Capítulo 6

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Na escola, a mochila estava mais pesada. Dentro dela, as roupas bem dobradas e os sapatos brigavam com os materiais por espaço.

Eu estava cansada, acabei cochilando na aula de filosofia e por pouco não fui pega pelo professor. Ficar de detenção não era mais uma opção, então dei graças a Deus por ter escapado ilesa.

Ao fim da aula, fui até o banheiro me trocar. No lugar da calça jeans, camiseta larga e tênis, vieram a camisa social, a saia "lápis" (não entendi o porquê do nome), a meia calça fina e os saltos. Tomei o máximo de cuidado para que ninguém me visse daquele jeito, mas fui pega.

— Srta. Jones? É você? – Perguntou Sr. Kyle, meu professor de geografia.

Praguejei baixo.

— Olá, Sr. Kyle.

— Desde quando usa roupa social?

— Eu tô trabalhando agora. Preciso usar.

— Gostei de ver. – Disse ele, sorrindo.

Dei um sorriso forçado e corri para pegar o ônibus, torcendo o pé a cada 3 passos. Porcaria de saltos.

— Tá certo, nunca mais eu vou vestir essa coisa antes de pegar o ônibus. – Suspirei, em meio aos solavancos.

Chegando em frente à empresa, ajeitei a roupa e os cabelos, mostrei o crachá de identificação para os seguranças e entrei. Tony Stark estava falando algo com a recepcionista e, ao me ver, disse:

— Ah, agora sim. Como se sente, Srta. Jones?

— É pra parecer culta ou ser sincera?

Ele riu, entendendo. Sorri e fui até o elevador. Quando cheguei em minha sala, comecei logo a trabalhar.

Eram pouco mais de 16h. Eu estava em pé analisando o mapa de Nova York emoldurado na parede, tentando criar ligações entre os últimos acontecimentos no Brooklyn e o resto da cidade, quando bateram na porta.

— Entre. – Falei, sem tirar os olhos do mapa.

Ouvi passos lentos se aproximarem, até alguém parar alguns passos atrás de mim. Virei-me e, Deus do céu, seria pedir demais apenas um dia de sossego?

Peter olhava para mim sem esboçar muita reação. Fiquei olhando para ele, esperando, até que me cansei e perguntei:

— O que foi agora?

— Ahn... O-Oi Helena. Eu vim aqui pra... – Tossiu, aparentemente nervoso – Você tá bonita de roupa social.

— Obrigada. – Disse, sendo o mais paciente possível com o jeito bobo e tímido de Peter. Ele respirou fundo e, em um instante de coragem, perguntou:

— Helena, o que vai fazer amanhã depois do trabalho?

Franzi o cenho. Não. Não era possível.

— Peter, eu tô trabalhando.

— Se não tiver compromisso, o que acha de irmos até a lanchonete que foi inaugurada essa semana? Ouvi falar bem de lá.

— Você tá me chamando pra sair?

— Sim. Não! É. Eu... Como amigos. Não me leve a mal.

— Olha, me desculpa, mas eu...

— Qual é. Não vai ser tão ruim.

Segurei em meu colar, indecisa. Pensei por alguns segundos sob o olhar ansioso de Peter, que já estava me deixando nervosa, até que suspirei e perguntei:

—... Se eu disser que sim, você me deixa trabalhar em paz?

— Sem mais interrupções. – Ele ergueu as mãos em ato de rendição.

— Ótimo.

— Pera. Então isso é um sim?

Fiz que sim com a cabeça.

— Ah. Uau! Então... Vamos direto ou prefere que te pegue na sua casa?

Se minha mãe me visse saindo com um garoto, ficaria no meu pé até o fim. E eu não estava afim de ficar aguentando histórias de namorado.

— Vamos direto. É melhor.

— Ótimo. Então... Até amanhã!

Ele deu um sorriso bobo e saiu. Acho que meu sim foi algo inesperado não só para mim, mas para ele também. O que eu tinha na cabeça?

Sentei e tentei voltar ao raciocínio, em vão. A idiotice que eu havia acabado de fazer ficava ecoando em minha mente. Por que eu havia aceitado? Não havia sentido naquilo. Respirei fundo e forcei-me a focar no trabalho.

Ao chegar em casa, tomei um banho quente, jantei e passei um tempo com minha mãe.

— E então – Começou ela – Tem garotos bonitos por lá?

Ela parecia adivinhar os piores momentos para começar certos assuntos.

— Mãe!

— O quê? Eu sou curiosa.

— Ah, eu ainda não conheço bem o pessoal, mas tem um ou outro cara bonito.

— Algum pretendente?

— Pensando no fato de que quase todos ali tem mais de 30, acho pouco provável.

— Hahaha quem sabe alguma exceção ali não te conquista.

— Difícil.

— Acho que ainda é cedo pra dizer. – Ela sorriu.

Lembrei-me de meu "ilustre" compromisso do dia seguinte e pensei em contar a ela, mas não queria ouvi-la perguntar de Parker todos os dias como sabia que faria, então decidi me calar.

— Meus pés estão doendo. – Mudei de assunto.

— Por causa dos saltos? Com o tempo você se acostuma.

— Espero. Parece que eles foram esmagados por um elefante.

— Que exagero. – Ela riu.

Gostava de fazer minha mãe rir. Era algo que me fazia bem. Enquanto ela ria parecia, pelo menos por um instante, que estava livre dos problemas.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora