— Você é um herói, Peter. É responsável pela segurança de milhares de pessoas, e eu não quero ser uma distração pra você.
— Você não vai ser uma distração. Qual é, Lena? Eu tenho dezessete anos, não dez. Já sou grandinho o suficiente pra saber separar as coisas.
Olhei para ele, que sorriu docemente e pegou minha mão.
— Eu posso ser seu herói, Lena. Você só precisa deixar.
— Eu não preciso de um herói. Não é isso que eu quero.
— O que é que você quer então?
Levantei-me da cama e fui até a janela, pois sabia que não conseguiria falar olhando em seus olhos. Suspirei.
— Não sei... Acho que eu quero poder confiar em alguém... Ter alguém que me entenda. Alguém que esteja disposto a me aguentar quando eu estiver de mau humor e que não desista de mim depois de uma briga, independentemente da situação... Alguém que me conheça e que esteja disposto a estar comigo pelo que eu sou.
— Alguém que te conheça o suficiente pra saber que você gosta de biscoitos com leite e milk-shake de morango? Ou que você tem esse jeito durão, mas no fundo você também gosta de ser mimada e receber carinho? Que você não gosta que mexam no seu cabelo? Ou talvez que você é bem teimosa e demora demais pra admitir seus sentimentos?
Senti sua respiração próxima de meu pescoço e fechei os olhos. Peter pegou minha mão e me virou de frente para ele. Olhei em seus olhos, sentindo meu coração bater forte.
— Se eu não desisti de você durante todo esse tempo, com todos os foras que você me deu, o que te faz pensar que eu desistiria agora?
Ele olhou para nossas mãos, entrelaçou nossos dedos e voltou a olhar em meus olhos. Seu olhar doce e seu sorriso sem jeito me deixavam sem rumo.
— Você é maluco. O que viu em mim?
— Bom, por onde eu começo? Seus olhos castanhos penetrantes? Ou seu sorriso, que é raro de acontecer, mas é lindo? Seu perfume, seu cabelo, seu jeitinho marrento, o jeito como você se preocupa comigo... Posso continuar falando até amanhã.
— Acho que já entendi. – Respondi, num sorriso confuso – Você realmente reparou em tudo isso em mim?
— Acha que conheço você o suficiente? Ou ainda não sei nada sobre você?
— Acho que você me conhece melhor que eu mesma.
— Mas tem uma coisa que eu ainda não sei sobre você, e que eu realmente quero saber.
— O quê?
— Bom, eu já falei sobre o que eu sinto por você. E você, Helena? O que você sente por mim?
Olhei em seus olhos e hesitei por um instante. Eu ainda tinha medo de me abrir, embora confiasse em Peter. Mas afinal, o que eu sentia por ele? Eu realmente o amava?
Eu realmente amava o garoto que me tirava do sério diariamente no trabalho? Que invadia meu quarto e insistia em me proteger? Que nunca tirou uma nota baixa e parava o mundo por ter lição de casa? O garoto que me deixava totalmente vulnerável apenas com um sorriso, que precisava urgentemente aprender a entrar pela porta ao invés das janelas, e que conseguia ser fofo e sexy ao mesmo tempo, provavelmente sem nem se dar conta? É, pensando assim, não havia como negar. Eu estava apaixonada por Peter. E agora?, pensei.
— Eu...
Ele olhava para mim, ansiando por uma resposta. Suspirei e disse, talvez um pouco mais nervosa do que gostaria:
— Tá bem, você venceu. Eu gosto de você, Peter. Eu tô realmente afim de você.
O garoto fitou-me por alguns instantes com um leve sorriso, e eu abaixei a cabeça, evitando olhar para ele. Peter colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e ergueu meu rosto até que meus olhos encontrassem os seus.
Ele aproximou seu rosto do meu, e eu já sabia o que estava por vir. Fechei os olhos e senti seus lábios roçarem os meus. Era loucura fazer isso de novo, mas eu não pude evitar. O desejo de beijar Peter era intenso demais para ser ignorado.
Peter passou o braço ao redor de minha cintura e puxou-me delicadamente para si, colando meu corpo ao seu com cuidado para não piorar seus ferimentos. Passei os braços ao redor de seu pescoço, acariciando sua nuca. Embora jamais fosse admitir em alta voz, desejei que aquele instante pudesse durar para sempre.
Ao separar seus lábios dos meus, ele abraçou-me firmemente, enterrando o rosto em meu pescoço, o que me deixou arrepiada. Retribuí o abraço, não querendo mais soltá-lo, mas não consegui manter a calma. Apoiando a testa em seu ombro, sussurrei:
— Nós não podemos continuar com isso.
Peter soltou-me imediatamente e olhou em meus olhos, confuso.
— O quê? Como assim?
— Peter... – Comecei, segurando o choro – Não dá! Se alguma coisa acontecer com você eu nunca vou me perdoar.
— Não, por favor. Fala pra mim que você não vai fugir de novo. – Disse ele. A dor em sua voz era quase palpável.
— Eu não quero perder você...
— Eu é que não aguento mais te perder, Lena! Toda vez que eu acho que finalmente vou ter você pra mim, você me deixa! Por favor, para de fugir!
Olhei em seus olhos e, numa atitude desesperada, beijei-o intensamente, pressionando-o contra mim. Eu não disse nada, mas aquele seria nosso último beijo. Eu estava decidida a não deixar que meus sentimentos atrapalhassem sua vida.
Eu bem sabia que nem sempre aquilo que queremos é o que realmente precisamos. E o que Peter realmente não precisava naquele momento era uma distração. Eu o amava, mas não seria egoísta a ponto de pô-lo em risco por minha causa.
Afastei meus lábios dos seus, recuando alguns passos. Peter fitou-me com receio, até que pedi:
— E-eu tô confusa... Preciso pôr a cabeça no lugar, Peter.
Ele suspirou, visivelmente frustrado, e respondeu friamente:
— Me avisa quando decidir o que quer. Vou estar no meu quarto. Ou enfrentando algum idiota armado.
Peter vestiu sua camiseta e saiu do quarto, passando a mão pelos cabelos. Fechei a porta e respirei fundo, tentando me convencer de que havia sido o melhor a fazer. Dormi chorando naquela noite, começando a me questionar se um dia as coisas iriam dar certo.
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I (don't) Need a Hero!
RomanceImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...