Capítulo 32

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Sofia olhou para a mesa onde os garotos estavam e disse:

— Acho que é ele sim, Lena.

— Não, não é.

— Vou procurar uma foto pra conferir. – Disse ela, pegando seu celular.

— Não é necessário! – Exclamei, tirando o celular de sua mão e recolocando sobre a mesa – Mesmo se for ele, não faz diferença. É só um colega de trabalho.

Sofia e Charlie se entreolharam em silêncio. Continuei concentrada em meu celular.

— Lena... Por que você tá evitando o garoto tanto assim? Quer contar algo? – Perguntou Sofia.

— Não tenho nada pra contar. Só não quero meu trabalho interferindo na minha vida pessoal.

O garçom trouxe nossos pedidos, e eu tentei focar ao máximo em meu milkshake.

Olhei sutilmente para a mesa de Peter, e vi Ned olhando para mim. Disfarcei.

Meu celular vibrou com uma nova mensagem. Liguei a tela e vi pelas notificações, na esperança de ser alguma notícia de minha mãe, mas não era. Era uma mensagem de Peter dizendo "Vai continuar me ignorando até quando?"

Revirei os olhos e bloqueei a tela do celular, sem responder. Senti o olhar de Peter em mim e tentei me manter de costas para a mesa dele, mas a vontade de conferir se ele continuava insistindo era maior. Vez ou outra, eu sutilmente me virava e olhava por entre as mechas de meu cabelo, que caíam pelas laterais do rosto, e percebia que ele quase sempre estava olhando para mim.

Meus amigos conversavam e tentavam me colocar na conversa, mas eu não conseguia prestar atenção. Estava tensa, com medo de Peter tentar se aproximar. Esporadicamente, eu fazia algum comentário, para não ficar tão inerte à conversa.

— Lena, você acha melhor ir pra casa? Eu te levo se quiser. – Disse Charlie, percebendo que eu não estava legal.

— Não, tá tudo bem. Eu só tô um pouco distraída.

— Acho que preciso te levar pra Itália comigo. – Brincou Sofia – É um lugar lindo, e cheio de garotos lindos também.

— E lá vem ela com papo de macho. – Reclamou Charlie.

— O quê? São fatos, Charlie. Os garotos de lá são lindos. Loiros de olhos azuis.

— Eu sou loiro e tenho olhos azuis e você não fica suspirando por mim.

— Ain, Charlie. É diferente. Você é você.

Não pude deixar de rir internamente com a indignação de Charlie ao ouvir a última frase dita por Sofia.

— Eu não suspiro por você, mas não significa que você não seja bonito. Tenho certeza que você arranca sorrisos por aí. Talvez a garota apenas seja discreta, como a Helena. – Disse ela.

— Helena não suspira por ninguém, Sofia. Ver ela sorrir já é raro.

— Verdade. Ela é bem séria. – Pensou ela – Talvez ela precise de um namorado.

— Não. Isso não deixaria ela mais calma em nada.

— Pensa bem, Charlie. Ela ia estar apaixonada. Tenho certeza de que seria mais doce e...

— Eu ainda tô aqui, viu? – Avisei.

Olhei para os dois em silêncio, tentando me lembrar quando decidimos que meu mau humor ou minha relativa falta de um namorado seria o assunto do momento. Charlie percebeu.

— Desculpa. Quando quiser ir, avisa a gente. – Disse ele, calmo, segurando minha mão.

Fiz que sim com a cabeça, num sorriso amarelo. Eu não queria estar ali, mas não queria atrapalhar meus amigos. Fazer aquele pequeno sacrifício por eles não era nada perto de tudo o que já fizeram por mim, de todas as encrencas das quais já me tiraram e de todo o apoio que sempre me deram.

Terminamos de comer e repartimos os gastos, como sempre fazíamos. Demos o dinheiro a Charlie, que foi no balcão pagar.

Quando Charlie voltou, levantei e olhei por um instante para Peter. O garoto olhava para mim sério, com um olhar indecifrável. Sem dizer nada, saí porta afora e fui até o carro com meus amigos.

Levaram-me para casa ao som de Shawn Mendes. Não me impressionava o fato de ser a playlist de Sofia tocando. Mas não era ruim, eu até cantarolava uma música ou outra enquanto estava distraída. O carro parou em frente à minha casa. Despedi-me de Charlie e Sofia e desci do carro.

Entrei em casa e fui para o meu quarto. Tirei aquelas roupas, coloquei uma calça moletom e uma camiseta de manga longa (não, eu não usava pijamas) e aconcheguei-me em minha cama com meu livro. Antes que pudesse abrir o livro, a saudade de minha mãe invadiu-me com força, quebrando qualquer tentativa de disfarce. Peguei um porta-retrato com uma foto nossa que estava sobre a cabeceira e sorri, com um nó na garganta.

— Foi com você que aprendi a amar livros, suspenses e biscoitos com leite, não é? - Sussurrei, com os olhos marejados – Não vai, por favor. Volta pra casa, mamãe.

Respirei fundo. Ficar falando sozinha como se ela pudesse me ouvir não a traria de volta. Enxugando as lágrimas, coloquei o porta-retrato de volta no lugar e peguei meu celular. Mandei uma mensagem para o Doutor Scott, perguntando de minha mãe.

Enquanto ele não respondia, abri meu livro, tentando distrair minha mente. Romances policiais e suspenses roubavam minha atenção com muita facilidade. Eu mergulhava nos crimes, criava teorias sobre os suspeitos e sempre tentava solucionar os casos antes que chegasse ao final do livro.

Após alguns minutos, a resposta veio. Senti tudo girar ao meu redor conforme lia a mensagem de Scott. Parecia um terrível pesadelo, mas conseguia ser ainda pior. Era realidade.

Vendo que não conseguiria mais prestar atenção em nada, fechei meu livro e o coloquei sobre a mesa de cabeceira. Deitei e tentei desligar a mente, mas os pensamentos invadiam minha mente contra minha vontade e me impediam de pegar no sono.

Não dormi nada naquela noite, tamanho era meu desespero perante a resposta que recebi de Scott. Aquilo só podia ser um pesadelo, e eu precisava acordar.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora