Capítulo 12

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— Por que não? - Perguntou Peter.

— Os heróis geralmente passam a ideia de um homem forte, beirando os 30 anos. Alguém sério e bravo.

— Eu só não tenho 30 anos.

Olhei para ele e não pude deixar de rir.

— Tá rindo do quê?

— Nada não.

— Fala.

— Forte, sério e bravo? Jura?

— Claro.

— Peter... Até um chihuahua é mais sério e bravo que você.

— Ei!

Rimos, e o clima automaticamente melhorou. Após mais alguns instantes, chegamos ao café. Achamos uma mesa num canto discreto, ao fundo, e nos sentamos.

Um garçom chegou e perguntou o que gostaríamos.

— Tá com fome? – Perguntou Peter.

— Não.

— E o que vai beber?

— Nada, obrigada.

— Ah, para. Não vai beber nada?

— Não. Tô só com o cartão e preciso passar na farmácia.

— Gosta de cappuccino?

— Sim, por quê?

— Dois, por favor. – Pediu ao garçom.

— Peter! Não precis...

— Prefere creme ou açúcar?

— Peter, eu não...

— Ok, os dois com creme. Obrigado.

O garçom anotou e saiu. Olhei para Peter com uma sobrancelha erguida:

— Você é bem teimoso, né?

— Era o mínimo que eu podia fazer por te arrastar pra cá pra falar de crimes. Podemos começar?

— Claro.

Peter começou a contar sobre tudo o que viu nos casos em que agiu, em como os criminosos usavam roupas semelhantes e armas totalmente estranhas.

Começamos a criar teorias sobre os locais e horários dos crimes, tentando ver se algum dado batia com outro, enquanto tomávamos nossos cappuccinos.

— Eles não estão roubando só pela posse. As pessoas assaltadas desaparecem pouco tempo depois dos disparos. Tem alguma coisa aí.

— Acha que podem começar a fazer coisas piores?

— Tenho certeza.

— Como Tony não tá dando atenção pra esse caso? – Perguntei.

— Isso tá acontecendo muito por debaixo dos panos. Nem a mídia tá expondo.

— É verdade. Não vi isso no noticiário.

— Eu preciso fazer ele me ouvir.

— Posso tentar ajudar. Talvez se eu falar também, ele ouça.

— Espero que sim. Não consigo acompanhar o ritmo deles, pelo menos não sozinho. São muitos ataques por dia, fora os roubos comuns.

— Não tem medo? – Perguntei – De se arriscar por pessoas que nem conhece?

— Medo sempre dá. Mas eu não posso deixar as pessoas morrerem e não fazer nada.

Olhei para ele e sorri.

— É, talvez você não seja tão irresponsável quanto aparenta.

— Sua primeira impressão sobre mim é uma desgraça, hein.

— Hahahahaha!

Conversamos mais um pouco e decidimos ir falar com Tony Stark pessoalmente no dia seguinte. Olhei em meu celular. Oito horas. Nenhuma chamada de minha mãe.

— Acho que já vou, Peter.

— Seus pais vêm te buscar? Se quiser eu espero com você.

— Eu vou a pé mesmo.

— A pé? Sozinha?

— Sim.

— Não vou deixar você ir sozinha. Te acompanho até sua casa.

— Não precisa. Fica tranquil...

— Passamos duas horas conversando sobre uma ameaça perigosíssima que ronda a cidade e você quer voltar sozinha? Sério?

Olhei para ele e dei de ombros.

— Sem chance. Vamos, eu levo você.

— Mas depois vai voltar a pé pra sua casa? Sozinho?

— Não diria a pé.

— Então...?

Peter fez disfarçadamente um gesto como se lançasse teias, indicando que voltaria como Homem Aranha, pulando pelos prédios.

— Não é arriscado? Alguém pode te ver.

— Faço isso sempre. Não se preocupa.

Peter pagou os cappuccinos e saímos do café. O céu estava limpo, e a lua cheia iluminava as ruas, juntamente com os postes antigos e falhos, que tantas vezes piscavam e ameaçavam apagar.

Fomos conversando sobre coisas aleatórias no caminho, conhecendo um ao outro.

— Tony Stark é incrível! Sempre me inspirei nele nos meus projetos da escola. – Falei.

— Você me lembra ele, às vezes.

Olhei para ele, surpresa.

— Eu?

— Sim. Não sei, o jeito irônico misturado à inteligência. E sei lá, alguma coisa no seu rosto, talvez.

— Hahaha já está achando até traços físicos? Só falta você falar que eu pareço filha do cara.

— Ah, não exagera, vai hahaha.

Rimos. A companhia de Peter estava sendo realmente agradável. Fazia tempo que não conversava com alguém desse jeito.

— É aqui. – Falei, parando em frente à minha casa.

— Tá entregue.

— Obrigada por me trazer.

— Não precisa agradecer. – Disse ele num pequeno sorriso, virando-se para ir.

— Peter.

O garoto olhou para mim.

— Toma cuidado.

Ele sorriu, e pude notar certa ternura em seu olhar.

— Eu sempre tomo. – Disse, dando uma piscadinha, e virando-se para ir. Peter virou em uma esquina logo à frente e, em alguns instantes, pude ver ao longe a silhueta de um rapaz pulando pelos prédios. O garoto aranha estava em ação.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora