Peter parecia constrangido, o rosto vermelho. Segurando a risada, limitei-me a sorrir e dizer:
— Tá ótimo assim.
Ele sorriu levemente e encheu os copos com suco. Novamente tive vontade de rir, e tive que respirar fundo. Começamos a comer e eu logo esqueci dessa história.
— Seu ex não te incomodou mais, né? – Perguntou Peter, do nada.
— Não. Por quê?
— Porque eu me preocupo em saber se você tá bem.
Olhei para ele sem saber o que responder. Dei um meio sorriso, sem jeito. Meu celular começou a tocar. Olhei para a tela e estranhei. Era Tony.
— Desculpa. Eu preciso atender. – Falei, saindo da mesa – Tira os biscoitos do forno. Já deu o horário.
Peter sorriu, indicando não haver problema. Fui até o quarto e atendi.
— Alô?
— Helena, sou eu. Quero que preste atenção no que eu vou te dizer agora.
— Estou ouvindo.
— Um novo ataque começou na região do Queens. Eu estou indo pra lá. Não deixe o Peter sair de casa, você me entendeu?
— Queens? Mas é onde eu tô.
— Exatamente.
— Mas o senhor tá indo sozinho? Não pode ir sozinho! Você vai...
— Eu não tô sozinho. Sei o que tô fazendo. Agora faça o que mandei e garanta que o Peter não saia de casa essa noite. E não saia você também.
Suspirei, preocupada.
— Sim, senhor.
Tony desligou. Estava saindo do quarto, quando pensei em May. Fora de casa, correndo perigo com duas amigas. Se eu falasse algo para Peter, ele com certeza ignoraria as ordens de Tony e sairia em busca da tia. Mandei uma mensagem para Tony pedindo para que tomasse conta de May, pois ela estava fora. Ele saberia o que fazer.
Voltei para a cozinha, tentando não transparecer minha preocupação.
— Tá tudo bem? – Perguntou Peter.
— Sim. Era... Uma amiga minha. Perguntou a matéria da prova e eu fui pegar do caderno. – Menti.
— Entendi.
Continuamos comendo e conversando até já não aguentarmos mais ver pizza pela frente. Terminando de comer, colocamos os pratos na pia e fomos até a sala. Peter pegou o controle para ligar a televisão, quando imaginei que todos os noticiários comentariam sobre o ataque no Queens, e percebi que teria que agir rápido.
— Sabe uma coisa que tenho curiosidade? – Perguntei, ainda sem saber qual seria essa coisa.
— O quê? – Ele abaixou o controle. Eu havia agido bem.
— Ahn... Ver fotos suas de quando era criança. É. Isso. Tenho curiosidade em saber como era o bebê aranha. – Brinquei, mantendo o ar mais despreocupado que consegui.
Ele franziu o cenho, abrindo um sorriso curioso. Parecia levemente confuso.
— Bom, eu posso mostrar algumas fotos, se quiser. – Disse ele.
Fiz que sim com a cabeça e sorri, sentindo-me uma boba.
— Mas só se você me mostrar seus desenhos.
Meu sorriso desapareceu. Eu não gostava de mostrar meus desenhos, tinha vergonha. Mas era isso ou ter a televisão ligada. E no fundo, bem lá no fundo, eu sentia mesmo vontade de ver fotos de Peter quando era pequeno.
— ... Feito. Vou pegar minha pasta. – Falei, a contragosto.
Peguei minha pasta, nervosa, e fui até a sala. Não encontrei Peter e estranhei. Comecei a pensar na possibilidade de ele ter saído e senti um arrepio na espinha.
— Peter? – Chamei, tensa.
— Aqui no quarto. – Ouvi-o dizer.
Respirei aliviada e fui até seu quarto. Ele estava sentado no chão com uma caixa cheia de álbuns e fotos soltas no colo. Sentei ao seu lado e coloquei a pasta atrás de mim, na esperança de que ele se esquecesse dos desenhos.
— Preparado pra ver a criança mais linda de todas? – Perguntou ele.
— Só espero conseguir dormir à noite. – Provoquei.
Ele riu e me empurrou levemente com o ombro. Ri também.
— Aqui eu tinha dois anos. – Disse, entregando-me uma foto.
Olhei para a imagem e, apesar de não morrer de amores por crianças, não pude deixar de sorrir. Ele sempre teve um sorriso adorável e olhos meiguinhos. Percebi que estava reparando demais no garoto e devolvi a foto, confusa.
— Tem essa também. Aqui eu devia ter uns... seis meses. – Disse ele, fazendo biquinho enquanto pensava.
Observava cada foto com atenção e até mesmo certa ternura. Peter havia sido uma criança fofinha, e isso refletia ainda nos dias de hoje. Ele ainda mantinha seu jeito inocente e doce, a pureza de criança ainda era visível em seu olhar.
O garoto contava-me as histórias por trás de cada foto, e eu me divertia com cada uma delas. No meio das fotos, Peter achou uma que o fez parar por um instante. Pude ouvir um suspiro escapar de seus lábios.
— E esses eram meus pais. – Disse ele.
Peguei a imagem com delicadeza. O casal estava em frente a um jardim, ambos encostados numa cerca. O rapaz mostrava um sorriso aberto, a postura impecável. A mulher estava grávida, e mantinha os lábios fechados em um sorriso discreto, o olhar penetrante. Pude reconhecer os traços de Peter ali. O sorriso do pai, o olhar da mãe. Uma harmonia perfeita do rosto de ambos.
— Você tem os olhos dela. – Falei. Ele sorriu.
— May diz a mesma coisa.
— Acho que alguém precisa de biscoitos. – Disse eu, levantando-me – Vou pegar alguns pra nós.
Voltei instantes depois com um pratinho cheio de biscoitos. O cheirinho me trazia boas recordações. Começamos a comer em silêncio, e nenhum dos dois se atrevia a dizer algo.
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I (don't) Need a Hero!
RomansImagine como seria perder o emprego, encontrar o bilionário Tony Stark conversando amigavelmente com sua mãe e descobrir que você vai trabalhar com ele, tudo no mesmo dia. São essas e outras situações inimagináveis que ocorrem no dia a dia de Helena...