A brisa da tarde parecia sussurrar em meus ouvidos. Os murmúrios das pessoas eram quase inaudíveis, e alguns pássaros insistiam em cantar, ignorando o momento inapropriado.
Todos olhavam para mim com pena, e como eu odiava isso. Mas era quase que inevitável não se comover, eu compreendia. Talvez, se estivesse no lugar das pessoas, eu também sentiria pena de mim.
O velório havia sido longo. Tony insistiu em providenciar tudo e eu aceitei, atônita. Apareceram pessoas que eu sequer conhecia, pessoas que nunca imaginei que iria ver de novo e alguns parentes de longe que vieram apenas para demonstrar solidariedade. Charlie permaneceu ao meu lado o tempo todo durante o velório, insistindo para que eu comesse algo, mas nada descia. Apenas encostei em seu ombro e fitei o nada por horas, com os pensamentos embaralhados e o coração apertado.
Após longas horas de velório sem descanso, eu estava agora no cemitério, ao lado do túmulo de minha mãe, e não saía por nada. Era doloroso pensar que estava assistindo ao enterro dela. Da minha própria mãe.
Estava segurando o choro, tentando me manter calma, quando senti alguém pousar a mão delicadamente em meu ombro. Olhei para o lado e não soube como reagir. Em um terno preto, Peter olhava para mim com os lábios franzidos, como se não soubesse bem o que dizer. Abracei-o e comecei a chorar, não aguentando mais segurar os soluços. Ele passou os braços ao meu redor, acariciando-me gentilmente.
— Eu sinto muito. – Sussurrou ele.
Apertei mais os braços à sua volta, escondendo o rosto em seu peito. Ele passou a mão em meus cabelos, tentando me acalmar.
Naquele momento, toda a raiva, toda a mágoa pareciam ter se dissipado. O conforto daquele abraço era o único lugar onde eu queria estar. Talvez o único onde eu pudesse estar.
Tony assistia a tudo um pouco de longe, pois sabia que iria acabar chamando atenção, e Pepper permanecia a seu lado. Era muito gentil de sua parte, pensando no quão egocêntrico ele sempre fora.
Ao lado do túmulo, David permanecia inexpressivo. Não parecia sentir nem um pouco, mas fazia questão de estar próximo.
Conforme o tempo foi passando, as pessoas foram indo embora. David observava cada um silenciosamente, como uma cobra que aguarda a presa perfeita. Após todos terem ido, ele pareceu se cansar e foi também. Olhou para mim uma última vez, mas não pronunciou uma palavra sequer. Eu não entendia o porquê dessa aproximação repentina, e não tinha vontade alguma de entender.
Olhei em volta. Ficamos apenas Peter e eu. Passamos algum tempo em silêncio, um pouco afastados do túmulo, até que ele disse:
— Preciso ir embora. Onde você vai ficar essa noite?
— Não sei ainda.
— Se precisar, fica em casa por um tempo. Tem um quarto de hóspedes vazio.
— Não quero atrapalhar.
— Qual é, Lena. Minha tia adoraria ter você em casa... E eu também.
Olhei em seus olhos, sem saber o que responder.
— Ahn... Tá bem, eu... Eu vou ver o que vou fazer. Obrigada.
— Vem, vamos comigo. Eu te levo. Pegamos suas coisas na sua casa.
— Eu vou ficar mais um pouco, Peter. – Respondi, a voz baixa.
— Helena...
Coloquei a mão em sua boca levemente, fazendo com que se calasse.
— Eu só quero me despedir.
Ele olhou em meus olhos e me deu um longo abraço. Eu me segurei para não recomeçar a chorar. Então ele partiu, e eu me vi sozinha.
Caminhei lentamente e ajoelhei-me ao lado do túmulo de minha mãe. Permaneci em silêncio por alguns minutos, lendo e relendo seu nome gravado e relembrando tantos e tantos momentos que passamos juntas.
Após tomar coragem, levantei-me, pronta para ir embora.
— Tenho certeza de que ela sempre teve muito orgulho de você.
Virei-me rapidamente e percebi que não estava sozinha.
— Achei que já tinham ido embora.
Tony e Pepper estavam a poucos passos de distância.
— Preferi ficar afastado pra não chamar atenção. Não era o momento de ser a estrela. – Disse Tony.
Esbocei um sorriso, tentando demonstrar gratidão.
— Nós podemos conversar um pouco? – Perguntou ele.
Acenei afirmativamente com a cabeça.
— Pepper, diga para o Happy te levar pra casa. Eu volto depois.
Ela olhou para ele por um instante, séria, mas não contestou. Entrou no carro e saiu sem dizer nada, com uma expressão preocupada.
Ele fez um sinal para que eu o seguisse. Caminhamos até o portão do cemitério e atravessamos a rua, indo até a praça que havia do outro lado. O sol começava a se pôr.
Tony se sentou em um banco e sentei a seu lado, curiosa para saber do que se tratava o assunto. Ele respirou fundo e passou a mão pelo rosto, visivelmente nervoso. Parecia pensar em quais palavras usar.
— Eu ainda não sei bem como dizer isso... – Começou ele.
— Sem cerimônias, Sr. Stark. – Encorajei-o, falando baixinho.
Ele franziu os lábios e olhou para o chão, provavelmente tomando coragem. Enfim, olhou em meus olhos e disse:
— Quando nós fomos no hospital, e sua mãe pediu pra conversar comigo a sós... – Ele respirou fundo novamente – Ela me contou algumas coisas.
Eu olhava para ele sem compreender.
— Coisas como o que ela vinha passando nesses últimos anos. E como você sempre foi a melhor coisa da vida dela... – Ele fez uma pausa – E conversamos sobre como vai ser daqui pra frente.
A expressão serena que havia em meu rosto se esvaiu. Como vai ser daqui pra frente? Por que minha mãe falaria disso com ele? Mesmo que tivessem sido amigos no passado, Tony era apenas meu chefe, não tinha nada a ver com minha vida.
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Perdão pela demora, Cerejinhas! Eu tive uns imprevistos e realmente só consegui postar agora! Espero que aproveitemmm ♥ (mesmo com o atraso KKKKK)
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I (don't) Need a Hero!
RomansaImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...