103 dias. Terça. O trem.

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Eu, a Tess e o George estamos esperando o trem que chegará a qualquer minuto para Londres. George fala ao telefone e eu lanço um olhar sutil à Tess, que encara os próprios pés.

- Esta tudo bem? - pergunto. Ela levanta a cabeça e sorri.

- Sim, só estou ansiosa.

- Eu também.

Menos de um minuto depois, ouvimos o som inconfundível de trem se aproximando sobre os trilhos.

- Preparada? - pergunto. Como resposta, ela assente e segura as alças da mochila com as duas mãos.

- Vamos - George nos chama quando trem pára na nossa frente e abre as portas. Os passageiros saem, apressados como se todos estivessem atrasados para algo realmente muito importante.

Entramos no trem e passamos pelo corredor à procura da nossa cabine. A encontramos segundos depois. Colocamos nossas bagagens no bagageiro e George diz:

- Vou ao banheiro.

Me sento à frente de Tess, que tem a cabeça virada para a janela.

- Pensando em alguma coisa super maneira?

- Não - ela fala calmamente. - só estou desejando que nada de ruim me aconteça nessa viagem.

- Nada vai acontecer - digo, tentando tranquiliza-lá.

- Não diga o que você não sabe.

O trem começa a andar e nos calamos; a paisagem à minha esquerda se torna embaçada e as casas e prédios vão desaparecendo e surgindo rapidamente.

Olho para a Tess e seus olhos estão fixos na janela. Ela tem um pequeno sorriso nos lábios e eu fico contente por vê-la descontraída.

- Olha, se você for ficar me encarando assim, feito um estranho, Eu vou sair daqui - ela fala, sem desviar o soltos da janela. Dou risada.

- Eu não estou te encarando feito um estranho, relaxa.

- Ótimo.

George volta à nossa cabine e senta-se ao lado da Tess, que ainda observa lá fora.

- Então quer dizer que a Susan está grávida - digo, lembrando de repente da "grande notícia" que o George disse que daria no jantar do dia anterior. - Eu já disse antes, mas parabéns pra vocês dois.

- Obrigado, irmãozinho.

- Parabéns, George - diz Tess, finalmente desviando os olhos da janela. - Espero que essa criança não dê metade do trabalho que o tio já deve ter dado.

George ri.

- Eu também espero. Esse garoto já deu muito trabalho, Tess. Você nem imagina.

- Acho que consigo ter uma noção - ela diz, semicerrando os olhos.

- Eu nunca tinha ouvido falar de você antes - George diz.

- É porque eu ainda sou nova na grandiosa vida do Charlie. Nos conhecemos há umas duas semanas.

- Hum... Então quer dizer que você é do tipo que viaja para casa de irmãos de recém-conhecidos.

Tess sorri e leva a mão ao queixo.

- Eu até teria medo de ser esfaqueada por um de vocês dois, mas eu não tenho muito a perder, então...

- Como assim...?

- Olha aquilo ali - interrompo o George, apontando debilmente para uma árvore do tamanho de uma casa. Não quero entrar nesse assunto. Não agora. Mesmo que a Tess pareça lidar muito bem com o fato de que pode morrer há qualquer momento, eu não posso dizer o mesmo.

- Humm... Uau! - exclama Tess teatralmente. - uma árvore! Aí meu Deus, George, como você pôde se mudar de Manchester?! Aposto que não se vê árvores como essa em Londres!

George da uma gargalhada com a encenação da Tess que, ao se calar, faz movimentos engraçados com as sobrancelhas.

O Sol logo se põe e ainda falta uma hora para o fim da viagem. George está dormindo com a cabeça no ombro da Tess e ela tem os olhos fechados, mas sei que não está dormindo, pois movimenta o dedo indicador num ritmo constante.

- Tess? - chamo e ela abre os olhos calmamente. - já tomou os remédios?

- Eu não preciso que você me lembre dos meus remédios - diz, num tom meio seco.

  - Tudo bem, Srta. Auto suficiente. Só queria ajudar.

- Não precisa... Mas foi bom você lembrar, eu tinha esquecido deles - ela desencosta a cabeça do George e levanta, estendendo os braços em direção ao bagageiro.

E aí o tempo parece que desacelera.

Ouço uma grande batida e, um milésimo de segundo depois, tudo vai pelos ares, escuto uma explosão - seguida por gritos desesperados e esganiçados -, vejo a Tess ser arremessada para o lado de fora da nossa cabine, George é lançado na minha direção com tremenda força,  sinto uma dor lancinante na cabeça e tudo fica escuro.

[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e TessOnde histórias criam vida. Descubra agora