Com Peter dentro de meu guarda-roupa, abri a porta do quarto, nervosa.
— Helena, você tava conversando com alguém? – Perguntou minha mãe, olhando meu quarto por cima de meu ombro.
— Não consegui dormir, aí coloquei um filme pra assistir.
— Tá alto. Abaixa isso e quando acabar, vai dormir, tá bem?
— Tá bem, mãe.
Ela me deu um beijinho na testa e saiu. Tranquei a porta e esperei alguns segundos, para me certificar de que ela já estava longe da porta. Ouvi seus passos se afastando e percebi que ela havia ido.
Abri o guarda-roupa, onde Peter permanecia como uma estátua. Fiz um sinal para que saísse.
— Vai embora. – Falei, mais calma.
— Como isso aconteceu?
— Peter, eu...
— Por favor. Me conta. Prometo que vou embora depois.
Olhei em seus olhos, insegura.
— Confia em mim. – Disse ele, num tom de voz doce.
Suspirei, sentei em minha cama e dei-me por vencida. Segurei meu colar, tomando coragem, e Peter se sentou ao meu lado.
— Namorei aquele cara por dois meses no ano passado, até ele me trair. Depois ele ficou insistindo em voltar, e eu sempre disse não. Hoje eu perdi a paciência e soquei ele. Ele ficou bravo e quis revidar. Feliz?
— Ele não aceitou o término? Você não se relacionou com ninguém depois dele?
— Não. A experiência que tive com relacionamentos foi péssima. Não quero que se repita.
— Não pode se privar disso por causa de uma pessoa. Nem todos são como ele.
— Olha, isso já não importa mais.
— Você não pode deixar um relacionamento errado te assombrar pra sempre.
— É fácil falar.
— Acha que nunca passei por situações difíceis também?
Ao ouvi-lo dizer isso, pensei em Liz e fiquei levemente irritada.
— Peter, eu...
— Escuta. – Ele segurou em meus ombros e olhou em meus olhos – Eu sei que você não gosta de se abrir ou de demonstrar fraqueza, mas não precisa bancar a forte o tempo todo. Tá tudo bem! Eu te prometo que vou estar aqui com você sempre que você precisar! E se aquele cara mexer com você de novo, não enfrenta ele sozinha, por favor. Me liga! Você tem meu número.
Fiquei quieta, olhando para ele. Ainda era estranho para mim ver Peter, o garoto tímido e desajeitado parecer assim tão sério e maduro de repente.
— Pode prometer isso pra mim? – Perguntou.
Relutei, mas acabei dando-me por vencida e fiz que sim com a cabeça, com vontade de chorar.
— Ótimo. Agora vou indo. Você deve estar cansada. Boa noite, Helena.
Peter deu um beijo em meu rosto, colocou sua máscara e saiu janela afora, pulando de prédio em prédio. Observei sua silhueta desaparecer no escuro da noite e fechei a janela, sem reação.
Já sozinha, sem conseguir segurar mais, chorei. Eu estava tão confusa. Por que Peter fazia eu me sentir tão... Desarmada? Ele parecia ter percebido que eu estava quase chorando, e saiu porque sabia que eu odiaria ser vista nesse estado. Ele entendia.
Sem cabeça para mais nada, deitei e dormi.
Acordei na manhã seguinte com dor de cabeça. Peguei alguns comprimidos e joguei-os na bolsa, passei uma pomada no braço e saí. A mochila estava mais pesada por conta da inusitado "presente" que eu levava para Tony, e eu tomava cuidado para não esbarrar em nada nem ninguém.
Ao chegar na escola, todos os olhares se voltaram para mim, e eu desejei nunca ter aparecido ali. Várias pessoas vieram e começaram a falar, todas ao mesmo tempo. Eram perguntas sobre ontem, afirmações, e os nomes Luke e Homem Aranha foram citados pelo menos 15 vezes cada.
Eu já estava confusa e totalmente perdida. Se era assim que os famosos ficavam em meio aos paparazzi, essa vida com certeza não era pra mim. Corri para o banheiro para poder respirar.
O sinal tocou e, aos poucos, as pessoas foram indo para suas salas. Após alguns minutos, consegui sair.
Quando entrei na sala, foi a mesma coisa. Todos olhando para mim, sussurrando e comentando.
— Silêncio! Srta. Jones, está atrasada. – Disse o professor.
— Desculpa. Eu tive... Um imprevisto.
Sentei em silêncio e a aula prosseguiu. Não consegui prestar muita atenção. Não com tantos sussurros ao meu redor.
Durante o intervalo, Charlie chegou até mim e disse:
— Fiquei sabendo do que aconteceu ontem. Você tá bem?
— Tô. Tirando esse monte de gente em cima de mim, eu tô legal.
— Ele machucou você?
— Não. Fica tranquilo.
— Ouvi que você foi salva por um herói... Isso é sério? Ou é uma invenção do povo?
Suspirei. "Foi salva". Dar um soco em Luke não significava salvar o dia. Eu havia socado Luke também e não fui considerada uma heroína por isso.
— Acho que o Homem Aranha tava fazendo uma teia por ali e aproveitou pra dar um oi. – Dei de ombros.
— Seu humor ácido é inacreditável.
— Obrigada. – Sorri cinicamente.
O resto da manhã foi o mesmo inferno. Eu fugindo das perguntas como o diabo foge da cruz. Enfim, chegou a hora de ir para a empresa.
Ao entrar, fui direto até a sala de Tony.
— Sr. Stark?
— Pois não?
Entrei e fechei a porta cuidadosamente.
— Quero falar sobre o acontecimento de sábado no Queens.
Ele suspirou.
— Srta. Jones, eu não...
Antes que ele pudesse continuar, tirei de dentro da bolsa a arma que peguei do grandalhão no sábado à noite e a coloquei sobre a mesa.
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I (don't) Need a Hero!
RomansImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...