Permita-se

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O tempo passava mais lentamente naquele domingo e quando digo isso estou tentando expressar educadamente que: TÔ FODIDA PRA CARALHO!

A Rafa saiu da minha casa as pressas para tentar impedir que seus pais tomassem conhecimento do vídeo espalhado nas redes sociais. Eu estava roendo as unhas (que nem tenho) desde então.

Tentei denunciar o vídeo, excluir, hackear a página que postou, mas o único método que deu o mínimo de resultado foi negar todas as marcações.

Aquela cena não teria grandes consequências diretas para mim, afinal sou assumida para a família inteira. Na real nunca cheguei a sair do armário oficialmente, mas todos sabem e convivem bem com a situação hoje em dia. Não me envergonho de nada, sou bem daquele tipo "Não gostou? Que pena, hein?".

O que me preocupa em toda essa situação é a Rafaela. Tenho medo do que os pais dela podem fazer. Mil coisas passam pela minha cabeça, desde proibirem nossa amizade (que obviamente não vai dar certo) até baterem nela ou a expulsarem de casa.

- Quem postou isso, Maria Eduarda? - Minha mãe entrou no quarto, abrindo a porta com força. Ela nunca me chama de Maria Eduarda.

- Se descobrir me fala, eu vou matar esse doente.

- Você vai dar um jeito de excluir isso agora.

- Eu queria poder, mas não tem como. - Do jeito que ela fala, parece que a culpa é minha.

- Como não? - Alguém explica pra ela como funciona o Facebook. - Pensei que vocês fossem amigas, estou decepcionada.

- Nós somos, mãe! Foi só um beijo, um maldito beijo que nem era pra acontecer.

- Isso não é um beijo, Maria. Você sabe muito bem que te aceito e respeito totalmente, minha filha. Mas isso? - Ela olhou para o celular. -Passou dos limites. Tanta gente em volta e vocês... - Minha mãe levou a mão a testa, sem conseguir continuar a frase.

- Tá, eu sei de tudo isso. - Falei nervosa, senti uma lagrima brotar em meus olhos e os apertei com força. Não vou chorar. - Não precisa vir aqui me falar o que já sei, ok? Eu vou dar um jeito.

Minha mãe se aproximou e colocou a mão em meu ombro, vi sua feição se modificar.

- Eu me preocupo. Só quero o bem de vocês duas, querida.

Assenti com a cabeça, tentando manter a postura enquanto um nó apertava minha garganta.

Meu celular vibrou.

Rafa:
Mandaram pra eles

Senti um gelo subir pela minha barriga. Puta merda.

Duda:
Pqp
Tá td bem? Oq aconteceu?

Rafa sequer recebeu a mensagem, o que me deixou ainda mais nervosa.

- O que foi, filha? - Minha mãe ainda estava ali.

- A Rafa. - Simplifiquei, não conseguia falar com minha mãe sem sentir vontade de chorar.

- Posso ajudar você, meu amor? - Neguei com a cabeça.

- Desculpa, mãe. Pode me deixar sozinha um pouco? - Eu não queria ser chata, eu precisava de um tempo, mais nada.

GAROTA ENCONTRA GAROTAOnde histórias criam vida. Descubra agora