— Por que não? - Perguntou Peter.
— Os heróis geralmente passam a ideia de um homem forte, beirando os 30 anos. Alguém sério e bravo.
— Eu só não tenho 30 anos.
Olhei para ele e não pude deixar de rir.
— Tá rindo do quê?
— Nada não.
— Fala.
— Forte, sério e bravo? Jura?
— Claro.
— Peter... Até um chihuahua é mais sério e bravo que você.
— Ei!
Rimos, e o clima automaticamente melhorou. Após mais alguns instantes, chegamos ao café. Achamos uma mesa num canto discreto, ao fundo, e nos sentamos.
Um garçom chegou e perguntou o que gostaríamos.
— Tá com fome? – Perguntou Peter.
— Não.
— E o que vai beber?
— Nada, obrigada.
— Ah, para. Não vai beber nada?
— Não. Tô só com o cartão e preciso passar na farmácia.
— Gosta de cappuccino?
— Sim, por quê?
— Dois, por favor. – Pediu ao garçom.
— Peter! Não precis...
— Prefere creme ou açúcar?
— Peter, eu não...
— Ok, os dois com creme. Obrigado.
O garçom anotou e saiu. Olhei para Peter com uma sobrancelha erguida:
— Você é bem teimoso, né?
— Era o mínimo que eu podia fazer por te arrastar pra cá pra falar de crimes. Podemos começar?
— Claro.
Peter começou a contar sobre tudo o que viu nos casos em que agiu, em como os criminosos usavam roupas semelhantes e armas totalmente estranhas.
Começamos a criar teorias sobre os locais e horários dos crimes, tentando ver se algum dado batia com outro, enquanto tomávamos nossos cappuccinos.
— Eles não estão roubando só pela posse. As pessoas assaltadas desaparecem pouco tempo depois dos disparos. Tem alguma coisa aí.
— Acha que podem começar a fazer coisas piores?
— Tenho certeza.
— Como Tony não tá dando atenção pra esse caso? – Perguntei.
— Isso tá acontecendo muito por debaixo dos panos. Nem a mídia tá expondo.
— É verdade. Não vi isso no noticiário.
— Eu preciso fazer ele me ouvir.
— Posso tentar ajudar. Talvez se eu falar também, ele ouça.
— Espero que sim. Não consigo acompanhar o ritmo deles, pelo menos não sozinho. São muitos ataques por dia, fora os roubos comuns.
— Não tem medo? – Perguntei – De se arriscar por pessoas que nem conhece?
— Medo sempre dá. Mas eu não posso deixar as pessoas morrerem e não fazer nada.
Olhei para ele e sorri.
— É, talvez você não seja tão irresponsável quanto aparenta.
— Sua primeira impressão sobre mim é uma desgraça, hein.
— Hahahahaha!
Conversamos mais um pouco e decidimos ir falar com Tony Stark pessoalmente no dia seguinte. Olhei em meu celular. Oito horas. Nenhuma chamada de minha mãe.
— Acho que já vou, Peter.
— Seus pais vêm te buscar? Se quiser eu espero com você.
— Eu vou a pé mesmo.
— A pé? Sozinha?
— Sim.
— Não vou deixar você ir sozinha. Te acompanho até sua casa.
— Não precisa. Fica tranquil...
— Passamos duas horas conversando sobre uma ameaça perigosíssima que ronda a cidade e você quer voltar sozinha? Sério?
Olhei para ele e dei de ombros.
— Sem chance. Vamos, eu levo você.
— Mas depois vai voltar a pé pra sua casa? Sozinho?
— Não diria a pé.
— Então...?
Peter fez disfarçadamente um gesto como se lançasse teias, indicando que voltaria como Homem Aranha, pulando pelos prédios.
— Não é arriscado? Alguém pode te ver.
— Faço isso sempre. Não se preocupa.
Peter pagou os cappuccinos e saímos do café. O céu estava limpo, e a lua cheia iluminava as ruas, juntamente com os postes antigos e falhos, que tantas vezes piscavam e ameaçavam apagar.
Fomos conversando sobre coisas aleatórias no caminho, conhecendo um ao outro.
— Tony Stark é incrível! Sempre me inspirei nele nos meus projetos da escola. – Falei.
— Você me lembra ele, às vezes.
Olhei para ele, surpresa.
— Eu?
— Sim. Não sei, o jeito irônico misturado à inteligência. E sei lá, alguma coisa no seu rosto, talvez.
— Hahaha já está achando até traços físicos? Só falta você falar que eu pareço filha do cara.
— Ah, não exagera, vai hahaha.
Rimos. A companhia de Peter estava sendo realmente agradável. Fazia tempo que não conversava com alguém desse jeito.
— É aqui. – Falei, parando em frente à minha casa.
— Tá entregue.
— Obrigada por me trazer.
— Não precisa agradecer. – Disse ele num pequeno sorriso, virando-se para ir.
— Peter.
O garoto olhou para mim.
— Toma cuidado.
Ele sorriu, e pude notar certa ternura em seu olhar.
— Eu sempre tomo. – Disse, dando uma piscadinha, e virando-se para ir. Peter virou em uma esquina logo à frente e, em alguns instantes, pude ver ao longe a silhueta de um rapaz pulando pelos prédios. O garoto aranha estava em ação.
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I (don't) Need a Hero!
RomanceImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...