Capítulo 51

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6 horas. O despertador tocou e dessa vez não havia desculpa ou escapatória. Eu teria que ir para a aula.

— Primeiro dia de aula sem um bom dia seu, mãezinha... – Sussurrei, com o coração apertado.

Levantei-me da cama lentamente e me vesti adequadamente, com uma calça jeans, tênis e camiseta, como sempre. Ao sair do quarto, pude ouvir May furiosa com Peter. Apenas rezei para que a bronca estivesse ocorrendo em qualquer lugar, menos na cozinha, e adivinhem? Bingo! Era na cozinha.

— Eu nunca proibi você de sair. Nunca te prendi nem te segurei. A única coisa que eu sempre peço é que você avise onde vai e que horas pretende voltar. E além de sumir você pelo jeito inventou de brigar na rua? Quer me matar do coração, Peter Benjamin Parker? Acho bom ter uma boa explicação pra me dar!

Entrei na cozinha em absoluto silêncio, sem me atrever sequer a dizer bom dia. Ao me ver, May suspirou e disse, olhando para Peter:

— Terminamos essa conversa mais tarde.

Sentei à mesa e peguei um copo de suco, tentando parecer natural. Sinceramente, não sabia dizer qual climão era pior: entre Peter e eu por causa do beijo de ontem, ou entre May e Peter e eu no meio fazendo a plena. Que situação...

Após tomarmos café, Peter pegou sua mochila e saiu porta afora com cara de poucos amigos. May sentou-se em uma cadeira e suspirou, massageando as têmporas. Fui até ela e tentei aliviar a barra de Peter:

— May... Não pega muito pesado com o Peter. Ele me contou o que aconteceu quando chegou. Uns idiotas mexeram com o Ned e Peter tentou defender ele, mas os garotos vieram pra cima... Ele só tava querendo ajudar o amigo. Sei que foi irresponsável da parte dele, mas... Enfim... Eu não devia estar me intrometendo. Tchau, May. Volto à noite.

Sem esperar por uma resposta, saí e fui para o colégio. Durante o caminho, fiquei pensando na noite anterior e me questionando se havia feito a escolha certa. Embora minha mente estivesse convicta, eu não conseguia sentir que era o certo a fazer.

Cheguei no colégio, e logo os olhares cautelosos se voltaram para mim. Eles provavelmente já sabiam sobre minha mãe, e logo vi que o dia seria difícil. Fingi que não era comigo e fui para a sala fazer a maldita prova de biologia, que pareceu durar três eternidades.

No intervalo aconteceu de novo. Os mesmos olhares de pena e cautela. Continuei andando pelo corredor tentando ignorar tudo aquilo, mas comecei a ficar nervosa. Senti um nó na garganta e tudo começou a ficar turvo. Meus olhos estavam marejados.

Com dificuldade, avistei Charlie fechando seu armário. Quando me viu, veio em minha direção, e eu corri até ele. Abracei-o fortemente e escondi o rosto em seu peito para que não me vissem chorar.

— Vem, Lena. Vamos sair daqui. – Disse ele, passando a mão em meus cabelos.

Charlie levou-me até a quadra de esportes, que estava vazia naquele momento, para que eu pudesse me acalmar. Sentamos na arquibancada e ele deixou que eu chorasse abraçada a ele até que me sentisse melhor.

Após algum tempo chorando, me acalmei e respirei fundo, aninhando-me no abraço de Charlie.

— Tá mais calma?

­— Acho que sim... – Funguei.

— Vai ficar tudo bem. Eu tô aqui com você.

— Ah, Charlie. Tá tudo dando errado! Só faço merda.

— Não é verdade. O que você fez?

— Já não basta eu ter perdido minha mãe. Agora eu desperdicei minha chance.

— Não entendi.

Suspirei e desencostei a cabeça de seu peito. Olhando para o chão e sentindo uma lágrima escorrer por meu rosto, murmurei:

— É o Peter... Ontem a gente teve uma discussão, como sempre. Mas aí ele mudou o rumo da conversa. – Funguei – Ele disse que gosta de mim, me beijou e começou a questionar se eu sentia o mesmo... E eu estraguei tudo!

— Você disse que não?

— Eu disse que isso não ia dar certo e pedi pra ele sair.

— Mas pera. Você gosta dele então? Ou não?

— Eu gosto. Mas eu fico nervosa quando ele começa com isso e entro em pânico, aí ajo assim em defesa.

Charlie olhou para mim com um pequeno sorriso nos lábios.

— Nunca pensei que veria você nervosa e sofrendo por um garoto.

— Ugh... Nem eu.

— Mas Lena, se você gosta mesmo dele, por que não fica com ele numa boa? Por que tanto nervosismo? Ele parece ser um cara legal e parece gostar de você. Tenta. E se ele te magoar eu quebro a cara dele por você.

— Você sabe que se ele me magoasse eu quebraria a cara dele.

— Então! Conversa com ele hoje e se explica. Se ele gosta mesmo de você, com certeza vai entender.

— Mas e se eu ficar nervosa e estragar tudo de novo?

— Helena... Você já bateu num garoto dois anos mais velho que você, já enfrentou o professor de álgebra até provar que ele tava errado e já aguentou a Sofia cantando por anos. Você é capaz de qualquer coisa, sério!

Ri levemente. Amava a maneira como Charlie me passava confiança. Abracei-o fortemente e disse:

­— Obrigada!

Após a aula fui até o ponto, mas estagnei quando vi o ônibus indo embora, já virando a esquina. Fiz menção de correr atrás dele, mas não teria forças para isso. Pensei em esperar o próximo, mas demoraria demais, e eu não tinha todo esse tempo.

Decidi que iria de Uber, até perceber que não tinha grana... Eu teria realmente que esperar o próximo ônibus. Tony vai me matar, pensei.

Dez, vinte, trinta minutos se passaram e nada do ônibus. Tentei ligar para Tony, mas estava sem crédito.

— Mas que merda! Não tem como esse dia piorar! – Praguejei.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora