - Você já lembra de mim? - foi mais forte que eu.
Agora eu a encaro com uma certa insistência nos olhos. Ela não responde. Me encara também. É uma sensação estranha, mas não consigo desviar o olhar. Ela brinca com as mãos magras em cima da coberta e finalmente diz:
- Não - baixo a cabeça, descontente, mas ela continua: - Mas eu me lembro de uma coisa.
- O que?
- Coyness is nice, and coyness can stop you from saying all the things in life you'd like to - ela começa a cantar, me pegando totalmente de surpresa. Sua voz ainda é baixa, mas é muito suave e combina perfeitamente com seu olhar sempre calmo, apesar do turbilhão de coisas que a cerca. - So, if there's something you'd like to try, If there's something you'd like to try. Ask me I wont say "no". How Could I? - "A discrição é legal, e a discrição pode te impedir de dizer todas as coisas que você gostaria de dizer na vida... Então, se há alguma coisa que você gostaria de experimentar, se há alguma coisa que você gostaria de experimentar, peça para mim, eu não diria "não". Como eu poderia?".
Ela se cala e sorri.
- Mas eu não cantei essa parte pra você - digo, sentindo uma incontrolável vontade pulsar dentro de mim. - Como você conhece?
Ela da de ombros.
- Isso não importa... Olha - ela faz uma pausa rápida e passa a mão no rosto, como se secasse uma lágrima invisível. - vai parecer estranho, mas antes que eu apagasse, lá no Colégio, vi uma cena na minha cabeça... Eu estava na chuva e ouvia alguém cantar essa música e, de alguma forma, antes mesmo que você falasse que havia cantado para mim, eu já sabia que era você quem segurava a minha mão e cantava com uma voz muito feia, por sinal.
Dou risada e ela sorri amigavelmente.
- O que isso significa? - pergunto, não sabendo muito bem qual o objetivo dessa minha pergunta.
- Eu não sei... E também não acho que seja o momento certo para saber... Quer dizer, se é que, nas minhas condições, há um momento certo.
- É claro que há. Sempre há! - levanto da poltrona, pois minhas pernas começam a doer de tanto ficar sentado. Dou a volta na cama e a Tess me segue com os olhos. - Mas por que você não acha que seja o momento certo para... Sei lá o quê?
- Não sei - ela encara o teto branco. - vamos mudar de assunto.... Vamos falar sobre a garota que você beijou - ela diz de uma vez só. Engulo em seco porque tinha esperanças de que ela tivesse esquecido isso. Obviamente, não esqueceu.
- Quê? Não tem nada pra falar dela... Quer dizer, ela se chama Sindy e é loira. É só isso o que eu sei dela - me viro para a janela para fugir do olhar penetrante dela. Lá fora, o céu estrelado brilha juntamente à lua cheia. - o Mike é um babaca. Ele praticamente me forçou.
- Ah, imagino. Como é ter a cabeça segurada enquanto alguém enfia a língua na sua boca? - ela pergunta, cheia de sarcasmo.
- Eu disse "praticamente".
- Ah, não ouvi essa parte, sinto muito - ela levanta uma das sobrancelhas e torna a desviar nossos olhares.
- Olha, eu não estou gostando nem um pouco desse seu sarcasmo. Tem algo que você gostaria de me falar ou perguntar?
- Não.
- Então pode ir parando com isso, mocinha - me aproximo da cama.
- Ou o quê? - ela me desafia.
- Ou você vai ter uma morte bem dolorosa debaixo desse travesseiro - aponto para o travesseiro que ela usa como encosto.
Tess ri com vontade, os olhos quase se fechando. Nesse momento, parece que uma misteriosa luz ilumina seu rosto e eu percebo algo que não havia percebido antes: estou apaixonado por ela. E admitir isso faz com que eu me sinta péssimo... E muito feliz. Tudo ao mesmo tempo.
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[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e Tess
Teen FictionEsse é o relato de uma garota com câncer que sabe que irá morrer, e de um garoto sem muitas expectivas na vida, cuja felicidade é encontrada nos olhos coloridos de uma menina ruiva. A contagem regressiva de Tess e Charlie é uma história sobre como...