A Tess mal acabou de ir embora quando o Mike aparece em meu quarto; eu ainda sorrio de felicidade encarando o teto e ele faz uma careta ao ver minha cara de abobalhado.
- Eu não vou nem perguntar porque você tá com essa cara. Anda, vem logo.
- Pra onde?
- Tem uma pessoa que você precisa conhecer?
- Essa pessoa é o Johnny Marr? - *o guitarrista do The Smiths*.
- Não, até porque se ele estivesse aqui embaixo, você não estaria vendo a minha cara nesse exato momento.
- Onde você estaria? - pergunto, rindo e levantando da cama.
- Pedindo pra ele autografar minha bunda, agora vem logo. Você vai adorar ela.
- Hum... Ela quem? - Mas ele não responde. Mike me empurra pelo corredor em direção à escada e, ao chegar na sala, vejo uma garota loira sentada no sofá. - quem diabos é ela? - sussurro no ouvido do Mike.
- Sindy! - ele chama, sorridente. A garota loira vira a cabeça e, ao nos ver, levanta do sofá e vem em nossa direção. - Sindy, esse é o meu amigo Charlie de quem eu tanto te falei. Ele costuma ser mais bonitão quando está sem uma faixa de maluco ao redor da cabeça.
- Oi, Charlie- ela diz, sua voz é irritantemente aguda. Sindy usa um batom muito rosa que combina com suas bochechas que parecerem .
- Hum... Oi Sindy.
Os três ficam parados, calados, trocando olhares arregalados. Mike bate as palmas das mãos e diz:
- Uou, isso foi desconfortável, mas eu vou deixar vocês para passarem por esse momento esquisito sozinho e... juntos.
Mike não espera por resposta e sai da sala. Eu e a Sindy continuamos nos encarando e, só então eu reparo, ainda estamos de mãos dadas. Minhas mãos começam a suar. Sindy tosse e tira a mão rapidamente para coçar o nariz.
- O que o Mike disse a você, ein? - pergunto, indicando-lhe o sofá. Sentamos.
- Ele disse que tinha um amigo desesperado para encontrar uma namorada.
- O quê?! - dou risada. - Eu não estou desesperado!... Quer dizer, estou muito bem mesmo.
- Mas você está namorando?
- Não - respondo.
- Ah - ela murmura como se dissesse: "Eu realmente acho que você está desesperado".
- Olha, eu gosto de uma garota, sabe. Mas o Mike quer que eu a esqueça porque tem umas coisas acontecendo na vida dela no momento.
- Ah... Mas você quer esquecê-la?
- Não, mesmo que fazer isso seja melhor que continuar gostando dela.
- E por que esquecer alguém que você gosta é a melhor solução?
- Ela vai morrer.
- Todo vamos morrer - Sindy diz, arrancando uma cutícula com o dente, borrando os dedos de batom.
- Ela vai morrer em alguns meses.
- Ah, isso não é bom - fala, como se eu não soubesse.
- Não me diga!
- É - ela se vira para mim e põe o braço no encosto do sofá. - Mas se é o que você acha melhor, eu posso te ajudar com isso - e, totalmente pirada da cabeça, ela me beija. Me beija como se quisesse sugar a minha alma para fora do meu corpo. E eu não estou dizendo que não é bom, mas não é com a pessoa que eu gostaria que fosse. Apesar disso, não a afasto.
Continuamos nos beijando como se estivéssemos prestes a fazer 'algo mais'.
Ouço vozes se aproximar mas meu cérebro não está funcionando muito bem no momento, por isso continuamos nos beijando.
- Charlie! - tomo um susto com a voz aguda da minha irmã e empurro a Sindy para longe.
- Hum... Oi - pisco algumas vezes para recuperar a lucidez. Kim está parada na entrada da sala com a Mary. - Que diabos você está fazendo aqui?
- Vim te visitar. Mas pelo visto você já está muito bem - diz Mary. Ela gira nos calcanhares e sai da sala. Kim revira os olhos, lança um olhar furioso para a Sindy e sai.
- Quem são elas?
- Minha irmã e a minha ex-namorada.
- Ah. Por que ela viria te visitar? - pergunta, limpando o batom rosa que surpreendentemente foi parar em sua testa.
- Eu sofri um acidente semana passada e... Esquece - ela balança a cabeça e levanta.
- Você vai ao show do The Smiths?
- Se eu disser não, o Mike toca fogo em mim, então provavelmente sim.
- Ah, ótimo, nos vemos oá, então - ela lança um beijo no ar para mim, dá as costas e sai.
Permaneço no sofá pensando no que havia acontecido nos últimos quatro minutos.
E aí, de repente, eu sinto algo que nenhum ser humano gosta de sentir: arrependimento. Sinto como se eu tivesse traído a Tess, mesmo que a gente não tenha nada e ela nem lembre de quem eu sou. Ainda assim me sinto mal pelo que fiz. Principalmente por ter gostado.
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[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e Tess
Roman pour AdolescentsEsse é o relato de uma garota com câncer que sabe que irá morrer, e de um garoto sem muitas expectivas na vida, cuja felicidade é encontrada nos olhos coloridos de uma menina ruiva. A contagem regressiva de Tess e Charlie é uma história sobre como...