Capítulo 22

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Olhei para Peter e disse, incrédula:

­— Como é que é? Nem pensar! Eu não sou nenhuma donzela em perigo! E você não tinha que...

Antes que eu pudesse continuar, Peter agarrou-me pela cintura e me vi subindo cerca de 5 metros. Ele estava lançando suas teias e me carregando, e eu nunca me senti tão prepotente em minha vida. Soltei um grito de espanto.

Algumas quadras depois, descemos e pude, enfim, sentir o chão sob meus pés. Olhei para Peter, zangada, e dei-lhe um soco no braço.

— Ai! Por que fez isso? – Perguntou ele, em tom de protesto.

Sem responder, saí dali pisando duro, com raiva. Ele precisava ter se intrometido? Eu tinha tudo sob controle.

Quando cheguei na empresa, entrei em minha sala e desejei, mais do que nunca, o silêncio. Esperava não ser chamada por ninguém hoje.

Tirei meu blazer e o pendurei. Liguei meu computador e massageei as têmporas enquanto ele processava. Subi a manga de minha camisa. Meu pulso estava com uma marca roxa onde Luke havia segurado. Suspirei e baixei a manga.

Estava cuidando de uma documentação, quando ouvi um barulho na janela. Alguém estava batendo. Olhei na direção da janela e vi Peter pendurado por uma teia, ainda com seu traje de Homem Aranha.

— Helena? – Aquela voz. Era a voz que eu menos queria ouvir naquele momento.

— Que é, Peter?

— Abre a janela...

Revirei os olhos. Pensei em ignorar, mas sabia que ele não sairia dali tão cedo. Abri a janela e deixei que entrasse. Ele entrou rapidamente e tirou sua máscara, passando a mão pelos cabelos. Eu queria morrer naquele momento.

— Você tá legal? – Perguntou ele, fechando a janela atrás de si.

— Tô ótima. Nunca estive melhor. Agora sai.

— M-mas eu...

— Sai!

Ele olhou para mim com tristeza. Sem dizer mais nada, foi até a porta e saiu da sala.

Levantei-me e fui até a janela em busca de ar. Apoiei-me e respirei fundo, observando os primeiros pingos de chuva que começavam a cair e tentando manter a calma.

Coloquei na cabeça que não havia tempo para ficar remoendo essa história e voltei ao trabalho. Ao terminar de separar a documentação, fui levá-la até a sala de Tony para que ele assinasse.

— Com licença, Sr. Stark. – Chamei.

— Entre, Srta. Jones.

— Trouxe a documentação para o senhor assinar.

Estiquei o braço para entregar-lhe os papéis. Ele deve ter visto o hematoma, porque olhou para mim surpreso e perguntou:

— O que aconteceu com seu braço?

— Eu trombei com o armário. – Menti.

Ele olhou em meus olhos por um instante, ergueu as sobrancelhas e disse:

— Mais cuidado, Srta. Jones.

— Sim, senhor. Com licença.

Sai da sala e suspirei. O dia estava sendo péssimo.

Trabalhei o resto do dia com o ardente desejo de chegar em casa e dormir. Sim, dormir era minha fuga dos problemas. Enquanto eu dormia, tudo o que me incomodava parecia não me atingir, pelo menos até eu acordar.

Ao fim do dia, peguei minhas coisas e fui para casa. Não falei muito com minha mãe. Disse que estava cansada e que dormiria mas cedo. Perguntei a ela sobre David, mas não obtive resposta. Não insisti. Apenas jantei, tomei banho, vesti um suéter largo de mangas longas e um short e me tranquei no quarto.

Deitei, mas não conseguia dormir. Minha mente barulhenta não me permitia ter sossego, ecoando vozes em minha cabeça. Desisti de tentar dormir e sentei em minha escrivaninha para desenhar.

Estava tentando alguns riscos para ver se saía algo, quando uma batida em minha janela me assustou. Paralisei. Em minha janela? Mas meu quarto era no segundo andar! Como alguém podia estar batendo na janela?

Virei-me devagar e, ao ver quem estava por trás do vidro, xinguei baixo. Fui até a janela e a abri. O uniforme vermelho e azul refletia a luz fraca da lua que aparecia vagamente em meio às nuvens escuras.

— O que você tá fazendo aqui, garoto?

— Posso entrar? Tá frio aqui fora.

Antes mesmo que eu respondesse, ele pulou habilmente minha janela e entrou em meu quarto. Cruzei os braços e o encarei, em silêncio.

Peter tirou sua máscara, cansado, e a jogou em minha cama.

— Você é maluco? O que veio fazer aqui? – Perguntei, brava.

— Ver se você tá bem.

— Tô ótima. Agora por favor, vai embora.

­— Ainda não entendi por que você tá tão brava.

— Por que eu tô tão brava? Por que... Por que você tinha que se intrometer? Aquilo era problema meu! Eu tinha tudo sob controle!

— Não, você não tinha! Helena, aquele cara tava machucando você!

­— Não, não tava! – Instintivamente segurei meu pulso machucado. Péssima ideia. Peter percebeu.

— Deixa eu ver. – Disse ele.

— Não.

Ele ergueu as sobrancelhas, sério. Pegou delicadamente minha mão e puxou a manga de meu suéter. Ao ver a marca deixada, olhou em meus olhos.

— Quem era aquele cara?

— Não é da sua conta.

— Helena...

Olhei para ele, que exibia um semblante preocupado, sem tirar seus olhos dos meus. Desviei meu olhar para o chão ao meu lado, para não olhar em seus olhos e falei, contra minha vontade:

— Meu ex.

Peter lançou-me um olhar triste, como se não soubesse o que dizer.

— Para de me olhar assim. Eu tô com uma marca roxa, não perdi a mão.

— Para de querer bancar a heroína solitária, Helena! Você não precisa ser forte o tempo todo. Ninguém é!

— Você não me conhece, Parker. Não pode me dizer o que fazer!

— Eu tô tentando te ajudar!

— Se quer me ajudar, então...

— Helena? – Ouvi da porta. Era minha mãe.

Parei, em pânico. Olhei para Peter, que olhava para mim com o mesmo desespero. Sem tempo para pensar, empurrei-o para dentro de meu guarda-roupa e fechei a porta.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora