Eu abro os olhos embaçados e a primeira pessoa que vejo é o John; depois, vejo a minha mãe abraçada ao meu pai e ouço o repórter falando na TV: "Nevasca inesperada atrasa os trens em Londres e faz com que as pessoas fiquem presas em suas casas. A previsão de neve é para mais dois dias e sugerimos que tomem muito cuidado. 'Os índices de acidentes aumentaram muito desde que tudo isso começou' diz o agente de trânsito que entrevistamos mais cedo."
- Quanto tempo eu dormi?
- Você estava em coma - diz o John e minha mãe parece incomodada pelo que ele acaba de dizer.
- Mas agora você está muito melhor, filha.
- Com certeza foi porque você falou com o Charlie.
Olho para o John com as sobrancelhas franzidas e me pergunto que diabos ele quer dizer com isso.
- Eles te deram uns remédios experimentais para o que você estava sentindo - diz minha mãe, sorrindo e se aproximando. - parece que funcionou, não é mesmo? Você se sente melhor agora?
- Sim - respondo e é realmente verdade. Faz muito tempo que não me sinto tão bem disposta assim. Alguém ingeta um litro desse remédio experimental na minha veia, por favor? - já posso ir pra casa?
- Os médicos disseram que, quando você acordasse, eles viriam aqui ver como você está. Dependendo do seu estado, poderíamos te levar para casa ainda hoje.
- Que horas são?
- 10 da manhã.
- Hum... Pai, posso falar com o senhor?
- Claro - ele se aproxima e a minha mãe e o John permanecem exatamente no mesmo lugar.
- A sós.
- Ah, sim, certo - Minha mãe me dá um beijo na testa e sai. John se demora mais um pouco e eu não entendo o que ele quer dizer com esse olhar.
- O que foi, querida?
- Pai, eu quero te pedir uma coisa, mas você não pode contar à mamãe.
- O que?
- Pode me emprestar um dinheiro para eu ir até Londres?
- Você quer ver o Charlie, não é? - balanço a cabeça e ele senta nos pés da cama. - olha, querida, se você estivesse em outras... outras condições, eu até te emprestaria, mas... você acabou de passar por um coma de dois dias, ainda está se recuperando e... você ouviu no jornal, Londres está sofrendo a pior nevasca em muitos anos.
- Pai, você acha que eu não sei de tudo isso? Mas, pensa comigo, eu preciso ver o Charlie. Você deve estar achando que é só mais uma coisa de uma jovem adolescente incompreendida, e talvez seja, mas eu preciso vê-lo porque eu preciso dele. Eu não vou ficar cem por cento bem enquanto não estiver com ele, entende?
- Eu não entendo, querida, sinto muito. E... eu não posso deixar.
- Isso não é sobre você, pai, é sobre mim, ok? Eu não estou pedindo que você me dê um milhão de libras. Eu só quero dinheiro suficiente para a passagem de ida.
- Você não está entendendo, Tess. A questão aqui não é o dinheiro. Eu sou seu pai, e não posso deixar que você se arrisque desse jeito.
- Ah, entendi. Então você prefere que eu viva meus últimos dias aqui, sozinha, sem o Charlie?
- Eu prefiro que você passe os seus... seus últimos dias bem, segura, comigo e com a sua mãe.
- EU NUNCA FICAREI BEM SEM ELE! - eu dou uma risada meio esganiçada ao mesmo tempo que uma lágrima escorre dos meus olhos. - muita gente diz que nós, os jovens, fingimos ser adolescentes incompreendidos, mas a verdade é que vocês, os pais, é quem são. Eu não consigo entender em que mundo, deixar a filha morrer com a infelicidade a corroendo por dentro, é bom. Eu... eu não consigo entender esse tipo de coisa. Vocês são loucos, sabia? Todos vocês. É por isso que eu preciso do Charlie.
- Se o problema for esse, querida, eu posso pagar a passagem dele. Não tem problema se ele ficar lá em casa o tempo que for necessário.
- Eu não quero! - digo, o orgulho vencendo a vontade de aceitar. - estou bem para poder ir!
- Não, Tess, você não está... Olha só para você, querida... Emagreceu tanto nesses últimos dois dias...
Não entendo onde ele quer chegar, e eu sinceramente não quero ouvir mais nenhuma palavra dele.
- Me deixa, pai. Por favor, me deixa.
- Eu te amo, querida.
Ele se aproxima para me beijar, mas eu viro o rosto.
Desolado, ele levanta e sai.
John entra.
- Vocês brigaram? - pergunta.
Cruzo os braços.
- Você pergunta como se ligasse.
- Ei, calma! Eu me importo.
- Certo... Já que você se importa, quer fazer algo realmente bom por mim? - pergunto, assumindo para mim mesma que sou provavelmente a pessoa mais interesseira desse mundo.
- Dependendo do favor...
- Quer me emprestar um dinheiro?
Ele da risada.
- Você acha que eu tenho dinheiro?
- Sei lá, você é todo riquinho, deve ter algum dinheiro.
- Mas eu não tenho.
- Certo... - digo, baixando a cabeça, cheia de decepção. E aí, como se uma lâmpada amarela tivesse se acendido em cima da minha cabeça, eu tenho outra ideia. - quer fazer uma viagem de carro comigo?
- Deixa eu adivinhar, você quer que eu te leve até Londres, certo?
- Exatamente. Se você fizer isso por mim, eu juro que faço qualquer coisa que você pedir.
- Hum... - ele parece analisar a ideia. - a viagem de ida para Londres deve ser umas oito ou nove horas... Que horas você quer ir?
- Depende do horário que eu for pra casa. Mas quero ir hoje.
- Hum... Certo. Pode ser. Eu te levo lá.
- Uhul! - pulo da cama e o abraço bem apertado. - obrigada, obrigada, obrigada, John.
Ele ri e me afasta.
- Mas agora eu vou dizer a minha condição... Eu quero um beijo - levanto as sobrancelhas e parece que eu levei um soco muito forte no estômago.
- Um beijo?
- É, Tess. Eu quero um beijo seu. E aí, o que você prefere? Me beijar, ou não ver o seu grande eterno amor?
- Vai pro inferno, John! - xingo, sentindo muita, muita raiva dele.
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[CONCLUÍDA] A Contagem Regressiva de Charlie e Tess
Novela JuvenilEsse é o relato de uma garota com câncer que sabe que irá morrer, e de um garoto sem muitas expectivas na vida, cuja felicidade é encontrada nos olhos coloridos de uma menina ruiva. A contagem regressiva de Tess e Charlie é uma história sobre como...