— Achei que fosse ficar aqui só até eu dormir. – Falei, ainda sem reação.
— Era a intenção. Acho que acabei dormindo também...
Ambos estávamos envergonhados, sem saber para onde olhar.
— Então eu... Hmm... Eu vou escovar os dentes e... É. Escovar os dentes. – Gaguejou ele, vermelho.
— Tá. E eu... Eu vou me trocar. – Respondi, com igual nervosismo.
— Legal... – Disse ele, e saiu do quarto.
Troquei de roupa e arrumei os cabelos, ainda sem acreditar que Peter havia dormido em meu quarto. Se May soubesse, iria pensar muita besteira.
Chegando na cozinha, cumprimentei May, que colocava um prato de panquecas na mesa.
— Bom dia. Está melhor, Helena? – Disse May.
— Bom dia. Estou sim, obrigada. – Respondi, envergonhada.
Sentei-me à mesa e logo Peter chegou. Olhei para ele de maneira sutil e disse, como se ainda não tivéssemos nos visto essa manhã:
— Bom dia, Peter.
— B-bom dia...
Houve um breve silêncio enquanto tomávamos café, até que Peter disse:
— May, vou terminar meu projeto de física com o Ned esse fim de semana, tudo bem?
— Tudo bem, querido.
Passei a manhã desenhando, com os fones no ouvido e a mente distante. Após o almoço, sentei no chão do quarto e comecei a estudar para a prova que teria segunda feira, e Peter ofereceu ajuda.
— Lendo? – Perguntou ele, ao passar na frente do quarto.
— Estudando. Tenho prova de biologia na segunda.
— Posso ajudar, se você quiser.
— Vai me ajudar a estudar e sair ou vai ficar por aqui mesmo? – Provoquei.
Peter arqueou as sobrancelhas, um pouco sem jeito, e eu disse:
— Senta aí.
Eu não costumava precisar de ajuda para estudar, mas talvez fosse legal estudar com Peter.
O garoto sentou-se no chão ao meu lado, e começamos a ver a matéria. Passamos algumas horas vendo e revendo todo o conteúdo até que eu me sentisse confiante para fazer a prova.
— Acha que tá pronta? – Perguntou Peter.
— Sim. Tô confiante.
— Não aceito menos que um 10. – Brincou ele.
Ergui uma sobrancelha, rindo levemente. Ele riu também, entregando meu caderno.
— Bom, vou tomar um banho. – Disse ele, enfim.
Assenti com a cabeça, em silêncio, e fui guardar meus livros e cadernos.
Sofia me mandou uma mensagem. Ela contava empolgada sobre sua viagem para a Itália, e mandava inúmeras fotos. Ainda estava lendo sobre o quanto ela estava radiante, quando vi May entrando no banheiro. Peter pelo jeito teria de esperar. Ela não demorou no banho e, ao sair do banheiro, começou a se arrumar. Parecia com um pouco de pressa. Provavelmente iria sair.
— Peter – Chamou ela, depois de pronta, pegando sua bolsa – Vou sair com a Anna. Deixei o dinheiro para a pizza em cima da mesa.
— Tá bem. – Disse ele.
— Comportem-se. Não demoro. – Ela sorriu e deu uma piscadinha para ele, que corou.
May saiu e Peter foi, enfim, tomar seu banho. Enquanto eu esperava, fiquei conversando com Sofia e lendo tudo o que ela contava sobre o boy da padaria, o do restaurante, o da gôndola, o da praça e mais tantos outros.
Após um tempo, Peter saiu do banheiro com a toalha enrolada na cintura e os cabelos pingando levemente. Seus braços fortes e abdômen definido chamaram minha atenção. Inconscientemente, mordi o lábio inferior.
— Devia ter tomado banho antes, Lena. A água quente acabou. – Disse ele, arrancando-me de meu estado de admiração.
Minha boca se abriu em uma interjeição de dor, quando ele riu levemente e disse:
— Brincadeira.
Arqueei uma sobrancelha, e ele sorriu. Peter entrou em seu quarto e fechou a porta para se trocar, enquanto fui pegar roupas limpas para tomar banho. Entrei no banheiro e fechei a porta, ainda levemente anestesiada pela imagem de Peter de toalha, que insistia em ficar em minha mente.
Liguei o chuveiro, fechei meus olhos e permiti que a água quente escorresse por meu corpo, acalmando-me. Eu me sentia culpada por pensar em Peter daquela maneira, e esse sentimento ruim acabou desencadeando vários outros.
Pensei em Tony tendo em mãos a responsabilidade de cuidar de mim. Um homem ocupado, cheio de compromissos e coisas para fazer, meu chefe, cuidando de uma adolescente de 16 anos. Parecia até piada.
E May? Solteira, criando o sobrinho sozinha e agora tendo que aguentar uma garota que sequer conhecia em sua casa.
E minha mãe. Minha mãe, que mesmo sozinha e doente, sempre cuidou de mim com todas as forças. Que sempre me ensinou o valor das pequenas coisas. Que nunca me deixou perder a esperança, mesmo quando tudo dava errado. E estava dando tudo errado. Mas a diferença é que eu já não tinha mais ela para me dizer que ficaria tudo bem. Eu estava por mim mesma, e isso me apavorava.
Lembrei-me, então, do maldito sonho. Meu coração acelerou e precisei tapar a boca para abafar os soluços. Mesmo com o barulho do chuveiro ligado, não queria dar nenhuma chance a Peter de saber que eu estava chorando.
Em silêncio e já com a garganta ardendo, permiti a mim mesma aliviar tudo o que sentia. A culpa, a tristeza, o medo, a angústia... Todos os sentimentos ruins indo pelo ralo com a água quente.
Já mais calma, terminei o banho e desliguei o chuveiro, meu corpo ainda quente envolto pelo vapor. Vesti uma camiseta, short e moletom e calcei minhas pantufas, pois eu sinceramente não estava ligando para o quão infantil ou mal-acabada eu iria parecer.
Quando saí do banheiro, ouvi um barulho vindo da cozinha. Gelei imediatamente, com medo do que pudesse estar acontecendo.
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I (don't) Need a Hero!
DragosteImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...