Demorei a dormir naquela noite. Meus pensamentos estavam a mil, e aquele beijo não saía da minha cabeça. Na manhã seguinte, acordei transtornada.O momento do café foi extremamente tenso. Ter que conversar com May e Peter como se nada tivesse acontecido não era nada fácil.
— Vocês estão quietos. – Disse May – Aconteceu alguma coisa?
— Não, May. Acho que só estamos cansados. – Respondeu Peter, lançando-me um olhar duro. Eu não disse uma palavra sequer.
— A rua estava uma loucura ontem à noite! Fiquei morrendo de medo de voltar pra casa. – Contou May.
Fechei meus olhos. Merda! O dia não estava sendo fácil mesmo.
— Ontem à noite? O que aconteceu? – Indagou Peter.
— Uma quadrilha estava abordando várias pessoas. Não vi se roubaram algo, mas destruíram toda a venda da Sra. Turner.
Peter instintivamente lançou-me um olhar preocupado, como quem entendeu a possibilidade de ter sido a perigosa quadrilha que vinha aterrorizando Nova York. Como se lembrasse de ontem, ele desviou o olhar de volta para sua tia, perguntando:
— Você tá bem? Eles te machucaram?
— Estou bem, querido. Eu estava um pouco longe quando aconteceu, e o Homem de Ferro apareceu e literalmente me escoltou até a porta.
Suspirei, aliviada. Tony havia lido minha mensagem. Eu jamais me perdoaria se algo acontecesse com May naquela noite.
— Vocês não viram nada no noticiário? – Perguntou ela.
Sem olhar um para o outro, apenas fizemos que não com a cabeça. May deu de ombros e não contestou.
Durante a tarde, a campainha tocou. Enquanto Peter foi atender, fui até a cozinha beber um copo de suco. Estava fechando a geladeira, quando ouvi uma voz próxima a mim dizer:
— Oi, May.
Virei-me rapidamente, não reconhecendo a voz. Era o tal Ned, amigo de Peter que, ao ver que eu não era May, começou a gritar. Assustada, acabei gritando também.
— AAAAAAAAAAAAAAH!
— AAAAAAAAAAAAAAH!
Peter correu até a cozinha e perguntou, assustado:
— O que tá acontecendo aqui???
— Peter, tem uma estranha na sua cozinha! Chama a polícia! – Exclamou o garoto.
Olhei para ele e franzi o cenho, sem entender nada.
— Ned, calma. Essa é a Helena. – Explicou Peter, acalmando o amigo, e disse sem me olhar nos olhos – Esse é o Ned.
— Espera... Essa é a Helena? – Perguntou Ned, dando ênfase na palavra "essa".
Peter fez que sim com a cabeça.
— Ela é diferente de perto. Acho que agora entendi porque você fala tanto dela. – Disse o garoto, arqueando as sobrancelhas.
Olhei para Peter, que lançou um olhar cortante para o amigo. Numa falha tentativa de ser mais discreto, Ned "sussurrou", como se eu não pudesse ouvir:
— Você deveria "laçar ela" com a sua teia. Entendeu? Teia... Laçar...
— Ned! – Peter exclamou, sem graça.
Tive que conter o riso ao ouvir aquilo. Sabendo que Ned conhecia o segredo de Peter e tentando quebrar o clima tenso que havia entre Peter e eu naquele momento, falei:
— Então quer dizer que o garoto aranha sai falando de mim por aí?
Ned olhou surpreso para mim e depois para Peter, perguntando incrédulo:
— Você contou pra ela?
— SHHH! May tá em casa! – Sussurrou Peter.
— Você contou pra ela? – Ned repetiu, sussurrando desta vez – Eu não acredito que contou pra ela! Achei que só eu sabia do seu segredo! Que traição!
Cruzei meus braços enquanto assistia em silêncio o drama.
— Ned... – Peter chamou, mas foi interrompido.
— Achei que eu fosse o único a saber porque sou seu melhor amigo!
— Ned...
— Não acredito que você contou pra ela só porque ela é bonita e...
— Ned! Me ouve! A Helena trabalha comigo! Ela sabe de tudo porque trabalha comigo!
Ned calou-se e olhou para mim, que ainda mantinha os braços cruzados e um sorriso debochado no rosto. Peter cobriu o rosto com as mãos, vermelho. Apesar do climão, aquilo estava sendo divertido.
— Vamos logo terminar aquele trabalho. – Disse Peter, já impaciente, levando Ned até seu quarto.
Agora que estava sozinha na cozinha, finalmente consegui beber meu suco. Que doideira. Peguei meu livro e fui até o quarto na esperança de conseguir ler um pouco, mas não obtive sucesso. O maldito beijo não saía da minha mente por nada, e eu já estava a ponto de enlouquecer.
Deitei-me na cama e fechei os olhos, dando um longo suspiro. Por que as coisas tinham de ser tão difíceis?
— Ah, mãezinha... Se a senhora estivesse aqui, com certeza me ajudaria a resolver esse problemão em que eu me meti. – Sussurrei, como se ela pudesse me ouvir.
Fiquei pensando em minha mãe e lembrando de seu jeito, sua voz, seu perfume, até que acabei pegando no sono. Acordei após algum tempo, com barulho de panelas e das portas do armário abrindo e fechando. May provavelmente estava guardando a louça.
Saí do quarto, ainda um pouco sonolenta, e resolvi tomar um banho para despertar. No caminho para o banheiro, ouvi as vozes de Peter e Ned conversando no quarto. Mesmo sabendo que era errado ouvir a conversa alheia, minha curiosidade falou mais alto. Sutilmente, aproximei-me da porta do quarto e pude ouvir o que parecia uma discussão:
"Você tem que falar com ela. Não pode continuar com isso."
"Sei disso. Mas eu não sei o que fazer. Não sei nem por onde começar."
"Por que não abre o jogo?"
"Não dá. Não agora."
"Por quê?"
"Porque a reação dela não vai ser nada boa, tenho certeza."
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I (don't) Need a Hero!
RomantizmImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...