Capítulo 70

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— Eu arrisquei a minha vida por você, estou tentando te poupar da preocupação que o David tá causando e você me chama de covarde? Tudo o que eu fiz até agora foi cuidar de você e te proteger! – Tony esbravejou.

— Isso não é problema meu! Eu não pedi pra você fazer nada disso! Se é tanto sacrifício pra você, por que ainda cuida de mim?

— PORQUE EU NÃO POSSO TE PERDER! EU JÁ PERDI A SUA MÃE E NÃO POSSO PERDER VOCÊ! – Ele gritou, e em seguida abaixou a cabeça e murmurou, com a voz trêmula – Não posso...

Eu nunca havia visto Tony daquele jeito. Ele estava vermelho e seu corpo tremia incessantemente. Sem dizer mais nada, ele saiu apressado da sala, e um esmagador sentimento de culpa se apossou de mim.

— O que foi que eu fiz? – Murmurei, com o rosto entre as mãos.

Após alguns instantes, levantei-me e voltei para minha sala, sentindo-me extremamente mal por tudo o que havia dito para Tony. É claro que havia sido da boca pra fora, mas na hora da raiva não existe filtro.

Por mais orgulhosa que eu fosse, e por mais difícil que isso pudesse ser para mim, fui atrás de Tony para pedir desculpas. Comecei a procurar por ele por todas as salas, mas não o encontrava em lugar algum. Pepper apareceu andando apressada por um corredor com o celular na mão.

— Pepper, voc...

— Você sabe do Tony? – Ela me cortou, nervosa.

— Eu ia te perguntar isso agora. Eu...

— Ele saiu daqui parecendo nervoso, não atende o celular.

— É tudo culpa minha. – Falei, sentindo remorso.

— O quê? Por quê?

— Nós tivemos uma briga feia agora...

Pepper suspirou, como se não soubesse o que dizer.

— Eu vou atrás dele. – Falei, decidida.

— Helena, ele saiu com a armadura. Já deve estar muito longe daqui.

— Não importa... Eu causei isso.

— Helena... – Ela tentou me parar, mas não dei ouvidos.

Desci as escadas e saí do prédio buscando por qualquer vestígio de Tony. Eu não fazia a mínima ideia de onde ele poderia estar, e isso só me deixava mais nervosa.

Passei horas procurando por Tony, e nada de encontrá-lo. E foi aí que me passou pela cabeça um lugar extremamente óbvio. Sua oficina. Saí correndo rua abaixo e, para a minha sorte, um ônibus vinha vindo. Entrei e torci para que ele estivesse lá.

Desci no ponto mais próximo da casa (que ainda era bem distante) e, já cansada e sem esperanças, fui a passos lentos pelo caminho deserto até a luxuosa mansão Stark.

Entrei e procurei por Tony na sala, cozinha, subi para os quartos. Nada. Tomei coragem e fui, então, até sua oficina. Bingo! Lá estava ele, cabeça baixa, mexendo em alguma de suas bagunças de peças, sistemas e tecnologias.

— Tony... – Murmurei, sem coragem de falar mais alto.

Ele soltou a ferramenta que segurava e suspirou, visivelmente incomodado em ter sido encontrado.

— Você não tem permissão pra descer aqui. – Disse ele, ainda de costas.

— Eu só... – Suspirei – Me desculpa. Nada do que disse foi pra valer. Você é a pessoa mais corajosa que eu já conheci, e eu te admiro e me inspiro muito em você.

Ele permaneceu de costas, sem pronunciar uma palavra sequer. Já sem saber mais o que dizer, subi as escadas e fui para o meu quarto, me sentindo a pior pessoa do mundo.

Algum tempo depois, ouvi o carro de Pepper. Quem sabe com ela em casa as coisas não ficariam um pouco mais fáceis. Sentei em minha cama e respirei fundo, sentindo vergonha de minha atitude impulsiva.

Meu celular começou a tocar e vi o nome de Peter na tela. Atendi.

— Oi, Peter...

— Lena? Tá tudo bem?

— Não. Briguei com Tony e agora ele me odeia.

— Ah, qual é. Você sabe que ele não odeia você.

— Se você visse a reação dele...

— Você tá na sua casa?

— Tô, por quê?

— Logo tô aí.

— Quê? Peter, não...

Ele desligou. Para quem tinha medo até de respirar perto de Tony, Peter pareceu decidido a vir me dar apoio. No fundo eu apreciava isso. Era bom sentir sua preocupação comigo.

Ainda estava pensando no que dizer para Tony e em como me desculpar, quando ouvi uma batidinha na janela. Ao me virar, vi o uniforme já conhecido brilhando sob a luz dos últimos raios de sol. A noite cairia logo.

Levantei-me e fui abrir a janela. Peter entrou habilmente e tirou sua máscara, abraçando-me fortemente. Encostei o rosto em seu peito e suspirei, sem saber o que fazer.

— Vai ficar tudo bem. – Sussurrou Peter, dando um beijinho no topo de minha cabeça.

— Eu já não sei.

— Vai sim. Tony é bem temperamental, mas ele te ama. – Ele olhou em volta – Esse quarto é seu?

— Sim.

— É enorme! Você quem quis ele assim? É a sua cara.

— Tony fez pra mim. Eu não fazia nem ideia de que teria um quarto meu... Achei que ficaria eternamente num quarto de hóspedes ou sei lá.

— Ah, tá vendo. Ele fez um quarto pra você e ainda se preocupou em deixar com a sua cara. E nós estamos falando do Tony! Ainda duvida que ele te ama?

— Eu sei que ele me ama, mas eu falei coisas horríveis pra ele.

— Não deve ter sido tão ruim.

— Eu chamei ele de covarde.

— Ok, foi bem ruim. Me conta isso direito.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora