Capítulo 73

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— Tirem o garoto daqui. – Disse Tony.

— Tony… – Pepper tentou se aproximar, mas Tony recuou, dando-nos as costas e indo em direção às escadas.

— Eu não vou repetir. – Declarou ele, subindo os degraus e sumindo de nosso campo de visão.

Fiz menção de ir até ele, mas Pepper segurou-me pelo ombro, impedindo-me.

— Isso é tudo culpa minha. – Murmurou Peter, fechando os olhos.

— Isso já não tem importância, Peter. Eu vou pegar uma roupa pra você e vou te levar pra casa. – Disse Pepper, tentando parecer calma.

— Minha mochila está no quarto da Helena… Minhas roupas estão nela.

— Ótimo. Vou pegar sua mochila então.

Ela subiu as escadas e voltou pouco tempo depois com a mochila de Peter. O garoto a abriu e pegou sua camiseta, calça e sapatos, vestindo-se rapidamente.

Pepper pegou a chave de seu carro e foi em direção à porta. Peter olhou para mim com tristeza. Sem dizer mais nada, foi até a porta e saiu.

Sem saber o que fazer, subi as escadas e fui em direção a meu quarto. Passei pelo quarto de Tony e vi a porta fechada. Pensei em bater, mas desisti. Entrei em meu quarto e fechei a porta, soltando um suspiro.

Fui até o espelho e encarei meu próprio reflexo. Os olhos inchados e o nariz vermelho não me deixavam mentir, tudo estava indo de mal a pior. Pensei em como minha mãe reagiria a essa situação. Ela provavelmente me daria um longo sermão, mas entenderia. Provavelmente me questionaria se eu realmente amava Peter e, ao ouvir meu sim e ver como ele é um bom rapaz, me incentivaria a ter um relacionamento com ele.

E como eu sentia falta disso. Do jeito como ela me entendia e me apoiava, como mesmo me dando puxões de orelha, demonstrava amor e cuidado. Eu sabia que Tony se esforçava para ser um bom pai, e em grande parte das vezes se saía muito bem, mas seu amor bruto muitas vezes mais machucava que fazia bem. E mesmo vendo todo o esforço que Tony mantinha diariamente para termos uma boa relação, eu estraguei tudo.

E foi então que meu pensamento pairou sobre Peter. O garoto sempre fez de tudo para me ver bem, para me ver sorrir, e eu nunca dei a ele o valor que merecia. E quando tudo finalmente parecia ir bem, eu estraguei tudo. De novo.

Peter abriu mão daquilo que trazia sentido à vida dele por mim. Perdeu sua posição de herói, perdeu a confiança de Tony… E eu o perdi. Sentindo-me a pior pessoa do mundo, sentei-me sobre a cama e abracei meus joelhos, encolhendo-me.

Eu simplesmente havia conseguido arrumar confusão com todo mundo. Tony, Peter, até mesmo Pepper, que nada tinha a ver com nada daquilo, agora estava envolvida, e teria que aguentar a ira de Tony pelos próximos dias.

Ainda estava olhando para o nada, com esses pensamentos me atormentando, quando ouvi batidas na porta e gelei por um instante, pensando na hipótese de ser Tony pronto para me matar. A porta se abriu e, para meu alívio, era Pepper.

— Helena? – Ela abriu a porta, procurando por mim.

— Oi… – Respondi, com o olhar perdido.

Ela entrou, fechou a porta e se sentou ao meu lado, fitando-me por alguns instantes.

— Ele ainda está trancado no quarto, né? – Perguntou, por fim.

— Tá.

Pepper soltou um profundo suspiro e massageou as têmporas, já prevendo a dor de cabeça que teria.

— Eu estraguei tudo. – Murmurei.

— Vocês são iguaizinhos. Dois cabeças duras impulsivos que precisam aprender a lidar com sentimentos.

— Uau… Valeu. – Respondi, irônica.

— Achei lindo o modo como você e o Peter se defenderam, como ele abriu mão de tudo por você… Mas você pegou pesado com Tony.

— Eu sei. Estava desesperada e foi o único argumento que me veio em mente. Acho que ainda preciso aprender a lidar com esse fato.

Pepper passou um momento em silêncio, como se escolhesse as palavras. Por fim, perguntou:

— Rolou alguma coisa? Não quero ser invasiva, mas você sabe que isso é um assunto bem sério.

— Não rolou nada. Só uns amassos mesmo.

— Bom… Menos mal. Só precisamos enfiar isso na cabeça do Tony agora.

— Ele deve estar me odiando agora. E ao Peter também.

— Você sabe que ele não odeia você. Ao Peter talvez… Mas vamos resolver essa situação com calma, tá bem?

— Não sei o que fazer, Pepper. Não tenho coragem de olhar nos olhos dele. Não depois do que eu disse.

— Vamos dar tempo ao tempo. Deixa essa noite passar e amanhã, depois que todos já tivermos dormido e ele estiver mais calmo, nós vemos o que podemos fazer.

Suspirei, tensa, e acenei afirmativamente com a cabeça.

— Vai descer pra jantar? – Ela perguntou.

— Não… Não tô com fome.

Pepper apenas concordou e pousou a mão sobre meu ombro levemente, tentando me confortar. Sem insistir ou dizer mais nada, ela saiu do quarto e fechou a porta.

Pepper era doce e sensata, e seu jeito me lembrava o de minha mãe. Eu era muito grata por tê-la por perto para apaziguar as guerras ocorrentes entre Tony e eu, pois sem ela as coisas provavelmente estariam uns 300% piores.

Fiquei um bom tempo pensando na confusão em que havia me metido e tentando arranjar alguma solução, mas minha mente se resumia em um grande emaranhado de problemas, onde soluções pareciam não achar espaço.

Após o que provavelmente foram horas, acabei dormindo. Sem jantar, sem tomar banho, e o pior, sem encontrar um modo de resolver aquilo tudo. Acordei no dia seguinte com uma dor de cabeça terrível. Pelo menos era sábado.

Tomei um banho quente e vesti roupas limpas. Embora estivesse com fome, não tinha apetite e nem vontade alguma de sair daquele quarto. Sabendo que não poderia evitar Tony para sempre, decidi descer as escadas para tomar café.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora