Capítulo 40

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No dia seguinte, acordei com murmúrios vindos da cozinha. Olhei no celular, que marcava 6h30. May provavelmente estava fazendo o café e Peter se arrumando para a aula.

A aula! Eu havia esquecido! Pulei da cama e me vesti voando, colocando a primeira roupa que consegui tirar da mala e corri para o banheiro para escovar os dentes. Chegando na cozinha, May e Peter viraram-se para mim, surpresos.

— Helena? Já acordada? – Perguntou May.

— Eu tô atrasada pra aula! Vou perder o ônibus.

— Lena, você não vai pra aula hoje, esqueceu? – Disse Peter, num tom calmo.

— O quê? Eu vou sim. Não vou trabalhar, mas vou pra aula.

— Querida – Começou May – O Sr. Stark disse que você deveria descansar hoje. Nada de aula, nem trabalho...

— May, eu tô bem. Posso ir pra aula.

— Lena, vai descansar. – Peter pousou a mão em meu ombro – Você tá com olheiras. Passou por muita coisa nesses últimos dias.

Estava acontecendo de novo. O olhar de pena. Mas que raiva eu sentia disso.

— Eu...

— Vamos, querida. Volte a dormir. Quando você acordar, faço panquecas pra você. – Disse May, levando-me de volta para o quarto. Embora não quisesse perder aula, eu não teria coragem de desobedecê-la. Voltei para o quarto e deitei na cama novamente, sentindo-me inútil.

O dia foi longo e entediante. May foi trabalhar e eu fiquei sozinha na casa, olhando para o teto.

Sentindo um pouco de culpa, porém me deixando levar pela curiosidade, entrei no quarto de Peter. As peças sobre a escrivaninha, a bagunça típica de um nerd me davam a imagem perfeita do garoto. Quase podia sentir sua presença ali.

Tive vontade de abrir as portas de seu guarda-roupas e ver suas roupas, mas sabia que estaria sendo invasiva demais.

Sentei na sala e liguei a televisão, embora sequer estivesse assistindo. As lembranças de minha mãe eram a única coisa que se passava diante dos meus olhos. Chorei.

Resolvi pegar um livro para distrair a mente, já que assistir televisão não estava funcionando. Não sei dizer ao certo quantas horas passei lendo, mas quando me dei conta, começava a escurecer.

Em torno de 19h May chegou e me cumprimentou:

— Oi, querida. Tudo bem por aqui?

— Oi May. Tudo sim.

— Vou tomar um banho e começar a fazer o jantar. Peter deve chegar logo.

May entrou no banheiro e não se demorou por lá. Quando saiu do banho, foi para a cozinha. Ofereci ajuda, mas como sempre, ela negou.

Pouco tempo depois, Peter chegou.

— E aí, Lena.

— Oi, Peter.

— May já chegou?

— Sim. Tá na cozinha fazendo o jantar.

— Ok. Vou tomar um banho.

— Tá bem.

Peter foi até a cozinha, cumprimentou a tia e foi tomar banho. Fui até a cozinha e fiquei fazendo companhia para May enquanto Peter estava no banho. Ela falava do sobrinho com um carinho e orgulho adoráveis.

— Peter é um bom garoto. Nunca me deu trabalho nenhum. Sempre foi estudioso, educado, gentil...

— Tenho certeza de que ele teve um ótimo exemplo. – Falei, docemente. Ela sorriu.

— A única coisa que o atrapalha é a timidez. Ele sempre foi bem quieto.

Comecei a lembrar das visitas diárias de Peter à minha sala, mas permaneci em silêncio.

May olhou rapidamente para a porta do banheiro e, percebendo que permanecia fechada, disse baixinho, quase num sussurro:

— Eu perguntei para o Peter, mas ele negou até a morte. Vocês estão juntos?

Olhei para ela surpresa, os olhos arregalados.

— Oi? N-não, nós... Nós realmente não temos nada. Somos só amigos. – Gaguejei.

— Hmm... Vocês ficariam lindinhos juntos. Mas acredito que sua amizade já faça muito bem pra ele.

Sorri debilmente, sem muita reação. Ouvi o barulho da porta e pude ver Peter saindo do banheiro enrolado em sua toalha, indo para o quarto. Engoli em seco.

— Bom, eu... Peter saiu do banheiro. Vou tomar banho. – Falei.

— Tudo bem, querida. Logo o jantar fica pronto.

Quando entrei no banheiro, pude sentir o vapor quente que ainda existia lá dentro, por conta do banho de Peter. Tentei demorar o mínimo possível, e logo saí.

Pouco tempo depois, May anunciou que o jantar estava pronto e nos chamou para comer.

— Como foi hoje na empresa? Perdi muita coisa? – Perguntei para Peter.

— Tudo normal. Sem grandes novidades.

Suspirei.

— Nunca pensei que fosse dizer isso, mas sinto falta de ir trabalhar.

— Seu dia foi tão ruim assim? – Perguntou Peter.

— Não é isso. Eu tô acostumada a estar sempre na ativa, fazendo alguma coisa. É estranho pra mim passar o dia sem fazer nada.

Peter olhou para mim como se eu fosse louca. Talvez eu fosse.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora