7 dias. 10 de janeiro de 1987.

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Tudo o que o Charlie fez, nos últimos três dias, foi encher o meu saco falando sobre a misteriosa quantidade de dinheiro no solado do apartamento em que a Sun está vivendo; por isso hoje, eu mandei que ele viesse me buscar para podermos, de uma vez por todas, tirar essa história a limpo.

A Eileen está aqui em casa (hoje foi dia de pegar mais remédios no hospital e ela se ofereceu para me acompanhar) e, quando o Charlie para o carro na entrada da minha casa, ele me lança um olhar que claramente diz: "achei que fôssemos só nós dois" e eu ignoro completamente.

- Prontos para a investigação?! - ela pergunta do Banco de trás, num tom bastante animado.

Charlie me lança um olhar arregalado, que eu finjo não ver, por estou ocupada demais admirando a sujeira em cima do porta luvas.

Vamos todo o caminho em silêncio, e eu exercito o pensamento de que não há nada de errado com a Sun.

- Pegou os remédio hoje? - Charlie quer saber, tentando diminuir a tensão que nos cerca.

- Peguei.

- Eles realmente estão fazendo efeito?

- Eu não me sinto mais como se trezentos bebês habitassem dentro de mim toda vez que quero dormir, então...

- Que ótimo para nós.

- É, seu egoísta - digo, sorrindo.

- É claro que sou. Ou você acha que eu quero que você fique viva porque me importo com seus sentimentos? - ele dá uma risada exagerada.

- Se eu não soubesse o quão louco você é por mim, até acreditaria nisso tudo... incluindo a risada maléfica.

- É, você tá precisando melhorar ela. Bastante - diz Eileen.

[...]

Estamos subindo as escadas quando dois homens passam praticamente correndo por nós na direção em que estamos indo.

No corredor, os vemos bater nervosamente à porta da Sun, que abre e fecha a porta logo em seguida.

- Shh - faz Charlie e nós três caminhamos na pontinha dos pés até a porta dela, onde encostamos nossos ouvidos para tentar ouvir alguma coisa.

- Vocês não podem fazer isso, ok? Eu não imaginava que ele fosse tão importante assim.

Ouvimos uma risada medonha do lado de dentro.

- Você deveria procurar se informar mais.

- Agora é tarde demais - diz o outro homem.

- Como assim? - Eileen sussurra, alternando o olhar entre mim e o Charlie. Damos de ombros ao mesmo tempo, sem tirar os ouvidos da porta.

- Isso é ridículo! Quer dizer, eu dei à vocês a informação que queriam, não foi?

- Mas você não precisava MATA-LO!

- Eu sei, eu sei! Me desculpem, ok? Foi um erro, mas eu já aprendi. Além de tudo, meu porão...

- Sinto muito, garota, mas recebemos ordem.

Ouço o inconfundível som de arma sendo engatilhada e percebo que a Eileen e o Charlie também ouviram, pois empalidecem no mesmo segundo.

- Não podemos deixar - Eileen cochicha, nervosa.

- NÃO, NÃO, NÃO!!! - grita Sun.

- O que fazemos? - olho para o Charlie, desejando desesperadamente que ele tenha a resposta para essa minha pergunta.

Ele abre a boca para dizer alguma coisa, mas o que quer que tenha saído dos seus lábios nesse momento, é abafado pelos disparos que ecoam do lado de dentro.

A partir daí, tudo acontece com muita rapidez.

Eileen solta um gritinho. Os caras percebem que há alguém os ouvindo. O Charlie me puxa pelo braço e começamos a correr. Descemos os degraus em alta velocidade. Entramos no carro e o Charlie dirige para bem longe dali.

Ele para num posto de gasolina e eu finalmente olho para trás. Vejo Eileen chorando silenciosamente e sinto um aperto no coração por não conseguir chorar como ela, nesse momento.

- Alguém pode me explicar o que acabou de acontecer? - ela diz, em meio a soluços. - achei que tudo não passasse de uma coisa de adolescentes.

- É, nós também - Charlie fala, passando as mãos pelos cabelos cacheados. Eles está pálido e trêmulo. - mas...

- Isso não é uma coisa de adolescentes - completo a frase.

- O que devemos fazer? Ligar para a polícia e avisar que... que mataram ela?

- Os vizinhos provavelmente devem ter ouvido os disparos, eles com certeza ligarão. É melhor não nos involvermos mais nisso - diz Charlie.

- Mas... o que seria isso? No que ela estava envolvida? Por que ela matou aquele cara? Como ela conheceu ele? Aí meu Deus... Isso tudo ta me deixando maluca - digo, sentindo minha cabeça fervilhar.

- Vamos pra casa.

[...]

Dentro da banheira, eu finalmente caio na real e percebo que perdi a minha melhor amiga de infância. Não que ainda fôssemos melhores amigas, mas um dia ela já fomos, e isso significa muito para mim.

Eu choro; minhas lágrimas escorrem pelo meu rosto e se misturam à água quente. Eu choro; sentindo como se não pudesse mais ser feliz, mesmo que por apenas alguns instantes. Eu choro, pois finalmente percebo que o mundo é incrivelmente bom, mas as pessoas, não.

[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e TessOnde histórias criam vida. Descubra agora