Álcool e suas utilidades

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- Wow! - Santiago exclamou quando me afastei. - Pra uma "sapatão" - Fez aspas no ar para mostrar que estava apenas repetindo o que eu havia falado. - isso foi bem hétero. - Riu.

- E pra um hétero até que você beija bem. - Revidei, olhando em volta. Maria Clara já não estava mais com o tequileiro.

- "Até que" isso que é elogio, hein?! - Sintam a ironia. - Porque fez isso?

- Queria saber como é beijar um cara. - Menti.

- Que honra, sou seu primeiro? - Ele até pareceu animadinho.

- Na verdade não. - Saí andando, ele me seguiu. - Já beijei um, mas faz tempo.

- Merda! - Reclamou. - Onde vamos?

- Eu vou beber até ficar bem louca, você eu não sei. - Espero que ele desculpe minha grosseria, eu estava sóbria o bastante para estar estressada.

Sant e eu bebemos algumas-várias coisas juntos. Nem me perguntem quantos copos foram e muito menos o que continham, depois de um tempo eu não teria notado nem se fosse água da privada.

Começamos a dar uma checada nas meninas, mas tinha só hétero naquela porcaria de festa. Consegui pegar apenas uma ou outra que estavam mais "alegrinhas".

Daí em diante a noite passou a ser um borrão, só sei que passei a maior parte do tempo com Santiago, até que, mais pro fim da festa, eu encontrasse as meninas, ou melhor, elas me encontrassem.

Rachamos um Uber e acabei dando um selinho no ruivinho antes de sair do carro, só Deus sabe o porquê...

Eu nem estava tão bêbada quanto pretendia, o que me fez acreditar que vários daqueles copos fossem mesmo água (espero que não da privada).

- Tá, quem é você e o que fez com minha melhor amiga? - Rafa finalmente falou quando fechei a porta de casa.

- Eu que te pergunto, não tá chapada. - Ri.

- O quê é Rafaela sóbria perto de Maria Eduarda a menos de cinco centímetros de um garoto? - Fiz sinal para que ela falasse mais baixo, então ela cochichou. - Você beijou ele.

- Eu sei. Deu vontade, beijei. Qual o problema? - Falei simplesmente. Já estávamos entrando no quarto... Eu consegui subir a escada de boa depois de um rolê? Isso sim é estranho.

- A parte da vontade. - Revirei os olhos e ri, sem saber ao certo o que dizer.

- Me levou em uma festa só com menina hétero. - Reclamei. - Tocou musica sertaneja, Rafaela!

- Qual o problema com sertanejo? - Maria Clara perguntou, sua voz estava um pouco torta e olha que ela tinha parado de beber no meio da noite.

- Se você for em uma festa que toca pop, vai descobrir. - Respondi, fazendo Rafa rir.

- Eu tava a fim de ficar com uns meninos. - Deu de ombros, agora tudo fazia sentido. - Perdi a conta e até peguei o número daquele cara dos ingressos.

Encarei Maria Clara, será que ela também havia ficado com mais gente?

- Tô com fome, querem alguma coisa? - Rafa anunciou indo em direção a porta, mas nem esperou por uma resposta para sair. Talvez ela tivesse percebido meu olhar sobre Bife.

Me sentei ao lado da menina, que estava encostada na cabeceira da cama.

- Eu tô enjoada. - Usou um tom manhoso, deitando a cabeça sobre mim. Hesitei antes de levar a mão em seus cabelos para iniciar um cafuné. Suspirei quando ela colocou a mão sobre minha perna, nada saiu como eu planejava. - O que teve de errado? - Droga, Duda! Toda vez pensa alto.

- Você pareceu bem confiante pra quem não sabia beijar. - Ela ergueu a cabeça e deu uma coçadinha, visivelmente confusa. - Deu um puta beijo no cara da tequila. - Expliquei.

- Mas o que isso tem a ver? - Chacoalhei a cabeça.

- Não queria que tivesse ficado com ele. - Nem queria ter dito isso, mas não me contive. Eu e meus impulsos...

- Por que não? - Apenas dei de ombros. Odiava a expressão confusa dela, era tão fácil entender o que estava acontecendo. - Eu não tava confiante. Ele só me puxou e eu deixei. - Explicou após alguns instantes. - Não sei se foi bom, Duda... - Desabafou.

É claro que não sabe se foi bom, aquela pesquisa "Como saber se sou lésbica?", que encontrei em seu celular algum tempo atrás, falava por si só.

- O que sentiu? - Ela balançou a cabeça, fazendo cara de quem não sabia responder. É o mesmo que eu faria se me perguntassem o que senti com o beijo de Santiago. - Queria que me deixasse te ajudar...

- Eu deixo. - Ri pelo nariz. Não tinha jeito de fazê-la entender o que eu queria dizer, sua inocência passava dos limites as vezes. Eu também não queria ser super direta, se eu a assustasse, poderia estragar tudo.

- Você tá meio bêbada... Se quiser pode fingir que não se lembra do que estamos conversando, ok? - Falei isso para tentar que ela me desse alguma abertura. Pude ver que Bife engoliu em seco ao concordar com a cabeça.

Corri minha mão pelo lençol da cama, até tocar a mão delicada e macia da menina, então a levantei um pouco e apertei com calma, até que pudesse entrelaçar nossos dedos.

- Já seguraram sua mão? - Ela novamente apenas fez sinal positivo.

Levei as costas da mão de Maria Clara ao meu rosto, passando-a levemente sobre ele, até chegar à minha boca. Umedeci os lábios com a língua e depositei um beijinho na mão da garota. Movimentei a cabeça devagar, acariciando sua pele macia com meus lábios. Me vi obrigada a fechar os olhos, imaginando que aquele toque poderia muito bem ser um beijo. Aquela sensação era tentadora, eu estava me segurando para não me precipitar em nenhum movimento sequer. Finalizei o carinho com mais um beijo leve nas costas da mão de Maria Clara, antes de fazer a pergunta.

- O que sentiu, foi diferente do que sente comigo? - Senti um calafrio na barriga, eu estava ansiosa e confiante por sua resposta. Queria prosseguir com o que eu estava fazendo, queria ganhar sua confiança, abraçá-la e beijar o canto de sua boca, até fazer com que ela me desejasse também.

Bife levantou um pouco as sobrancelhas, sua feição era um tanto triste, mas isso parecia um ponto positivo, nesse caso. Ela abriu a boca, tentando tomar coragem para me responder. Parecia estar em uma luta interna, da qual eu precisava saber o resultado.

GAROTA ENCONTRA GAROTAOnde histórias criam vida. Descubra agora