Cap.62 ❤ Já se sentiu vazia por dentro?

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"Pai, estou aqui. Olha para
mim. Desesperado por
mais de Ti" 🎶♥

😿😿😿

Karoline

Por que isso?
Hoje eu acordei pensando que o que eu fiz ontem iria passar, mas na verdade parece que o problema se multiplicou. Ontem me veio aquele desejo imenso de se cortar e chorar, tentei de todas as formas possíveis evitar pensar naquilo, porém foi mais forte do que eu.
Dessa vez foram cortes profundos, preciso colocar uma blusa de pano grosso para evitar que meu irmão e minha mãe vejam.

Tem alguns dias que uma aluna nova chegou lá na sala. Como eu fico muito sozinha, decidi conversar com ela e me apaixonei, pois temos muita coisa em comum, exceto o fato de ser depressiva. Eu acho. Mas ela não aparenta ser.
Talvez, pelo simples fato dela me compreender, posso considera-la minha melhor amiga. Acho melhor eu ir com calma, pois a pressa é inimiga da perfeição.

Quem é o autor dessa frase?

Cheguei na escola, e lá estava ela: sentada no pátio, esperando o sinal bater e observando todos ao seu redor. Deve se sentir estranha em um ambiente com pessoas desconhecidas e totalmente diferente da sua rotina. Ela me contou que morava em outro estado e gostava muito da gentileza dos alunos ao receberem a mesma, mesmo sem conhecer. Um "bem-vindo" faz toda a diferença.
Aqui ela se sente um pouco abandonada e tirou a conclusão de que precisa se aproximar das pessoas ao invés das pessoas que já são da casa se aproximarem dela.

Isso é verídico.

— Oi, Laís? — sento-me do seu lado.

— Oi Karol! — sorriu.

— Pensando em que?

— Pensando como me sentiria se você não viesse hoje, seria desagradável estar aqui sozinha, sem conhecer ninguém. — fala.

— Imagino.

— Está tudo bem? Não sei se isso é um dom, mas eu consigo perceber pelo olhar da pessoa que não está bem. Então, que pergunta incoerente essa minha. Me diz o que está acontecendo.

— Não sei se é o momento certo, porque conheço você a dias. Para considerar alguém minha amiga ou melhor amiga leva muito tempo. Já me decepcionei muito com amizade, não quero quebrar a cara de novo. — explico.

— Nossa! Temos muitas coisas em comum. — ela fala. — Você se corta?

Meu Deus?!

— N-ã-o!

— Seus braços não negam isso. — olha profundamente em meus olhos. Engoli o seco.

— Não tem nada aqui! — resmungo. — Está vendo alguma coisa?

— Não precisa ficar nervosa. Está um sol de praticamente trinta e sete graus e você com essa blusa de manga longa.

— Estou doente. — me retiro e sigo direto pra sala.

Não acredito que ela percebeu algo. Essa blusa é totalmente pesada, inclusive estou morrendo de calor, mas tenho que aguentar até o final da aula.

Odeio essa vida!

(...) 🌸

Agora estamos no intervalo, procurei ficar na sala para não encontrar alguém desagradável. Ter depressão e sofrer bullying não é pra qualquer um. Acho que pra ninguém.

— Desculpa por ter te perguntado aquilo. Não sabia que reagiria daquela maneira. — diz Laís.

— Não? — ergo as sombrancelhas, e abaixo minha cabeça, apoiando-a entre os braços. — Qualquer um que pratica reagiria daquela maneira.

— Mas eu não sabia, tem como me perdoar?

— Não precisa me pedir perdão, você nem fez nada. Eu mesma fiz. — digo.

— E o que te leva a fazer isto? — senta-se ao meu lado.

— Não quero entrar nesse assunto, ninguém entende, ninguém nunca vai entender, ninguém nunca vai compreender se não passar pela mesma situação!

— Qual? Depressão?

Levai a cabeça e encarei seus olhos castanho escuro. Se eu soubesse falar bonito, juro que "filosofava".

— Tudo aquilo que alguém está passando e que você nunca passou. Essa é a realidade. — volto a apoiar minha cabeça sobre meus braços.

— Tudo bem, e isso é muito grave? — pergunta.
Suspirei fundo e perguntei (ainda de cabeça baixa):
Já se sentiu vazia por dentro?

— Inúmeras vezes. — responde.

— E responde como se nunca tivesse sentido? Como foi passar por esse momento? Que tipo de vazio foi este? Já sei! Passageiro.

— Sim, momentâneo. Só acho que só permanecem no vazio quem quer.

A minha vontade, era de dizer a ela o alfabeto inteiro, mas prefiro me calar.

— Se você está dizendo... — finalizo minha conversa.

(...) ❤

Cheguei em casa devastada!
Joguei minha mochila na poltrona que havia no meu quarto, peguei a lâmina e sentei sobre a cama.

Eu preciso aliviar essa dor!
Preciso fazer isso somente pra esquecer que o que tem dentro é bem maior.

Comecei a passar aquilo pelo meu braço, os cortes estavam ficando mais profundos. O sangue escorria pela minha calça e as lágrimas ardiam nos meus olhos.

— Eu quero morrer. — sussurro. — Eu preciso morrer.

Meu celular vibrou dentro da mochila. Era uma mensagem de Laís:
"Você se corta, porque quer! Me contou que era cristã, você está sem Deus. Ele deve ter te abandonado por sua causa. Isso é frescura sua. Por favor, vamos amadurecer. Te amo! Isso é perca de tempo."

Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.

— Não! — tampo meus ouvidos.

Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.

— Mentira!

Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.

— Eu quero morrer!

Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.

— Preciso morrer! — levanto-me da cama e corro em direção a cozinha. Em cima do armário havia centenas de remédios. Tirei alguns de dentro de um frasquinho e outros do plástico, coloquei tudo na boca e bebi água. Isso tem que fazer efeito.

Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.

— Tem que funcionar!

Ele deve ter te abandonado por sua causa.
Ele deve ter te abandonado por sua causa.

— Anda logo!! — coloco mais dentro da boca e engulo.

Ele deve ter te abandonado por sua causa.




63.
Muito cuidado ao dar um conselho a alguém. Você pode matar essa vida.
#DepressãoNãoÉFrescura

Herdeira II - Manual de BatalhasOnde histórias criam vida. Descubra agora