Capítulo 37

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Eu encarava Tony, confusa. Não entendia o rumo que aquela conversa estava tomando. Ele respirou fundo, massageou as têmporas e disse, sem olhar para mim:

— Quando entrei naquela sala, eu sinceramente não sabia o que esperar. Sua mãe olhou pra mim séria, e falou pra eu me sentar. Então, ela começou a falar sobre você.

— Sobre mim? – Perguntei.

— Sobre o quanto você sempre foi forte e determinada, desde pequena. Que era teimosa, mas tinha um coração de ouro, e que ela sempre apreciou muito isso em você.

Tony parecia extremamente desconfortável ao dizer tudo aquilo. Eu quase podia ouvir minha mãe dizendo aquelas palavras. Meus olhos encheram-se de lágrimas, e eu não consegui olhar para ele naquele momento. Fechei meus olhos, nervosa.

— Eu não conseguia entender exatamente onde ela queria chegar com isso. Então ela... – Ele hesitou, como se recuperasse o fôlego – Ela me fez um pedido. Ela me pediu para que eu cuidasse de você. Pra que me certificasse de que você fizesse sempre a coisa certa.

Levantei a cabeça rapidamente e voltei meu olhar para ele, com uma lágrima escorrendo por minha bochecha.

— O quê? – Perguntei incrédula e um tanto confusa.

Como minha mãe poderia pedir algo assim para ele? Tony Stark era um homem de negócios, um bilionário famoso que só se importava consigo mesmo. Como ela poderia confiar nele para “cuidar” de mim? Embora não houvesse parentes próximos, ela poderia muito bem pedir para a mãe de Sofia ou de Charlie, ou para a vizinha, ou para Ed, meu antigo chefe... PARA QUALQUER UM! Mas por que ele?

Levantei-me e tentei indagar o que ele me dizia, embora conseguisse apenas balbuciar algumas palavras sem sentido.

— Como... Como assim ela... O que... Por que...

— Eu entendo que esteja confusa. Tudo aconteceu muito rápido e...

— Você entende? – Interrompi-o, gritando em meio às lágrimas – Não, você não entende! Eu perdi a única pessoa que eu tinha! A única razão pra levantar daquela droga daquela cama e aguentar dia após dia naquela escola cheia de pessoas estúpidas, correr pra pegar uma droga de ônibus lotado pra ficar trabalhando a tarde toda, chegar em casa cansada e sorrir, dizendo estar tudo bem! Eu perdi a única razão pra continuar lutando! Você não entende! Você é um playboy podre de rico e egoísta, que só liga pra si próprio e que não tá nem aí pra dor dos outros!

— Já acabou? – Perguntou ele, pacientemente.

— Já. – Choraminguei.

— Escuta – Começou ele, suspirando – Eu também não entendi o porquê da sua mãe ter confiado você a mim, tá legal? Eu não fui correndo pra ela pedir pra cuidar de você. Mas, por algum motivo, foi pra mim que ela pediu, e eu vou fazer isso por ela.

— Como vai fazer isso? Você nunca cuidou nem de si mesmo. Tem a Pepper pra te lembrar que precisa escovar os dentes. – Falei, cínica.

Ele respirou fundo, parecendo engolir a resposta que estava prestes a dar.

— Se vamos ser eu e você agora, sugiro que se acalme. Eu já sou difícil o bastante de se lidar, e não preciso de mais uma cabeça dura naquela casa. – Falou, sério.

— Espera aí. Naquela casa?

— Eu até diria mansão, mas soaria um tanto soberbo. – Ele deu de ombros.

— Eu não vou pra sua casa.

— É mesmo? E vai ficar aonde?

— Na minha casa.

— Sozinha?

— Sei me virar melhor do que você.

— Será que dá pra parar com isso? – Tony pareceu se irritar.

— ...Desculpa.

— Essa situação está sendo tão estranha pra mim quanto pra você.

Soltei um suspiro debochado e revirei os olhos. Eu já não sabia o que pensar. Já não sabia mais nada.

— Bom, nós... Nós temos um problema. – Disse ele, massageando as têmporas.

— Que seria...?

— Eu não tenho um quarto onde você possa ficar.

— Você tem uma casa enorme e não tem um quarto de hóspedes?

— Eu não gosto de hóspedes.

Ergui as sobrancelhas, incapaz de responder.

— Não esquenta. – Falei, enfim – Eu me viro.

—Não posso largar você em qualquer canto. Onde iria passar a noite?

— Na minha casa.

— Nem pensar. Não vou deixar você ficar sozinha naquela casa. Não é seguro nem saudável pra você. Eu pago a diária de um hotel.

— Você não quer me deixar sozinha na minha casa, mas quer me deixar sozinha num hotel? Sério? Qual a diferença?

Tony pareceu não ter resposta.

— Não se preocupa. Eu vou ficar legal.

— Não, Helena.

Foi a primeira vez que ele me chamou pelo meu primeiro nome.

— Você não tem alguma amiga onde possa ficar? – Perguntou ele.

— Minha amiga tá viajando e meu amigo já tá com hóspedes em casa.

Tony apoiou o queixo sobre uma mão, pensativo.

Lembrei-me então do que Peter havia dito mais cedo. "Se você precisar, fica em casa por um tempo." Não tinha certeza se deveria ou não aceitar o convite, embora não pudesse me dar ao luxo de escolher. Com uma certeza quase que absoluta de que iria me arrepender, falei:

— Bom... Tem um lugar.

I (don't) Need a Hero!Onde histórias criam vida. Descubra agora