Capítulo 54

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— Deixa ele fora disso! Sou eu que você quer! É de mim que você quer se vingar! – Falei, quase numa súplica.

Percebendo que havia atingido meu ponto fraco, ele aproximou a boca de meu ouvido e disse, quase num sussurro:

— Hm... É mesmo né? Mas pensa só na dor que eu iria causar em você se eu tirasse o garoto da jogada.

Estava cada vez mais difícil de me controlar. Já com lágrimas nos olhos, gritei:

— Sou eu que você quer, David! Deixa ele em paz! Você é louco, é doente e não vai chegar a lugar nenhum com isso!

David arqueou as sobrancelhas. Ele então disse, com ar de decepção:

— Ah, Helena. Que coisa feia. Sério que você vai dar esse show bem aqui, na frente do seu pai?

Olhei para ele e franzi as sobrancelhas.

— Do que você tá falando? Meu pai morreu antes de eu nascer, quando minha mãe tava grávida.

David percebeu a confusão em meus olhos e riu cinicamente.

— Ah, não. Sério? É sério que sua mãe mentiu pra você durante todo esse tempo? Ela nunca te contou a verdade? – Perguntou, claramente se divertindo com a situação.

— Não me contou o quê? – Perguntei, confusa.

— Bom, como você deve saber, sua mãe e eu namoramos por anos quando éramos jovens. Ela era como você: durona e chata. Mas era bonita, e eu via isso como um tipo de desafio. Ela se interessou por mim, é claro. Quem não se interessaria?

Revirei os olhos. Ele continuou:

— Nosso relacionamento era bacana. A gente se dava bem. Mas tinha um detalhe na sua mãe que eu simplesmente não suportava: as amizades dela. E quando eu digo "as amizades", me refiro ao seu amiguinho aqui. – Disse ele, apontando para Tony, que permanecia imóvel – Eu não suportava o jeito como ele sempre estava em absolutamente tudo.

Tony olhava para ele seriamente. Eu podia ver o ódio que ele sentia por estar incapacitado de agir e partir pra cima de David.

— E aí a gente começou a brigar. Sempre. Toda vez. E o motivo era sempre qual? Exatamente! O amiguinho da Rosely! – David estava começando a se alterar. Lembrar disso parecia doloroso para ele – Eu tentava ser legal e não ligar, mas eu sentia que essa amizade dos dois ia acabar trazendo problema. E eu tava certo.

David suspirou. De repente toda a sua raiva pareceu se transformar em decepção.

— Ela me traiu.

Olhei para ele, perplexa. Não era possível. Minha mãe não faria uma coisa dessas. Faria?

— Me traiu com o grande amigo dela. Aquele que, segundo ela, não era um problema. Né, Stark?

Tony permanecia imóvel. O maxilar travado. David continuou:

— Ela me pediu desculpa, mas eu já nem conseguia olhar pra ela. Eu amei a Rosely, e ela não deu valor. A gente teve uma briga bem feia e eu disse que não queria ver ela nunca mais. – Ele suspirou novamente – Mas aí os anos se passaram, nós crescemos, amadurecemos, e eu percebi que ainda era apaixonado por ela. Achei um contato e decidi ir atrás dela, conversar. Pra minha surpresa, ela não tava sozinha. Tinha uma criança com ela. Uma filha.

Engoli em seco.

— Nós voltamos a conversar amigavelmente e eu não podia negar. Eu ainda a amava. Quando percebi, estava flertando com ela como quando éramos jovens e...

— Será que dá pra pular essa parte? – Perguntei.

David lançou-me um olhar duro, e todo seu sentimentalismo se esvaiu ali. Sua frieza e sarcasmo estavam de volta.

— Bom... Nós decidimos tentar de novo. Você já devia ter uns sete ou oito anos, deve se lembrar dessa época. Estava tudo indo bem, mas havia uma dúvida que martelava todos os dias em minha cabeça. – Ele olhou em meus olhos – Quem era o pai da doce Heleninha?

Sustentei seu olhar com firmeza, embora estivesse suando frio.

— Nós nunca havíamos tocado nesse assunto, mas eu suspeitava de que fosse eu. Pelas minhas contas, a idade da criança batia com a época próxima ao nosso término.

Fechei meus olhos. David? Meu pai? Não! Aquilo era demais para mim. Já não bastava tudo o que eu estava passando, como a morte de minha mãe, meus problemas com Peter e com Tony, agora David, o ex namorado maluco da minha mãe, estava me dizendo que era meu pai? E que minha mãe havia mentido para mim sobre meu pai durante toda a minha vida?

Senti o estômago embrulhar. Meu coração batia forte e eu tentava, em vão, manter-me calma. Eu já nem sabia mais o que pensar.

— Eu tomei coragem e fui falar com ela sobre isso. – Continuou David – Mas aí a verdade veio à tona.

Sua voz continha uma amargura profunda.

— Aquela criança de quem eu cuidei com tanto carinho, por quem eu fazia de tudo, não era minha. Primeiro foram as notas. Depois, o amor da minha vida. E até a paternidade você conseguiu tirar de mim, Stark. Meus parabéns.

Demorei alguns segundos para entender o que estava acontecendo ali. Se não estivesse presa à cadeira, com certeza teria caído. Tudo começou a girar, e as peças começaram a se encaixar em minha mente. A amizade entre Tony e minha mãe ressurgir do nada, ele aparecer com um emprego para mim sem mais nem menos, as estranhas conversas dela com David, o fato dela ter pedido para que Tony fosse comigo até o hospital quando ela estava partindo e de tê-lo deixado responsável por mim. Tony Stark era meu pai!

Era por isso que ele ficava tão bravo quando eu me metia em encrenca! Era por isso que havia me dado um cargo relativamente alto na Torre Stark! Era por isso que ele havia cuidado de todo o processo do velório e enterro da minha mãe! Era por isso que ele ia me levar para morar com ele! E era por isso que ele havia encanado com a ideia de que eu ficasse na casa de Peter!

Tony Stark era meu pai!

Olhei para Tony, totalmente sem reação. Ele devolveu o olhar em silêncio, como se não soubesse o que dizer. Fechou os olhos lentamente e suspirou. Era verdade.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora