Capítulo 44

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Fui rapidamente até a cozinha descobrir a origem do barulho, e devo dizer que fiquei bem surpresa.

— Peter? Tá tudo bem? Que barulho foi ess... – Parei, olhando para a bagunça que aquela cozinha estava.

Peter olhava para mim como quem é pego no flagra. Sua roupa estava cheia de farinha... E o chão também.

— O que aconteceu aqui? – Perguntei.

— Eu tava tentando fazer biscoitos...

— Biscoitos?

— É. Sua noite foi difícil. E você parecia meio triste enquanto estava estudando, aí pensei em fazer biscoitos pra tentar fazer você se sentir melhor. Como você disse que sua mãe fazia. – Ele parecia sem jeito.

Era impossível não sorrir ouvindo aquilo. Peter podia ser meio bobo às vezes, mas tinha um coração de ouro.

— Já falei que você é adorável, Parker? – Perguntei, ainda sorrindo.

Ele sorriu de volta, as bochechas rosadas. Ficamos sorrindo um para o outro por alguns instantes, até que olhei novamente para o chão branco de farinha e perguntei:

— Deixa eu perguntar... Você nunca fez biscoitos antes, né?

— Tá tão na cara assim?

Ri levemente e falei:

— Vamos, eu ajudo você. Pega uma vassoura pra gente limpar essa bagunça.

Enquanto Peter varria o chão, eu limpava a pia, e enquanto limpávamos, eu só pensava na reação que May teria se visse aquela sujeira toda. Em pouco tempo, a cozinha estava apresentável novamente.

— Tá bem. Vamos lá. – Falei, arregaçando as mangas – Coloca duas xícaras de farinha nessa tigela pra mim.

Peter mediu perfeitamente duas xícaras (nerds e suas manias de exatidão) e colocou na tigela, como eu havia pedido.

— Assim? – Perguntou ele.

— Isso. – Respondi, tocando a ponta de seu nariz com o dedo sujo de farinha.

— Ei! – Exclamou ele, rindo.

Sorri e continuei a receita, misturando a farinha com os demais ingredientes. Peter ajudava-me exatamente da forma como eu ajudava minha mãe, pegando as coisas e lendo a receita em voz alta para indicar o próximo passo.

Misturei a massa e mergulhei o dedo na tigela. Provei e logo lembrei dos momentos passados com minha mãe. Senti um calor no peito, uma saudade boa. Tratei de me concentrar no momento presente, para não ficar mal novamente.

— O que acha? – Perguntei, dando a tigela para Peter provar.

Ele mergulhou o dedo na tigela, provou a massa e sorriu.

— Agora entendi porque eles faziam você se sentir melhor.

Sorri. Por último, coloquei as gotas de chocolate e despejei a massa em pequenas porções na forma. Coloquei no forno e disse:

— Agora é só esperar. Aliás, você já pediu a pizza?

— Já. Deve chegar logo.

Sorri. Agora só nos restava esperar. Guardamos as coisas e lavamos a louça, deixando a cozinha organizada para quando May chegasse.

— Vamos lá pra sala enquanto esperamos. – Disse Peter.

Sentamos no sofá e ligamos a televisão, mas começamos a conversar e acabamos nem assistindo.

— Você tá melhor? Quer conversar sobre o que aconteceu? – Perguntou ele.

— Foi só um pesadelo... Não sei se quero falar a respeito. Não agora.

— Sem problemas. Depois de tanto tempo ouvindo May dizer a mesma coisa, já nem contesto.

— Desde quando você mora com sua tia? – Perguntei.

— Desde sempre, eu acho. Meus pais morreram quando eu era bem pequeno, aí ela sempre cuidou de mim.

— Sinto muito. Eu não fazia ideia. – Falei, constrangida.

— Tudo bem. Eu não me lembro deles. Como disse, eu era um bebê quando aconteceu.

Não respondi, sentindo-me a pessoa mais idiota da face da Terra. Tinha mesmo que ter perguntado, Helena? Sério?, repreendi-me silenciosamente.

— E seu pai? Você nunca falou nada dele. – Perguntou Peter.

— Ele morreu enquanto minha mãe ainda tava grávida. Tudo o que ela me dizia sobre ele é que ele era um homem muito bom.

— Sinto muito também.

— Tá tudo bem.

— Eu achei que seu pai fosse aquele homem que ficou perto do túmulo da sua mãe no dia do enterro. Mas você parecia não gostar muito dele. Pensei que talvez fossem divorciados.

— O quê? David? Não. Aquele é um ex namorado da minha mãe. Um completo imbecil.

— Nota-se que você não se dá bem com ele. – Peter sorriu, achando graça em como meu humor mudou ao falar de David.

Abri a boca para falar, mas tudo o que saiu foi um meio sorriso. Eu realmente havia me exaltado.

— Gosto desse seu jeito bravinho. – Sorriu Peter – Combina com você.

— Eu não sou bravinha.

— Ahn... Sim, você é. Bravinha e teimosa.

— Não. Eu não...

Fui interrompida pela campainha. Peter levantou-se rapidamente e disse, indo até a porta:

— Deve ser a pizza.

E era. Ele pagou o entregador e pegou a caixa, fechando a porta logo Em seguida. Desliguei a televisão e fui até a cozinha com ele para jantarmos.

Pegamos os pratos, copos e talheres e colocamos sobre a mesa. Peter abriu a geladeira e tirou uma garrafa.

— Eu pensei na gente beber um vinho enquanto comia. – Olhei surpresa para o garoto, até que ele continuou – Mas não tinha vinho aqui, e eu não bebo e não sabia se você bebia, aí eu comprei suco de uva integral. – Completou, com as bochechas vermelhas.

Mordi as bochechas para não rir. Minha vontade às vezes era de guardar Peter em um potinho.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora