Capítulo 41

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Depois que terminamos de jantar, May foi arrumar a cozinha, Peter foi assistir televisão e eu fui para o quarto ler, como de costume. Para ficar mais confortável para dormir, coloquei uma camiseta de mangas longas e um short de malha (de lei, né).

Charlie mandou mensagens perguntando como eu estava, se precisava de algo e dizendo ter sentido minha falta na aula. Disse a ele que estava bem e que segunda feira estaria de volta. Confesso que foi bom sentir que tinha amigos com quem contar.

Quando ele perguntou onde eu estava, engoli em seco. Eu não queria dizer que estava na casa de Peter, pois com certeza ele e Sofia iriam fazer gracinhas depois. Mais Sofia do que ele, na verdade.

Não havia muita escolha, então acabei contando. Charlie sutilmente perguntou se havia algum motivo "especial" para eu estar aqui, e eu respondi que era minha única opção, o que não era mentira. Pedi a ele que controlasse a zoeira de Sofia, e ele prometeu deixar tudo sob controle. Charlie era o melhor!

Eram pouco mais de 22h30, quando ouvi batidas na porta. Deve ser May vindo dar boa noite, pensei. Ao abrir a porta, percebi que estava errada. Era Peter.

— Tô atrapalhando?

— Não. Eu só tava lendo um pouco pra passar o tempo.

— A gente pode conversar?

—... Claro.

Peter entrou no quarto e sentou-se na cama. Sentei-me de frente para ele e perguntei:

— Aconteceu alguma coisa?

— Não. Só tava afim de te encher o saco um pouquinho. May foi dormir e pensei que podíamos conversar, sei lá.

Sorri. Gostava de conversar com Peter.

— Tudo bem então. Sobre o que quer falar? - Perguntei.

— Não sei. Me conta como foi seu dia.

— Passei o dia lendo. Fim.

— Uau... Emocionante. – Brincou ele.

— Hahaha. E você? Salvou muitas vidas hoje?

— Não... O dia hoje foi bem parado. Até o Sr. Stark parecia menos focado.

— Poxa. Eu faço falta mesmo. – Brinquei.

— É, faz.

Peter concordou num ar sincero e levemente distraído. Ao perceber o que tinha dito, olhou para mim e rapidamente tentou mudar de assunto.

— Mas enfim... Como você tá?

— Um pouco confusa, e com muita saudade. É estranho não ter mais ela por perto, sabe?

— Sinto muito...

Dei um meio sorriso, com os lábios franzidos.

— Vocês eram bem próximas né? – Ele perguntou.

— Ela sempre foi minha melhor amiga.

— Não a conheci, mas tenho certeza de que foi alguém incrível.

Foi. Verbo no passado. Doeu ouvir aquilo.

— Sim. Foi a pessoa mais incrível que já conheci.

— É tão bonito o jeito como você a descreve.

— E o mais bonito é que é tudo verdade.

Pronto. A maldita vontade de chorar me ardia a garganta. Segurei o quanto pude, mas meus olhos estavam marejados. Peter percebeu.

— Vem cá. – Disse ele, quase num sussurro, enquanto sentava-se mais perto de mim e me abraçava.

Eu ainda relutava contra o choro, tentando me manter firme, quando ouvi Peter dizer baixinho:

— Põe pra fora. Eu tô aqui.

Aquelas palavras me desestabilizaram de tal forma, que não tive forças para segurar. As lágrimas escorreram quentes por minhas bochechas, seguidas de um soluço abafado.

— Eu sinto tanto a falta dela. – Falei, somente.

Peter acariciava minha cabeça, enquanto segurava meu corpo junto ao seu. Minhas lágrimas molhavam sua camiseta, mas ele parecia não se importar. Abraçava-me cada vez mais forte.

Eu nunca havia desabafado com alguém a ponto de chorar. Não dessa maneira. Era algo estranho para mim, apesar de trazer um certo alívio, quando comparado a todas as vezes em que segurei o choro. Eu ainda estava com vergonha por chorar na frente de Peter, mas não conseguia me conter. A saudade que minha mãe deixava ardia incessantemente.

Após um tempo, fui me acalmando aos poucos. Saí de seu abraço e respirei fundo, recompondo-me.

Peter olhava-me com um pequeno e triste sorriso, em silêncio. Sem olhar para ele, murmurei, enxugando as lágrimas com a manga da camiseta:

— Desculpa.

— Pelo quê?

— Eu...

— Apenas fez o que qualquer um faria no seu lugar.

Olhei para ele e ensaiei um sorriso, os olhos ainda um pouco molhados.

— Quer ficar sozinha?

— Não. Quer dizer... Não sei...

Ele olhava para mim pacientemente.

— Olha, eu... Eu acho que vou tentar dormir. – Falei.

— Me chama se precisar de alguma coisa. – Disse ele.

Fiz que sim com a cabeça. Peter deu um beijo em minha testa e saiu do quarto, encostando a porta.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora