Ao levantar na segunda-feira para ir para a aula, estava apreensiva. Eu já não me sentia tão enjoada, mas estava com dor de cabeça e completamente paranóica. Charlie pareceu perceber que eu não estava bem, e perguntou delicadamente:
— Lena, tá tudo bem? Você parece nervosa.
— Tudo bem, sim.
— Lena, como você tá? Tá enjoada ainda? – Perguntou Sofia, chegando no meio de nós.
— Enjoada? – Perguntou Charlie.
— É, eu não estava muito bem esse fim de semana. – Respondi, visivelmente nervosa.
Charlie olhou para mim com seu típico olhar de "precisamos conversar", e eu entendi o recado. Sofia entrou para a aula, e ao invés de entrar também, fui com Charlie até a famosa arquibancada onde sempre conversávamos quando o assunto pedia privacidade.
— Tá legal, o que tá rolando? – Perguntou ele.
— Longa história.
— Bom… Eu não me importo em perder aula de filosofia e sei que você também não, então acho que temos tempo.
Sorri. Charlie me conhecia muito bem. Era como um irmão pra mim.
— Certo… bom, na segunda-feira passada eu…
Contei para Charlie sobre o encontro da semana anterior, sobre tudo o que rolou, sobre meu enjoo na sexta-feira e a hipótese levantada por Sofia que havia me deixado de cabelo em pé. Charlie ouviu tudo atentamente sem me interromper e esperou que eu concluísse a história para abrir a boca:
— Tá, então a conclusão de tudo isso é que você tá com medo de estar grávida?
— Basicamente. – Encolhi os ombros.
— Olha, Lena… Eu não sou expert no assunto, mas acho que demora mais que uma semana pra passar mal quando se está grávida. E outra, se vocês usaram camisinha é muito difícil acontecer.
— Eu sei, mas é mais fácil pôr isso na cabeça quando não se está apavorada.
— Relaxa. Vai ficar tudo bem. Logo você vem toda estressada sem motivo e dando patada em todo mundo, e vamos ter a certeza de que é sua TPM monstruosa chegando.
Sorri, um pouco mais calma. Era muito bom ter Charlie para conversar e desabafar. Ele sempre quebrou o desespero que Sofia muitas vezes criava com seu jeito… Intenso de ser e pensar.
Passei a aula toda pensando nisso e repetindo para mim mesma mentalmente que não havia como que me preocupar, e estava com tudo sob controle, até Sofia perguntar:
— Você já contou pra ele?
— O quê?
— Pro Peter. Já falou que tá passando mal e… – Percebi que a frase não acabava aí, mas ela se deteve.
— Não. Não é nada. Não quero preocupar Peter com bobagens.
Sofia fitou-me por um instante, até que deu de ombros, se despediu e foi embora. Pronto. Eu já estava paranoica novamente.
Passei em frente a uma farmácia no caminho para o ponto de ônibus, e tudo o que me veio em mente foi comprar um teste de gravidez.
Chegando na empresa, entrei em minha sala e respirei fundo, tentando manter a calma. Bateram à porta, e minha voz falhou quando fui dizer que podiam entrar.
— Tudo bem aí? – Perguntou Peter, entrando e fechando a porta.
— Oi. Tudo sim. Como foi a aula? – Perguntei, tentando não demonstrar nervosismo.
— Foi tudo bem, sem grandes novidades. Tem certeza de que tá bem?
— Sim… Por quê?
— Porque eu te conheço. Você tá vermelha e sua voz tá falhando. Você tá segurando o choro?
— N-não…
— Tá sim. O que aconteceu? – Perguntou ele, abraçando-me.
— Nada. Não acordei bem, só isso.
— Lena, se estamos juntos agora, não pode ter segredo entre a gente. Você sabe meu maior segredo, e pra isso funcionar preciso que me fale as coisas.
Fechei os olhos e afundei o rosto em seu peito. Eu não ia falar nada. Não até que tivesse alguma confirmação.
— Deve ser TPM. – Falei.
Peter passou a mão por meus cabelos e me deu um beijinho no topo da cabeça.
— Tem algo que eu possa fazer? Posso comprar um chocolate, se quiser. – Disse ele, sem jeito.
Sorri. Peter era a pessoa mais doce que já havia conhecido.
— Não se preocupa, vou ficar bem. – Tranquilizei-o, com um sorrisinho.
Peter suspirou, provavelmente me achando uma grande teimosa.
O resto do dia pareceu se arrastar, e a única coisa que martelava em minha mente era o medo.
Chegando em casa, guardei minhas coisas. Estava sentada no sofá assistindo a um programa qualquer na televisão, quando Tony disse da porta:
— Estava pensando em irmos jogar boliche agora. O que acha?
— O boliche não abre de segunda. – Respondi, distraída.
— É mesmo? Interessante. – Disse ele, aproximando-se – Então será que pode me dizer onde você e o Peter realmente estavam na segunda-feira passada?
Arregalei os olhos, paralisada. Merda!
— Ahn… Onde nós estávamos? Bom, nós… – Gaguejava, tentando encontrar uma resposta que não sentenciasse minha morte.
— E já que vai me explicar onde estavam, aproveita e explica isso aqui, Helena! – Ele exclamou, já quase gritando.
Ao olhar em sua mão, uma onda de apavoro surgiu em meu rosto. Tony segurava um teste de gravidez indicando positivo.
Espera. Teste de gravidez?
— Eu não… – Fui responder, mas fui interrompida por Pepper, que apareceu na sala.
— O que está acontecendo? – Perguntou ela, e então viu o que Tony segurava – Tony! Você estragou a surpresa.
— Surpresa! Você sabia e não me falou nada? Pepper, a Helena é uma criança! Eu não acredito que vocês…
— Tony – Interrompeu ela – Isso não é da Helena.
Levei as mãos à boca, incapaz de conter minha surpresa. Pepper estava grávida! Tony olhava para ela, totalmente sem reação, e eu olhava para ele, com vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.
— Parabéns, papai. – Disse Pepper, dando um beijinho em seu rosto, deixando-o com cara de bobo.
Quando fui tomar banho, quase chorei de alívio. Eu estava menstruada.
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I (don't) Need a Hero!
RomansaImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...